Nós, ''hereges'' perseguidos, acolhemos o papa como um irmão. Artigo de Eugenio Bernardini

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23 Junho 2015

Ao entrar em uma Igreja Valdense, o Papa Francisco mostra que reconhece aquele pluralismo das religiões e das culturas a que outros – que muitas vezes não são católicos ou o são apenas nas "festas de guarda" – se opõem, em nome de supostos valores tradicionais. E ele faz isso na sua linguagem, a de um pastor e de um fiel que estende a mão aos seus irmãos e às suas irmãs na fé.

A opinião é do pastor italiano Eugenio Bernardini (na foto, abraçando o papa), moderador da Mesa Valdense da Itália. O artigo foi publicado no jornal La Stampa, 21-06-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o texto.

A primeira visita de um papa, em mais de 800 anos, à Igreja Valdense é um fato que, embora abusado, merece o adjetivo "histórico". O fato de essa visita ocorrer no marco do templo de Turim sugere, além disso, o adjetivo "significativo".

Significativo porque esse é o primeiro templo que os valdenses puderam construir (em 1853) na capital do Reino, que aspirava a unir a Itália inteira, e, portanto, fora do "gueto" dos vales de Pinerolo em que haviam sido forçados a se refugiar. Atravessando esse limiar, o Papa Francisco estende a mão para uma comunidade de "hereges" que pagaram um duro preço pela coerência da sua fé.

Nesse sentido, acreditamos que esse gesto assume um "significado" mais geral, não apenas para os valdenses e os outros evangélicos.

Depois da judaica, a valdense é a comunidade de fé de minoria de mais antigo enraizamento na Itália; nos anos das Cruzadas e da Contrarreforma, ela sofreu perseguições que a obrigaram a um exílio temporário; nos anos em que se construía a Itália unida, ela foi a primeira confissão não católica a obter os direitos civis para os seus membros. Nos anos da Resistência, muitos valdenses subiram nas suas montanhas para defender não só a sua liberdade, mas a de todos os italianos e de todas as italianas; assim como no pós-guerra estiveram na primeira fila para reivindicar o pleno direito à liberdade religiosa e à laicidade do Estado tutelada pela Constituição republicana.

Em tempos mais recentes, a Igreja Valdense encontrou-se unida a afirmar, também em tendência contrária e, às vezes, em contraste com a Igreja Católica, princípios de liberdade de consciência e direitos civis negligenciados ou ignorados, até a estipulação do primeiro Entendimento com o Estado em 1984.

O Papa Francisco conhece bem essa história, e por isso consideramos que a sua visita tem um significado que transcende a homenagem a uma Igreja evangélica: é o encontro com um componente espiritual e cultural da sociedade italiana que, embora pequena, tentou contribuir para o crescimento moral e civil do país.

Entrando em uma Igreja Valdense, o Papa Francisco mostra que reconhece aquele pluralismo das religiões e das culturas a que outros – que muitas vezes não são católicos ou o são apenas nas "festas de guarda" – se opõem, em nome de supostos valores tradicionais. E ele faz isso na sua linguagem, a de um pastor e de um fiel que estende a mão aos seus irmãos e às suas irmãs na fé.

É isso que a visita do Papa Francisco diz a nós, valdenses, mas, acreditamos, também a todos os italianos: àqueles que creem, àqueles que não creem e àqueles que acreditam em termos não convencionais.

Quanto a nós, iremos acolhê-lo como a um irmão na fé, com a sobriedade que nos distingue, mas também com o calor de quem aprecia as palavras e os gestos de um papa que disse e fez coisas importantes na relação com as outras religiões, que mostra saber ouvir também os últimos, que acaba de nos entregar um texto de grande intensidade sobre a ética para com a criação e os recursos que ela contém.

Vamos lhe dizer o que já nos une e vamos lhe lembrar o que ainda nos divide. Mas, enquanto isso, juntos, teremos dado um passo à frente no caminho do ecumenismo.

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