05 Novembro 2015
Laulau Kuma Txicão com Ana Terra e Watatakalu Yawalapíitï
Tenho muito orgulho de vê as duas guerreiras Yawalapiti seguindo a luta do seu pai Pirakuma Yawalapiti..Mesmo de luto os três tiveram coragem e vontade de nos acompanhar hoje.
André Vallias
Lévi-Strauss: "Vamos agora considerar um mito do Canadá Ocidental sobre uma raia que tentou controlar ou dominar o Vento Sul e que teve êxito na empresa. Trata-se de uma história de uma época anterior à existência do Homem na Terra, ou seja, de um tempo em que os homens não se diferenciavam de fato dos animais; os seres eram meio humanos e meio animais. Todos se sentiam muito incomodados com o vento, porque os ventos, especialmente os ventos maus, sopravam durante todo o tempo, impedindo que eles pescassem ou que procurassem conchas com moluscos na praia. Portanto, decidiram que tinham de lutar contra os ventos, obrigando- os a comportarem- se mais decentemente. Houve uma expedição em que participaram vários animais humanizados ou humanos animalizados, incluindo a raia, que desempenhou um importante papel na captura do Vento Sul. Este só foi libertado depois de prometer que não voltaria a soprar constantemente, mas só de vez em quando, ou só em determinados períodos.
Desde então, o Vento Sul só sopra em certos períodos do ano ou, então, uma única vez em cada dois dias; durante o resto do tempo a Humanidade pode dedicar-se às suas atividades.
Bom, esta história nunca aconteceu na realidade. Mas a nossa posição não se pode limitar a considerarmos esta história completamente absurda e a ficarmos satisfeitos ao taxá-la de uma criação imaginosa de uma mente entregue ao delírio. Temos de a tomar a sério e fazer a seguinte pergunta: porquê a raia e porquê o Vento Sul?
Quando se estuda minuciosamente o material mitológico na forma exata em que é narrado, verifica-se que a raia atua com base em determinadas características, que são de duas espécies. A primeira, é que a raia é um peixe, como todos os seus congêneres espalmados, escorregadio por baixo e duro por cima. E a outra característica, que permite à raia escapar com sucesso quando tem de enfrentar outros animais, é que parece muito grande vista de baixo ou de cima e extremamente fina vista de lado. Um adversário poderia pensar que seria muito fácil disparar uma seta e matar uma raia, por ela ser tão grande; mas, enquanto a seta se dirige para o alvo, a raia pode virar-se ou deslizar rapidamente, oferecendo apenas o perfil, que, evidentemente, é impossível de atingir; e é assim que pode escapar. Portanto, a razão por que se escolheu a raia é que ela é um animal que, considerado de um ou outro ponto de vista, é capaz de responder – empregando a linguagem da cibernética – em termos de «sim» ou «não». É capaz de dois estados que são descontínuos, um positivo e o outro negativo. A função que a raia desempenha no mito é –ainda que, evidentemente, eu não queira levar as semelhanças demasiado longe– parecida com a dos elementos que se introduzem nos computadores modernos e que se podem utilizar para resolver grandes problemas adicionando uma série de respostas de «sim» e «não».
Apesar de ser obviamente errado e impossível (dum ponto de vista empírico) que um peixe possa lutar contra o vento, dum ponto de vista lógico pode-se compreender por que razão se utilizam imagens tiradas da experiência. Esta é a originalidade do pensamento mitológico – desempenhar o papel do pensamento conceptual: um animal suscetível de ser usado como, diria eu, um operador binário, pode ter, dum ponto de vista lógico, uma relação com um problema que também é um problema binário. Se o Vento Sul sopra todos os dias do ano, a vida torna-se impossível para a Humanidade. Mas. se apenas soprar um em cada dois dias – «sim» um dia, «não» o outro dia, e assim por diante –, torna-se então possível uma espécie de compromisso entre as necessidades da Humanidade e as condições predominantes no mundo natural.
Assim, dum ponto de vista lógico, há uma afinidade entre um animal como a raia e o tipo de problema que o mito tenta resolver. Dum ponto de vista científico, a história não é verdadeira, mas nós somente pudemos entender esta propriedade do mito num tempo em que a cibernética e os computadores apareceram no mundo científico, dando-nos o conhecimento das operações binárias, que já tinham sido postas em prática de uma maneira bastante diferente, com objetos ou seres concretos, pelo pensamento mítico. Assim, na realidade não existe uma espécie de divórcio entre mitologia e ciência. Só o estado contemporâneo do pensamento científico é que nos habilita a compreender o que há neste mito, perante o qual permanecíamos completamente cegos antes de a idéia das operações binárias se tornar um conceito familiar para todos."
Denise Cogo
Pela repercussão dos problemas com o Simples Doméstico, dá pra concluir que o Brasil continua a nação das empregadas domesticas. Fico pensando em qual outro pais tanta gente precisaria registrar tantas empregadas domésticas a ponto de gerar o número de queixas e notícias sobre o mau funcionamento do sistema. E isso em tempos de crise, segundo dizem. "A que horas o sistema volta... " poderia até ser o título de um novo filme da nação das empregadas.
Marcelo Castañeda
Segundo Kátia Breu, vivemos em tempos de preconceito contra agroquímicos. Sei. Quando vamos ao supermercado temos placas "tomates com veneno em promoção!". Esse é um retrato triste do governo Dilma. Mostra ao que veio.
Faustino Teixeira
“Aquele que tiver amado apaixonadamente Jesus escondido nas forças que fazem a Terra morrer,a Terra, desfalecendo,o encerrará em seus braços gigantes,e com a Terra ele despertará no seio de Deus”
(Teilhard de Chardin)
Penso hoje abordar em minha aula de mística cristã um dos temas mais difíceis e sombrios: o tema do mal. Na oração que rege o cotidiano dos cristãos, esse tema está presente: “Livrai-nos do Mal”. Não é uma questão de fácil abordagem. O místico Teilhard de Chardin dedicou um espaço importante a isso na sua obra O Meio Divino, quando tratou das passividades de diminuição. A seu ver, o problema do mal é “um dos mistérios mais perturbadores do universo”. Como lidar com os fracassos, com a intempéries, com as imensas “potências de diminuição” ? Como lidar com as situações que nos deixam perplexos e sem fala: as mortes antes do tempo, as doenças que colhem as criança ainda pequenas e as definham, os sofrimentos que encurtam a vida e abafam a esperança? Diante de tudo isso, apesar das perplexidades, Teilhard fala em “transfiguração das diminuições”, fala em “princípio de purificação e de desapego”. Assinala que o Meio Divino “precisa para assimilar-nos nele, retocar-nos, refundir-nos, quebrar as moléculas de nosso ser”. É ele que, precisamente, abre dolorosamente as fibras de nosso ser para poder penetrar-nos até a medula de nossa substância, de forma que nos arrebatemos em seu Mistério. E recorda o exemplo de grandes santos que saem vencedores dessas “derrotas”, saem temperados, engrandecidos, face a um quadro que ao olhar comum levaria ao desencanto ou ao desespero. E são vencedores pois estão amparados com o leme da profundidade