Revolta contra o racismo

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07 Março 2014

Aos 37 anos, o árbitro Márcio Chagas da Silva habituou-se a ouvir barbaridades como “macaco imundo”, “preto safado” e “tem que matar essa negrada”. Sabe que a barbaridade maior é ele próprio já considerar normal essa torrente de insultos. Mas ou ele abstrai, ou desmorona.

Na noite de quarta-feira, depois do jogo entre Esportivo e Veranópolis, em Bento Gonçalves, RS, a blindagem de Márcio ruiu: sentiu vontade de chorar quando encontrou seu carro amassado e riscado, com bananas espalhadas sobre a lataria. Durante a partida, já havia sido xingado de macaco pela torcida do Esportivo. Fotografou o Peugeot preto antes da viagem de volta a Porto Alegre, entrou no veículo e, ao arrancar, ouviu um estouro no escapamento: havia mais bananas no cano de descarga.

"Percebi que corria um risco grave, que poderiam ter feito algo muito pior comigo. Não teve nenhuma polêmica no campo, o Esportivo até ganhou (3 a 2). Mesmo assim, torcedores gritavam “preto ladrão” e “volta para a selva” o tempo todo", conta Márcio Chagas, que apitou as duas últimas decisões do Gauchão e é árbitro especial na classificação da CBF.

A reportagem é de Paulo Germano, publicada pelo jornal Zero Hora, 07-03-2014.

O episódio ocorre 21 dias após o volante Tinga, do Cruzeiro, ouvir imitações de macaco durante um jogo contra o Real Garcilaso, no Peru. Na ocasião, até a presidente Dilma Rousseff manifestou apoio ao jogador em meio a uma onda de solidariedade. Não parece ter surtido efeito prático. O próprio Tinga tenta explicar:

"Todo mundo achou um absurdo o que fizeram comigo. Também vão achar um absurdo o que fizeram com o Márcio. Mas e daí? As punições são brandas, não acontece nada, ninguém leva a culpa. Vai seguir tudo igual".

Tinga acredita que, quando o racismo aparece no futebol, uma espécie de compreensão popular pressiona as vítimas a “levarem na esportiva”. É como se chamar um negro de macaco durante um jogo – e não no ambiente de trabalho, por exemplo – fizesse parte de um contexto no qual a ofensa é aceitável.

No Rio Grande do Sul, o caso Márcio Chagas também parece reflexo de uma legislação permissiva. Em 2011, no Gre-Nal que decidiu o Gauchão, o meia colorado Zé Roberto foi insultado por parte da torcida do Grêmio, no Olímpico, com gritos que evocavam primatas. O então vice-presidente de futebol do Inter, Roberto Siegmann, exigiu que o atleta prestasse queixa na delegacia – e o clube entrou com uma representação contra o Grêmio na Federação Gaúcha de Futebol (FGF).

"Não deu em nada. Arquivaram tudo e ficou por isso mesmo", recorda Siegmann, lembrando que a mulher de Zé Roberto, também negra, foi obrigada a entrar pela porta de serviço do prédio onde o marido alugara um apartamento, em Porto Alegre.

Em um caso raro no futebol brasileiro, o zagueiro Antônio Carlos, que defendia o Juventude em 2006, foi suspenso por 120 dias após apontar a cor do próprio braço durante uma discussão com o volante gremista Jeovânio, negro. Agora, o procurador do Tribunal de Justiça Desportiva, Alberto Franco, adianta que denunciará o Esportivo por “ato discriminatório”, já que o carro de Márcio Chagas estaria em estacionamento privativo do clube. A provável punição: perda de três pontos na tabela do campeonato.

Em nota oficial, o Esportivo prometeu investigar o episódio. O vice-presidente jurídico, Rodrigo Terra, analisou as fotos e garantiu que não foram feitas nas dependências do clube. Já o presidente da FGF, Francisco Novelletto, após ouvir uma série de pessoas, disse a ZH que foram, sim.

Márcio Chagas da Silva, árbitro de futebol:

"Apito no país inteiro, só vejo racismo no Rio Grande do Sul. Não sou o errado. Decidi desabafar. É a melhor forma de ajudar o Miguel (filho do árbitro)."

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