A oração solitária de Francisco. Em Cracóvia, sem carro blindado

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28 Julho 2016

Perto do anoitecer, como sempre, na véspera de uma viagem, Francisco foi rezar diante da Salus Populi Romani, na Basílica de Santa Maria Maior, o ícone de Nossa Senhora, cara especialmente aos missionários jesuítas. Ele rezou longamente, sozinho, em silêncio, para "pedir a bênção do Senhor e da Sua Mãe", antes de chegar, na tarde dessa quarta-feira, em Cracóvia e ir ao encontro dos jovens da Jornada Mundial da Juventude.

A reportagem é de Gian Guido Vecchi, publicada no jornal Corriere della Sera, 27-07-2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Nessa terça-feira de manhã, foi o padre Lombardi que deu voz à "dor e ao horror" do papa diante dessa "violência absurda", à "condenação mais radical de toda forma de ódio e a oração pelas pessoas atingidas", um ato ainda mais "horrível" porque foi cometido "em uma igreja, um lugar sagrado em que se anuncia o amor de Deus", com "o bárbaro assassinato de um sacerdote e o envolvimento dos fiéis". A Santa Sé fala de "imensa dor e preocupação".

É a primeira vez que o terrorismo islamista mata em uma igreja europeia. Nos andares superiores do Vaticano, temia-se que, "mais cedo ou mais tarde", aconteceria algo desse tipo. "Eles levantaram o tom do ataque", explica-se.

Para a JMJ, tranquiliza-se, a situação em Cracóvia é "tranquila" e está "sob controle", as medidas de segurança são as máximas. Para o papa, não vai mudar nada: como sempre, ele não vai usar carros blindados.

A preocupação é com as igrejas. A paróquia de Rouen certamente não era um "alvo sensível". E não é possível controlar todas como em São Pedro, e também existe "o risco da imitação". Mas há outra preocupação, mais profunda: "Uma reação cega e xenófoba contra migrantes e muçulmanos pode ser muito perigosa".

No telegrama do cardeal Pietro Parolin ao arcebispo de Rouen, Dominique Lebrun, Francisco fez com que o seu nome fosse escrito: "O Senhor inspire em todos pensamentos de reconciliação e de fraternidade nesta nova prova". Dom Lebrun, que estava em Cracóvia e voltou logo para casa, disse: "Não nos deixemos vencer pelo ódio, não há outro caminho senão o diálogo".

Assim como depois do massacre de Nice, o papa não fez referência à matriz islamista. Francisco sabe perfeitamente o que está acontecendo, mas também sabe que trazer ao coração da Europa uma "guerra religiosa" é exatamente o que as centrais do terrorismo islâmico e os seus adeptos propõem.

Rejeitar o choque de civilizações não significa fechar os olhos, mas recusar a assumir a visão de mundo dos fundamentalistas. A estratégia do diálogo de Francisco – e os encontros com os líderes islâmicos dispostos a condenar a violência – tende a isolar o câncer terrorista: o papel das religiões será decisivo para "construir pontes" e conter a "Terceira Guerra Mundial em pedaços" em curso.

É o que ele pedirá aos jovens: a "coragem" de "romper a lógica da divisão e do medo".