Por: André | 27 Fevereiro 2015
Os xaverianos decidiram construir um oásis de espiritualidade na casa em que foram assassinadas, em setembro do ano passado, as irmãs Lúcia, Olga e Bernadetta.
A reportagem é de Luciano Zanardini e publicada no sítio Vatican Insider, 25-02-2015. A tradução é de André Langer.
De cenário de morte a lugar de oração. O sangue dos mártires, como disse o Papa Francisco, rega a Igreja. E em Bujumbura, onde foram assassinadas as três irmãs xaverianas em setembro passado, surgirá uma casa de espiritualidade, um oásis de paz. Na Paróquia de Kamenge, as irmãs Lúcia, Bernadetta Boggian e Olga Raschietti se entregaram até a morte.
O projeto para transformar a casa em lugar de oração, silêncio e memória das irmãs assassinadas e de todos os mártires que deram a vida pela paz nos países dos Grandes Lagos ainda não começou: os herdeiros espirituais de Guido Maria Conforti esperam ajuda. Enquanto isso, a casa é cenário de visitas de irmãs e religiosos que querem demonstrar sua proximidade espiritual com os xaverianos. De acordo com as intenções dos missionários, que estão presentes no Burundi desde a década de 1970, a Casa deverá converter-se em um lugar simples e belo ao mesmo tempo: pretende ser um coração que segue pulsando e transmitindo vida. As irmãs Lúcia, Olga e Bernadetta não teriam aceitado, evidentemente, viver na casa do horror.
As investigações oficiais sobre a morte das missionárias foram engavetadas e não convenceram a ninguém. A imediata prisão de Christian Claude Buttoyi, que asumiu o homicídio dizendo que havia matado as irmãs por ressentimento pessoal, não é suficiente para acalmar a sede de verdade e justiça. A impressão que se tem é que após o homicídio há situações mais complexas, relacionadas inclusive com pessoas vinculadas aos Serviços Secretos. E também não se pode excluir, até prova em contrário, que a execução das irmãs esteja relacionada com ritos satânicos. Em um contexto de tons tão obscuros, parece cada vez mais difícil chegar à verdade sobre as verdadeiras razões do assassinato das religiosas. As últimas notícias fazem alusão ao papel do ex-chefe do Serviço Secreto na história, o general Adolphe Nshimirimana, e à descoberta por parte das religiosas de uma rede de tráfico de remédios e de minerais preciosos.
A situação social no Burundi não é das melhores do mundo. Os 10 xaverianos (dois mexicanos, um congolês, um burundês e seis italianos) que permaneceram em Bujumbura apesar dos acontecimentos seguem trabalhando para semear a paz. E já não há mais irmãs no país. A polícia garante a proteção, mas é difícil saber de quem se proteger. Até agora, não se sabe as razões que levaram ao assassinato das religiosas, e parece que não há perigos iminentes para os religiosos, assim como não havia sinais particulares que fizessem pensar em ações contra religiosos antes do assassinato das missionárias. Os agentes estrangeiros vivem na maior insegurança, porque este período pré-eleitoral não oferece garantias. O panorama, em vistas das próximas eleições presidenciais de maio-junho, está ficando sensivelmente tenso. A maior parte da população pede ao atual presidente (Nkurunziza) para que não concorra a um terceiro mandato; muitos o acusam de encobrir os autores de diferentes massacres e outros crimes de caráter político.
A Conferência dos Bispos do Burundi foi muito clara quando disse que a candidatura de Nkurunziza era inaceitável. Além disso, segundo os observadores internacionais, o novo mandato poderia aumentar o perigo de um retorno às tensões do passado, às guerras fratricidas entre os Hutu e os Tutsi. Os religiosos de Bujumbura têm uma única opção: seguir rezando e invocando a paz.
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Burundi. Do sangue à casa de espiritualidade - Instituto Humanitas Unisinos - IHU