Papa Francisco visitará a Turquia

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15 Setembro 2014

Como relatado pelo sítio Crux e outras agências de notícias, estão em andamento os planos para a viagem do Papa Francisco à Turquia no final de novembro, possivelmente com uma excursão para perto da fronteira com o Iraque a fim de que o pontífice possa se encontrar com os refugiados do autodeclarado Estado Islâmico e para expressar a sua preocupação com a violência.

A reportagem é de John Allen Jr., publicada no sítio Crux, 13-09-2014. A tradução é de Claudia Sbardelotto.

Os detalhes ainda estão sendo trabalhados, mas supondo que a viagem se concretize, ela será importante por três motivos pelo menos.

Em primeiro lugar, o Papa Francisco e o Vaticano estão profundamente preocupados com o Iraque, em parte por causa da minoria cristã do país. O Iraque tinha uma das maiores comunidades cristãs do Oriente Médio antes da primeira Guerra do Golfo, em 1991, estimada em algo entre 1,5 e 2 milhões de fiéis, mas foi dizimada pelo caos subsequente, e hoje está em situação crítica.

Ao mesmo tempo, o Vaticano também está interessado em não enquadrar o conflito no Iraque como cristãos contra muçulmanos, em parte por medo de que se ele for visto dessa forma, isso representaria um benefício para a propaganda e o recrutamento do Estado Islâmico, que já está atraindo jihadistas ardentes de outras partes do mundo para a sua causa.

É um pequeno, mas significativo exemplo de que, quando Francisco tornou-se o primeiro papa a anexar uma foto a um de seus tweets, ela era uma foto do Catholic Relief Services [Serviços de Auxílio Católico] de uma família yazidi da cidade de Erbil que atualmente está vivendo debaixo de um viaduto.

Sutilmente, o papa estava chamando a atenção de que não são apenas os cristãos que estão em risco.

A Turquia é um país com sua própria conturbada história de surtos anticristãos ocasionais. Um padre missionário católico, Pe. Andrea Santoro, foi morto em 2006, e o capuchinho Dom Luigi Padovese foi assassinado na Turquia em 2010.

Francisco, assim, enfrentaria o desafio de não ficar calado no que diz respeito à violência anticristã, mas ao mesmo tempo, ter o cuidado de não falar nada que antagonize seus anfitriões ou inflame o conflito iraquiano nas proximidades.

Em segundo lugar, essa constituiria a primeira visita do papa a um país muçulmano fora da Terra Santa, e, assim, sua primeira oportunidade real de estabelecer uma visão das relações entre muçulmanos e cristãos para o século XXI.

Francisco se reuniu com líderes muçulmanos, quando visitou a Jordânia, os territórios palestinos e Israel em maio, mas ele tinha muito mais a fazer naquela viagem, incluindo uma aproximação com os líderes judeus em Israel e a tentativa de iniciar o estagnado processo de paz entre Israel e a Palestina.

A última vez que um papa foi à Turquia foi em 2006, quando Bento XVI fez uma visita, logo após um polêmico discurso proferido em Regensburg, Alemanha, no qual ligava Maomé com a violência, dando lugar a uma onda de protestos em todo o mundo islâmico. Obviamente, essa controvérsia parece diferente hoje, dada a ascensão do Estado Islâmico e a carnificina que se seguiu.

Na época, no entanto, a lista de compromissos da viagem era, em grande parte, para acalmar os ânimos, o que Bento fez com uma parada na famosa Mesquita Azul de Istambul, onde realizou uma pausa para um momento de oração silenciosa.

Atualmente, Francisco tem a oportunidade de apresentar uma agenda voltada para um futuro mais positivo entre os laços muçulmanos e cristãos, o que, sem dúvida, nunca foi tão urgente, levando-se em conta a percepção da necessidade de dar maior visibilidade a vozes muçulmanas mais moderadas.

A Turquia é uma importante plataforma para o papa fazer seu discurso, dadas as suas aspirações a ter um papel de liderança em todo o mundo islâmico, e também sua proximidade com os conflitos mais voláteis da região.

Em terceiro lugar, há um ecumenismo subliminar na viagem à Turquia, já que Francisco provavelmente irá para Phanar, a sede do Patriarcado Ortodoxo de Constantinopla para visitar Bartolomeu I e para continuar o processo pela unidade dos cristãos.

O dia 30 de novembro é a festa de Santo André, considerado pelos fiéis ortodoxos como o fundador do patriarcado de Constantinopla, algo parecido com a maneira dos católicos considerarem Pedro como o primeiro papa.

Bartolomeu se tornou o parceiro geopolítico favorito de Francisco, tendo participado da oração pela paz com os presidentes israelense e palestino no dia 8 de junho nos jardins do Vaticano. Presumivelmente, ele e Francisco não vão falar somente sobre a cura das feridas do passado entre a ortodoxia e o catolicismo, mas também como as duas Igrejas podem unir recursos com relação às outras preocupações morais e humanitárias que compartilham.

Os detalhes do programa do papa na Turquia podem ainda estar no ar, mas não há dúvida de que sejam eles quais forem, muita coisa está em jogo.

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