Divorciados e Eucaristia: casos devem ser analisados pelos bispos. Kasper aprofunda a sua tese

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30 Junho 2015

O cardeal Walter Kasper publicou nos últimos dias um grande artigo na revista alemã Stimmen der Zeit, que tem como assunto o Sínodo de outubro sobre a família, em que se tratará também do problema da admissão ou não, e de que forma, dos divorciados em segunda união à Eucaristia.

A reportagem é de Marco Tosatti, publicada no sítio Vatican Insider, 28-06-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

O seu artigo intitula-se "Mais uma vez: admissão dos divorciados em segunda união aos sacramentos?". Nele, o cardeal alemão propõe e atualiza aquela que já é conhecida como "proposta Kasper" e da qual se falou amplamente discutido no último ano e meio.

Um dos pontos centrais da iniciativa do cardeal, presidente emérito do Conselho para a Unidade dos Cristãos e autor de um livro sobre a misericórdia, citado pelo Papa Francisco nos primeiros dias do seu pontificado, quer que "uma teologia do matrimônio realista deve considerar o fracasso e a possibilidade do perdão".

Na prática, a proposta gostaria de admitir os divorciados em segunda união aos sacramentos, depois que eles passassem por um período de penitência, e "depois de um honesto juízo da pessoa interessada quanto à sua situação pessoal" e com o apoio do seu confessor. O bispo local também deveria exercer uma supervisão de autoridade sobre todo o processo.

O purpurado alemão defende que "essa questão da admissão dos divorciados em segunda união aos sacramentos não é um problema novo ou somente alemão". "Muitos confessores em todo o mundo estão buscando uma solução."

Da sua Conferência Episcopal, o cardeal recebeu um considerável apoio à sua proposta, embora recentemente tenham sido manifestadas perplexidades e pareceres contrários explícitos por parte de diversos bispos alemães.

Sabe-se que um dos maiores pontos de discordância diz respeito às frases contidas no Evangelho e pronunciadas por Jesus sobre a indissolubilidade do matrimônio, consideradas pelos especialistas como particularmente "seguras".

Kasper, no entanto, escreve no seu artigo que a palavra de Cristo "não é uma 'sentença legal', mas sim um princípio que a Igreja, com a ajuda da autoridade, dada a ela por Cristo, de ligar e desligar, deve aplicar no contexto das situações culturais mutáveis".

E o purpurado continua no seu discurso sublinhando que "a palavra de Cristo não pode ser interpretada de maneira fundamentalista".

Sobre o conceito da indissolubilidade do matrimônio, Kasper afirma: "Esse é um grande convincente conceito. No entanto, ele não deveria levar a uma idealização que esteja distante da vida de todos os dias".

E, referindo-se ao matrimônio cristão da forma como é ensinado e concebido por parte da Igreja, ele defende que o matrimônio cristão, em relação à ligação de Cristo com a Igreja, "não pode realizar plenamente esse mistério, mas pode fazê-lo apenas de uma forma fragmentária (…) os esposos permanecem no caminho e estão sob o sinal da gradualidade".

Deus permanecerá fiel a nós, mesmo que nós Lhe sejamos infiéis, defende o teólogo: "O 'sim' de Deus permanecerá, mesmo que o 'sim' humano seja frágil, ou esteja despedaçado".

Embora confirmando a validade do princípio segundo o qual os sacramentos não podem ser recebidos por aqueles que estão em estado de pecado mortal, é necessário, segundo Kasper, observar cada caso individualmente. "Não se pode falar de estado de pecado objetivo sem levar em consideração a situação do pecador na sua dignidade pessoal única."

Nesse sentido, nasce a proposta de resolver cada caso no plano individual, incluindo "um processo de esclarecimento e de reorientação depois da catástrofe do divórcio".

A partir desse processo, deveria nascer um juízo honesto sobre si mesmos. Até porque "um perdão sem conversão" seria um "absurdo teológico".

Mas os divorciados recasados que mostrem "arrependimento e desejo de viver segundo o Evangelho na nova situação" poderiam ser admitidos aos sacramentos. "Na absolvição, portanto, nenhum pecado seria justificado, mas sim o pecador que deseja mudar". E a Eucaristia se tornaria necessária para ajudar o pecador a permanecer no "novo caminho".

O purpurado propõe que se considere o problema no contexto da ideia da ''hermenêutica da continuidade", que incluiria "reformas práticas e, com elas, um momento de descontinuidade".

Aos autores do livro "Permanecer na verdade de Cristo", que causou tanto rebuliço no ano passado, Kasper responde: "O aviso a permanecer na verdade de Cristo inclui o outro, isto é, permanecer no amor de Cristo".

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