''A Igreja deve denunciar os abusadores. Só assim haverá uma mudança real''

Mais Lidos

Newsletter IHU

Fique atualizado das Notícias do Dia, inscreva-se na newsletter do IHU


Revista ihu on-line

Zooliteratura. A virada animal e vegetal contra o antropocentrismo

Edição: 552

Leia mais

Modernismos. A fratura entre a modernidade artística e social no Brasil

Edição: 551

Leia mais

Metaverso. A experiência humana sob outros horizontes

Edição: 550

Leia mais

10 Fevereiro 2014

"É um relatório crucial, porque pela primeira vez uma instituição internacional de renome confirma o que denunciamos há anos. Espero que dê conforto às vítimas e coragem aos governos para investigar e processar os culpados. Mas eu não sou otimista com relação às mudanças que ele trará ao Vaticano".

A reportagem é de Paolo Mastrolilli, publicada no jornal La Stampa, 06-02-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

David Clohessy é o rosto mais reconhecido entre as vítimas dos abusos nos EUA. Ele é o diretor da Snap, a "Rede dos Sobreviventes dos Abusados por Padres", e há 20 anos vem lutando sobre o tema.

Eis a entrevista.

Você foi molestado?

Sim, por um sacerdote que se chama John Whiteley.

Quando isso ocorreu?

Entre os anos 1960 e 1970. Eu tinha 11 anos quando os abusos começaram, e duraram até quando eu tinha uns 16 anos.

Como isso aconteceu?

A minha família era católica e muito devota no Missouri, e os meus pais estavam felizes que um padre dedicasse tanta atenção aos seus filhos. Whiteley nos levava passear, a esquiar, a acampar, e durante essas viagens se aproveitava de nós.

Por que você usa o plural?

Além de mim, ele também molestou de três de meus irmãos.

Como ele justificava os seus atos?

Ele não falava a respeito, ele os apresentava como um fato normal.

E por que você não o impediu logo?

Eu tinha 11 anos. Estava confuso e assustado. Quando cresci, eu falei, e descobrimos que não éramos os únicos a ser abusados.

O que aconteceu com Whiteley?

Ele foi suspenso e transferido para outros serviços, mas não tenho certeza de que ele perdeu o hábito. A Igreja diz que não sabe onde ele está, mas eu não acredito. Certamente, ele nunca foi processado.

O que aconteceu com você e os seus irmãos depois dos abusos?

A história mais triste é a do meu irmão Kevin. Ele se tornou, mas alguns anos depois eu descobri que ele tinha sido acusado de molestar crianças.

O que ele faz agora?

Eu não falo com ele há muitos anos, mas ele ainda vive no Missouri. Ele sofreu o mesmo destino do sacerdote que nos havia abusado: afastado do serviço que o aproximava das crianças, mas não punido.

Você não acha que a pressão desse relatório e a chegada do novo Papa Francisco levarão o Vaticano a mudar?

Eu duvido. Há séculos eles se comportam assim. Francisco deu passos no governo da Igreja, mas é papa há um ano e não salvou uma única criança dos predadores que atacam todos os dias.

O que se deveria fazer?

Denunciar os culpados, julgá-los pela justiça comum e puni-los também do ponto de vista canônico. Remover os bispos que protegeram os molestadores, como o de Kansas City, Robert Finn, que foi condenado por ter escondido os culpados de abuso. Prevenir, controlando os sacerdotes e esclarecendo que esses comportamentos não serão tolerados.

Até agora, a Igreja retirou o hábito de cerca de 400 padres: não é um sinal importante?

É uma defesa legal inteligente, mas não será suficiente enquanto os culpados não forem entregues à justiça.

O que você faz hoje?

Tenho 58 anos, trabalho em tempo integral como diretor da Snap. Sou casado e tenho dois filhos, de 17 e 20 anos.

Você ainda tem fé?

Não. Meu filho mais velho, no entanto, estuda em uma universidade católica, e eu fico feliz que ele tenha tido a liberdade de fazer essa escolha, sem se deixar condicionar pelo meu horror.

Comunicar erro

close

FECHAR

Comunicar erro.

Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:

''A Igreja deve denunciar os abusadores. Só assim haverá uma mudança real'' - Instituto Humanitas Unisinos - IHU