''A impunidade acabou'', afirma papa em missa para as vítimas de abuso

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09 Julho 2014

O Papa Francisco celebrou uma missa em Santa Marta para seis vítimas de abuso, provenientes da Alemanha, Irlanda e Inglaterra. Pediu perdão pelos crimes de "sacerdotes e bispos". Garantiu tolerância zero. Pediu ajuda para definir a melhor proteção para os menores.

A reportagem é de Marco Politi, publicada no jornal Il Fatto Quotidiano, 08-07-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Mas essa segunda-feira, muito intensa emotivamente, vai além dessas palavras. Assinala um salto de qualidade. Mostra a vontade do pontífice argentino de imprimir uma sacudida em uma hierarquia eclesiástica que, em muitas partes do mundo, se mostra passiva ao organizar estruturas eficientes para combater o fenômeno.

Bento XVI, nas suas viagens internacionais, já tinha se encontrado com grupos de vítimas, mas é a primeira vez que um pontífice convida uma representação de vítimas de abuso ao Vaticano. E é a primeira vez que, depois da missa, um pontífice se reúne com eles por uma escuta não apressada das suas histórias e os convida a sugerir como intervir.

O encontro com as vítimas, três homens e três mulheres, se enquadra nas iniciativas concretas já promovidas pelo papa. Em março passado, Bergoglio criou uma comissão internacional para a proteção de menores, que se reuniu pela primeira vez no domingo, encarregando-a de elaborar os melhores procedimentos para combater os abusos.

Da comissão – formada por quatro mulheres e quatro homens, quatro leigos e quatro clérigos – também faz parte uma vítima: Marie Collins, abusada aos 13 anos, defensora da obrigatoriedade da denúncia às autoridades civis. O Papa Bergoglio está colocando as vítimas no coração de toda iniciativa.

No ano passado, o pontífice chamou novamente de Santo Domingo o núncio vaticano Jozef Wesolowski, acusado de ter abusado de crianças das camadas sociais mais pobres. E, recentemente, laicizou-o. Agora, Wesolowski, que tinha o cargo de arcebispo, está à espera de um processo penal.

"Não haverá filhinhos de papai" em relação aos abusos, garantira o papa aos jornalistas, voltando de Israel. Assim foi. Para Francisco, a homilia, pronunciada durante o rito celebrado para as vítimas, foi a ocasião para lançar sinais precisos.

Falando em espanhol para estar completamente à vontade na expressão do seu pensamento, não só condenou os "graves crimes" e o sacrilégio cometido pelos padres predadores, expressando dor por tantas tragédias. Ele também abordou a questão dos suicídios, que "pesam no meu coração, na minha consciência e na de toda a Igreja".

Ele reiterou a condenação (como o Papa Ratzinger) dos "pecados de omissão por parte dos chefes da Igreja que não responderam de forma adequada às denúncias" de familiares e vítimas, colocando "outros menores em perigo".

Invertendo a postura secular das autoridades eclesiásticas, que impunham o silêncio às vítimas "para não causar escândalo", Francisco elogiou a coragem demonstrada por aqueles que "lançaram luz sobre uma terrível escuridão" na vida da Igreja. O seu serviço, exclamou ele aos seis sobreviventes, "foi um serviço de amor".

Por fim, o papa mencionou um princípio, invocado por décadas, durante candentes manifestações das organizações de vítimas: o dever de responsabilização por parte da hierarquia. Todos os bispos, destacou, têm o dever de se comprometer para garantir a proteção dos menores "e prestarão contas dessa responsabilidade".

No cenário italiano – onde a Conferência Episcopal Italiana obstinadamente continua não criando nenhuma estrutura diocesana para a escuta, a ajuda e a indenização das vítimas – tais palavras trouxeram um vento anglo-saxão cheio de frescor no tratamento do problema.

Além disso, a comissão antiabusos é coordenada pelo cardeal O'Malley, de Boston, que, na sua diocese, fez uma sistemática limpeza do clero abusador. "Não há lugar no ministério da Igreja para aqueles que cometem abusos sexuais – concluiu Francisco –, e me comprometo a não tolerar o dano causado a um menor por parte de qualquer pessoa, independentemente do seu estado clerical".