Sínodo dos Bispos, uma vitória do Papa e da abertura

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20 Outubro 2014

No momento em que as pessoas analisam e debatem o relatório final, ou “relatio, do Sínodo sobre a família, há o perigo de elas acabarem vendo somente os detalhes e não o todo. É verdade, houve um retrocesso na linguagem acolhedora para com as pessoas homossexuais em relação àquela empregada no rascunho do dia 13 de outubro, e a Comunhão ainda não foi concedida aos católicos divorciados e casados novamente.

O comentário é de Thomas Reese, jornalista, jesuíta, ex-diretor da revista America, em artigo publicado por National Catholic Reporter, 19-10-2014. A tradução é de Isaque Gomes Correa.

Mas enquanto gastamos tinta comparando o relatório final com o relatório intermédio, não nos esquecemos do todo: o Sínodo foi uma vitória da abertura e do debate na Igreja, e o documento final é um convite a todos da Igreja a se juntarem na discussão. Isto é exatamente o que o Papa Francisco quis.

Os bispos como pastores enfrentavam um conflito profundo: Como fazer da Igreja ser uma mãe amorosa e, ao mesmo tempo, uma professora exigente?

É verdade, houve alguns tradicionalistas ideológicos que não queriam mudança alguma. A estes o papa se referiu, no seu discurso final, como tradicionalistas zelosos ou intelectualistas, os quais têm “certeza daquilo que conhecemos e não daquilo que devemos ainda aprender e atingir”.

Mas a maioria dos bispos são pastores que se preocupam como fato de que, se eles parecerem demais acolhedores, então as pessoas irão pensar que todas as uniões sexuais são iguais e que não há motivos para se casar na Igreja. Estes bispos simplesmente precisam de mais tempo para descobrir como ser um pai amoroso e um professor exigente. Pois, por muitos anos, eles apenas se preocuparam em ser exigentes.

É verdade também que houve bispos africanos que temeram a forma como uma atitude mais acolhedora aos gays seria percebida em suas culturas. Será que os religiosos muçulmanos conservadores vão usar esta abertura como propaganda contra a Igreja?

Ao mesmo tempo, estamos vendo algumas mudanças na Igreja africana. Por exemplo, o presidente da conferência episcopal nigeriana deixou claro no Sínodo que, enquanto os bispos de seu país se opõem ao casamento homoafetivo, eles também se opõem à criminalização das pessoas homossexuais. Na África, isso importa.

Alguns estão interpretando o relatório final como uma derrota do Papa Francisco. Eu não penso assim, e ele certamente não pensa assim também. Se quisesse ser um ditador, ele teria simplesmente ordenado aquilo que deseja. Em vez disso, o pontífice convidou os bispos para uma discussão aberta e colegial.

Diferentemente de nós jornalistas, ele não ficou obcecado com a linguagem do relatório, mas sim se focou, muito mais, sobre o processo. Ele deu o tom no início dos trabalhos, incentivando os bispos a falarem livremente. No final, ao sintetizar o Sínodo, deixou claro que ele estava escutando com cuidado e, como um bom jesuíta, estava discernindo o Espírito no processo.

Este não é o fim do processo sinodal. O relatório, e tomara que o discurso final do papa também, tornar-se-á o ponto de partida para um debate muito mais rico sobre a família durante o próximo ano até o Sínodo de outubro/2015. O Sínodo deste ano foi uma grande vitória da abertura e do Papa Francisco.