O telefonema de Bertone sobre a herança dos salesianos

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19 Mai 2014

Por duas vezes, o cardeal Tarcisio Bertone foi convocado à procuradoria de Roma: em abril de 2013 e no dia 22 de janeiro passado. Os promotores ouviram suas informações sumárias no âmbito da investigação de uma suposta fraude (Bertone estaria entre os enganados) relativa à herança dos salesianos, que acabou no centro de uma disputa que já dura 24 anos.

A reportagem é de Valeria Pacelli, publicada no jornal Il Fatto Quotidiano, 16-05-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

A história começa em 1990, quando o marquês Gerini, senador democrata-cristão, deixou obras de arte, terrenos e palácios para a Fundação – sob o controle da Congregação Salesiana – que leva seu nome. Os sobrinhos do marquês, no entanto, se opõem e impugnam o testamento.

Para representar os herdeiros, chegou em 2007 Carlo Moisè Silvera (investigado em Roma por fraude), de 68 anos, de origem síria, que adquire os direitos da herança. No dia 8 de junho de 2007, chegou-se ao primeiro acordo em sede civil, e, para a conclusão de toda controvérsia, a Fundação pagou 16 milhões: cinco deles destinados aos sobrinhos do nobre, outros 11 e meio como parcela para o próprio Silvera que os representa.

Quem defendeu e promoveu a transação sobre a divisão da herança foi o próprio Bertone, que, depois, explicou aos promotores romanos que fora enganado. De fato, pouco tempo se passou, e os salesianos denunciaram Silvera e outros por uma fraude. Bertone, quando foi chamado à procuradoria pela segunda vez, acrescentou novos detalhes.

No dia 22 de janeiro passado, ele explicou aos promotores que havia telefonado para o cardeal Franc Rodé, prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada, pedindo-lhe para ceder ao acordo sobre a herança de 2007. "Tendo reconstruído os fatos daquele período – afirma Bertone –, eu me lembrei de ter telefonado ao cardeal Rodé em maio de 2007. O telefonema se destinava a insistir (...) para a concessão da autorização para a estipulação da transação. A Congregação para os Institutos de Vida Consagrada tinha perplexidades, de fato (…). A Congregação sempre é muito prudente quando se trata do desembolso de somas tão elevadas por parte de institutos individuais. A autorização devia ser emitida à Fundação Gerini, e é óbvio que eu estava convencido de que o desembolso não superaria os 25 milhões de euros. Eu intervim com o telefonema, porque, naquele período, eu estava sob pressão do grupo Sodi, Zanfagna e Gherro (...)".

Renato Zanfagna é um advogado de Milão, que também é investigado em Roma por fraude com Silvera; o padre Manlio Sodi é o presidente da Pontifícia Academia de Teologia. Ouvido pelos promotores romanos, ele contou sobre algumas promessas em dinheiro que lhe haviam sido feitas. Como uma "soma de 400 mil euros – explica aos promotores – que tinha sido prometida por Silvera a mim, Grotti e Zocchi. Tal soma devia ser dividida em partes iguais".

Grotti é "ex-administrador delegado da Eni envolvido em corrupções e subornos", e Zocchi "era o chefe da secretaria do ministro Scajola". Ele explicou que teve cinco encontros com Bertone "sobre esse tema" e depois se referiu a uma compensação que devia ter recebido: "A minha compensação – afirma – se devia apenas pelo fato de eu ter sido intermediário com Bertone. Este devia convencer Mazzali (o padre Giovanni Mazzali, ecônomo dos salesianos) e os outros a encerrar esse assunto".

E especifica: "Eu nunca referi nem a Bertone nem aos outros que tinha sido combinada uma compensação para mim. A circunstância era intuitiva, dado o contexto". "Para mim – conclui – Silvera disse que, se o assunto se resolvesse bem, ele faria uma oferta também ao Santo Padre".

E assim, entre somas de dinheiro prometidas e acordes sobre uma mega-herança, a investigação da Procuradoria de Roma, depois de anos, chega ao fim. E agora o juiz de instrução decidirá se irá arquivar ou iniciar um processo sobre esse confronto pela herança Gerini que dura 24 anos.