As razões para a grande redistribuição de cartas no Oriente Médio

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Por: André | 15 Julho 2014

A Administração de Obama foi muitas vezes criticada pela sua prudência na região. Sua atual reviravolta em relação ao Irã sobre a questão iraquiana é facilitada.

A reportagem é de Jean-Marie Colombani e publicada no sítio francês Slate, 11-07-2014. A tradução é de André Langer.

Dar a César o que é de César. Durante muito tempo, a atitude de Barack Obama foi criticada por sua falta de firmeza, especialmente em relação ao Irã, porque a ideia dominante era que a vontade do Irã de obter armas nucleares constituía a principal ameaça estratégica do começo do século XXI. A intenção do Irã estava, com efeito, acompanhada de propósitos bélicos contra a existência do Estado de Israel, que, em intervalos regulares, relatava os progressos iranianos rumo à bomba e ameaçou intervir militarmente contra os locais que abrigavam as instalações nucleares. Mas Israel sempre encontrou o veto dos Estados Unidos.

Essa cautela americana, muitas vezes denunciada pelo primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu – que sempre foi muito influente no Partido Republicano em Washington – permite uma espécie de reversão da aliança, tornada necessária pelos fulgurantes e trágicos progressos no Iraque de Abu Bakr al-Baghdadi, líder de uma temível organização jihadista, a EIIL (ISIS). Progressos que lhe permitem controlar uma parte significativa dos territórios sírios e, sobretudo, iraquianos.

Talvez não houvesse na prudência de Obama outra coisa que prudência... Ainda assim, a reviravolta encontra-se facilitada. Especialmente desde que foi precedida pela realização de uma negociação internacional com o Irã sobre as suas armas nucleares; um Irã, é verdade, que se livrou de Mahmoud Ahmadinejad e que é dirigido por um presidente Rohani ansioso para retornar ao jogo diplomático.

Aliás, esta perspectiva de um esboço de aliança entre Estados Unidos e Irã, que inclui também Israel à medida que os jihadistas se aproximam da Colina de Golan, leva agora a relativizar a ameaça nuclear iraniana. O Mossad e o Estado-maior israelense eram contrários aos ataques dirigidos contra o Irã – “a ideia mais estúpida”, disse Meir Dagan, quando deixou o comando do Mossad. Agora entendemos o porquê: oficialmente, os serviços israelenses apontavam 2015 como horizonte para uma bomba iraniana, após ter sido anunciada para 2007 e depois para 2011. Na verdade, hoje, as próprias autoridades israelenses deixam entender que o Irã não será capaz de desenvolver uma arma nuclear em dez anos.

Esta situação reenvia naturalmente Israel para o essencial, tragicamente voltado para a frente da conjuntura, a saber, à questão palestina, à não-resolução da qual é preciso acrescentar a tomada de controle de algumas partes do Iraque pelo EIIL.

O que diz seu líder Al-Baghdadi, que o torna hoje mais perigoso do que a Al-Qaeda? Aí onde a Al-Qaeda continua a ser uma nebulosa, Al-Baghdadi quer se estabelecer em um território que ele quer, naturalmente, “purificar” e vai querer estender. Portanto, ele introduz na região uma ameaça particularmente grave, uma vez que seria capaz de atingir Israel ou a Turquia. Ele levaria o fogo para todo o Oriente Próximo. A linha de fratura que separa xiitas e sunitas torna-se a chave para qualquer análise estratégica na região.

Um retorno de uma aliança ocidental com o Irã, imposta pelas circunstâncias, seria também uma maneira de se reconectar com as linhas de força que existiam antes da revolução de Khomeini. O Irã e a Turquia eram, na época, os principais aliados dos Estados Unidos e de Israel.

O Irã dispõe de mais recursos do que a Arábia Saudita e o Catar, que são suspeitos de financiar os avanços jihadistas na Síria e no Iraque. O Irã ocupa uma posição geográfica estratégica, que pesa sobre o destino do Iraque, assim como do Afeganistão. Todas estas razões explicam a enorme redistribuição de cartas que começa a se esboçar em uma região que continua a concentrar os maiores perigos de guerra.

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