Por: Jonas | 10 Novembro 2014
“A notícia nos chegou de imprevisto. Na reunião do clero do dia 4 de novembro, dom José Luis Escobar disse que, em sua estadia em Roma, o papa Francisco o comunicou que dom Romero será beatificado no próximo ano”, expressou em um comunicado o teólogo jesuíta Jon Sobrino, diretor do Centro Dom Romero da UCA.
 |
|
| Fonte: http://goo.gl/A5w9aJ |
A reportagem é de Jesús Bastante, publicada por Religión Digital, 07-11-2014. A traduçao é do Cepat.
“O arcebispo não deu detalhes sobre a data e o local. Porém, a notícia já nos encheu de alegria”, acrescentou Sobrino. Segundo o teólogo, companheiro de Ellacuría e dos mártires da UCA, o Papa teria comunicada a notícia a Escobar durante sua presença no Sínodo extraordinário dos bispos sobre a família, que ocorreu no Vaticano, de 6 a 19 de outubro passado.
O Arcebispo de San Salvador não confirmou oficialmente o que foi dito por Sobrino. Em declarações reunidas pela imprensa salvadorenha, o vigário da Igreja de El Salvador, monsenhor Urrutia, insistiu em que “não há nenhum anúncio oficial do Vaticano, nem do papa Francisco ou do arcebispo Escobar Alas de que a beatificação de dom Romero possa ser no próximo ano. Não há nenhum aviso oficial. Certamente dom Escobar Alas tenha falado sobre a possibilidade de que no próximo ano já se possa encerrar o processo de instrução da causa e proceder para o estudo definitivo sobre a posição do martírio de dom Romero. É possível que este estudo seja realizado no próximo ano, mas não significa que a beatificação aconteça no próximo ano”.
Nos últimos meses, a Igreja Católica salvadorenha disse que espera que Romero seja beatificado em 2017, no ano do centenário de seu nascimento.
Romero, que denunciava os abusos contra os direitos humanos nos anos prévios à guerra civil salvadorenha, foi assassinado por um franco-atirador quando presidia uma missa, no dia 24 de março de 1980, em uma capela de San Salvador.
Seu processo de beatificação, aberto em 1994, foi desbloqueado em abril do ano passado pelo papa Francisco, após permanecer vários anos paralisado na Congregação para a Causa dos Santos.
A Igreja salvadorenha iniciou, no dia 15 de agosto passado, um triênio em honra a Romero, quando já se aproxima a celebração de seus 100 anos de nascimento, no dia 15 de agosto de 2017.
Esta é a carta de Jon Sobrino
A notícia nos chegou de imprevisto. Na reunião do clero, do dia 4 de novembro, dom José Luis Escobar disse que, em sua estadia em Roma, o papa Francisco o comunicou que dom Óscar Romero será beatificado no próximo ano. O arcebispo não deu detalhes sobre a data e o local. Porém, a notícia já nos encheu de alegria.
Os dois papas anteriores, João Paulo II e Bento XVI, falaram disso, mas não com muita convicção e decisão. E se notava o medo de incomodar aos poderosos: “Ainda não é o tempo oportuno”. A linguagem do Vaticano era ambígua e de pouco entusiasmo.
Tudo mudou com o papa Francisco. Há um ano, disse que a causa de dom Romero estava paralisada, mas que sem dúvida avançaria. Mais do que paralisada, penso que estava bloqueada por muitos interesses que nada tem a ver com Jesus de Nazaré.
Dissemos muitas vezes: a alegria e o júbilo das pessoas estão certas. Porém, costumo ter um pequeno temor e uma dúvida: o que dirá a ata de canonização sobre dom Romero. Santo e virtuoso foi em alto grau. Porém, foi mais do que isso, como expressou em palavras Ignacio Ellacuría na missa do funeral da UCA, imediatamente após o assassinato do arcebispo: “Com dom Romero, Deus passou por El Salvador”. Por aqueles mesmos dias, dom Pedro Casaldáliga escreveu o poema São Romero da América, pastor e mártir nosso. E espontaneamente o povo o chamou de “santo”. O culto do povo, popular, foi massivo, ainda que não esteja permitido durante o processo de beatificação.
Esperamos, pois, o próximo ano. Em 2015, não haverá mundiais, nem jogos olímpicos. Não lutarão uns contra os outros para vencer. Algo ou muito todos nós ganharemos, com exceção de alguns irredentos. Não correrão milhões de milhões para esconder pobreza, violência e angústias. Sim haverá pupusas e tamales.
Em 2015, ganhará a menininha de uma champa de Zimbábue, que, quando lhe perguntei, em 2007, o que conhecia de El Salvador, disse-me de imediato: “Um bispo”. E dias depois, também em Zimbábue, cumprimentei Desmond Tutu. Disse-lhe que vinha de El Salvador e me respondeu: “A terra de Romero! Quanto o recordávamos em tempos de guerra!” E assim muitas outras histórias que não caberiam em todos os livros do mundo.
Desapareceu meu medo de que beatifiquem um dom Romero aguado. Hoje, é difícil manipulá-lo. E um pedido: “São Romero da América, roga por todos os pobres do mundo. E roga por este povo salvadorenho, que é o seu”.
