E quem sai do ovo de Páscoa do jornal dos bispos italianos? Varoufakis

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04 Abril 2016

Do ovo de Páscoa do Avvenire, o jornal de propriedade da Conferência Episcopal Italiana (CEI), saiu, nos últimos dias, uma surpresa bizarra. O seu nome é Yanis Varoufakis, o discutido economista que foi ministro das Finanças da Grécia, quando esta estava à beira do precipício, que depois foi praticamente banido da União Europeia e jogado pelo seu próprio companheiro de aventura, Alexis Tsipras.

A nota é de Sandro Magister, publicada no seu blog Settimo Cielo, 30-03-2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

No dia 23 de março passado, Quarta-feira Santa, Varoufakis parou em Roma para apresentar a sua nova criatura: o Diem25, onde Diem está para Democracy in Europe Movement [Movimento para a Democracia na Europa], e 2025 é o ano em que o objetivo deveria ser alcançado, ou seja, a democratização "verdadeira" do Velho Continente.

Entre os luminares da ultraesquerda mundial que já aderiram ao Diem25, há o onipresente Noam Chomsky, o diretor Ken Loach e o líder espanhol do Podemos, Pablo Iglesias. Na Itália, para aplaudir Varoufakis, acorreram Antonio Ingroia e Toni Negri.

Mas o Avvenire também se inclinou em seu apoio. No dia seguinte, 24 de março, o jornal da CEI publicou com Varoufakis uma entrevista entusiasmada de página inteira, incluindo no título estas suas palavras: "É uma Europa sem mais alma. Estamos no último teste de moralidade".

E foi o próprio Varoufakis que disse quando e por que brotou o idílio entre ele e o jornal católico:

"Eu vi a análise publicada no Avvenire pelo ex-governador Fazio. Excelente! De vez em quando, ainda há alguém que me dá razão..."

Com efeito, nos dois dias anteriores à vinda de Varoufakis à Itália, no Avvenire, tinham sido publicadas duas páginas inteiras com um texto inédito do ex-governador do Banco da Itália, Antonio Fazio, católico declarado e estudioso de São Tomás de Aquino, além de renomado economista. Um texto – editado pelo jornalista Eugenio Fatigante, que também foi o entrevistador do economista grego – que "surgiu de uma série de conversas na sua casa romana e na sua Alvito natal, além de algumas conferências".

No primeiro capítulo das suas reflexões – que, mesmo assim, devem ser lidas e são muito claras e atraentes, até mesmo para os não especialistas – Fazio percorria novamente a história da política econômica europeia e mundial do século XX, detendo-se em particular na hiperinflação dos anos 1920 na Alemanha.

No segundo capítulo, ele denunciava na atual política econômica dos países europeus os mesmos erros de "atenção quase obsessiva para a estabilidade monetária", às custas de investimentos e crescimento.

As reservas de Fazio em relação à entrada da Itália ao Sistema Monetário Europeu em 1996 e, depois, à sua adesão à moeda única eram conhecidas, e ele as repetiu. Mas é sobre o hoje que apareceram as suas críticas conclusivas.

A sua tese de fundo é que "o superávit da balança de pagamentos de alguns países europeus [a Alemanha em primeiro lugar] deveria ser empregado em investimentos reais, não financeiros, na pátria ou em outros países da região".

E eis a sua referência "ad personam":

"O ex-ministro grego das Finanças, Yanis Varoufakis, que foi muito criticado, entendeu as coisas melhor do que outros. Em essência, o argumento é: se, em vez de apontar tudo para o 'quantitative easing' (embora Mario Draghi esteja se movendo na direção certa, ao máximo daquilo que o estatuto lhe concede) comprando títulos públicos – portanto, cobrindo uma despesa já efetuada por outros –, 300 bilhões fossem empenhados todos os anos em projetos de investimento escolhidos pelo Banco Europeu de Investimento, e os relativos títulos, adquiridos pelos bancos centrais nacionais, teríamos um imediato e notável alívio da situação econômica".

A questão, como se sabe, é polêmica. Mas, voltando a Varoufakis, à sua criatura Diem25 e ao seu idílio com o Avvenire em nome da "alma" e da "moralidade", não pode deixar de saltar à mente a forte afinidade entre esse caso de amor do jornal da CEI e a visão política do Papa Francisco, também ele fascinado por aqueles que ele chama de "movimentos populares" e que, depois, são os No Global, os No Expo, os No Tav, os No Triv, os Occupy Wall Street, os Indignados, os Cocaleros, em suma, a multidão dos rebeldes ao domínio do capital, nos quais ele saudou a vanguarda de uma humanidade nova, nos dois discursos – o primeiro em Roma, o segundo na Bolívia – que são precisamente o seu manifesto político.

Não é de se excluir também que Varoufakis possa aparecer em breve entre os convidados de distinção ao Vaticano, depois que, para inspirar a encíclica Laudato si', foram chamados Jeffrey Sachs e, para comentá-la, Naomi Klein.

* * *

No mesmo sentido, alguns dias antes, o Avvenire tinha peremptoriamente abraçado a linha dos No Triv em vista ao referendo que vai ser realizado na Itália no dia 17 de abril pró ou contra à renovação das concessões às plataformas de extração de gás natural no Mar Adriático.

O jornal de propriedade da CEI pronunciou-se contra as trivelas no dia 18 de março, no mesmo dia em que o Conselho Permanente da própria CEI, com mais cautela, convidava as comunidades cristãs italianas a discutirem o assunto sem tomar partido.

Mas, para o Avvenire, a discussão já estava fechada antes de começar. Em um editorial de primeira página e desde as primeiras linhas, ele fez descer obrigatoriamente o "não" dos imperativos da Laudato si' e da Evangelii gaudium, não "ses" e sem "mas".

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