A revanche de Gramsci. As derrotas da esquerda e batalha cultural

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Por: André | 05 Novembro 2015

De acordo com o cientista político Gaël Brustier – pesquisador em ciências políticas, membro do Observatório das Radicalidades Políticas da Fundação Jean-Jaurès (próximo ao PS) e acaba de publicar À demain Gramsci, pela Cerf –, as derrotas da esquerda se explicam pela recusa de aceitar travar a batalha cultural.

A reportagem é de Jérôme Anciberro e publicada pela revista francesa La Vie, 15-10-2015. A tradução é de André Langer.

“A esquerda francesa está a ponto de sucumbir politicamente e de sair da História”. Duro diagnóstico do cientista político Gaël Brustier, mas compartilhado por muitos que defendem os ideais ou os valores de uma esquerda que até o presente não se fez muito perguntas sobre o seu futuro e o sentido da História... Mas o que fazer quando experimenta sucessivas derrotas eleitorais, quando os bastiões tradicionais (operários, jovens, professores, funcionalismo público...) se afastam, quando os militantes estão se tornando escassos e quando outros movimentos, do outro lado do espectro político, parecem largamente tirar proveito desta debandada geral?

Resposta: ler Gramsci! O teórico marxista, cofundador do Partido Comunista italiano em 1921 e autor de Cadernos do Cárcere, é – entre outros – o inventor de um conceito que interessa cada vez mais a alguns militantes: “hegemonia cultural”. Resumindo: para tomar o poder, mas também para mantê-lo, não basta ser dominar as instituições, os principais meios de produção ou ainda as forças armadas.

É preciso assegurar também a hegemonia na cultura no sentido amplo para, assim, contribuir para construir o “senso comum”. Dito com outras palavras, o que é sentido pela maioria das pessoas como algo tácito, sem necessidade de um exame crítico. Esta condição deve ser cumprida para poder formar aquilo que Gramsci chamou de “bloco histórico”, situação em que grupos sociais diversos se encontram em um mesmo projeto político, podendo esse projeto político ser revolucionário (que era, neste caso, a preocupação de Gramsci).

Mas, se a esquerda na França esteve até bem pouco tempo atrás na situação de hegemonia cultural – em geral, era ela que definia os critérios da evidência moral no campo político –, os tempos mudaram. Por exemplo, ao testemunhar as manifestações contra o casamento para todos. Diante das multidões mobilizadas contra esse projeto, a esquerda, escreve Gaël Brustier, se “recusa a travar a batalha, preferindo confiar na evidência em vez da argumentação”.

Mas quando a evidência não mais está clara, as coisas se complicam... E não se trata de uma “falta de pedagogia”, esta lamentável desculpa dos tempos pós-ideológicos. Os cidadãos não são clientes que vão ao supermercado dos valores, por outro lado, cada vez mais confusos. Eles só aderem duradouramente aos projetos em relação aos quais estão (minimamente) em condições de dizer uma palavra, dali onde estão.

“Fazer política em tempos de crise significa levar a sério a ideologia”, resume o nosso autor. Margaret Thatcher e Ronald Reagan compreenderam isso no seu tempo... E hoje? É preciso constatar que a direita radical investiu pesadamente nessa luta e que ela marcou pontos.

Mas existem outros “herois gramscianos”. Gaël Brustier debruça-se sobre dois casos emblemáticos: o Papa Francisco, cuja voz pode ser ouvida além das fronteiras da Igreja católica, e Pablo Iglesias, o líder do Podemos. Este é apenas o começo, pois a luta continua...

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