17 Mai 2013
Laurent Schlumberger foi eleito no último sábado como o primeiro presidente da nova "Igreja Protestante Unida da França, comunhão luterana e reformada", durante o primeiro sínodo nacional desse órgão em Lyon.
A reportagem é de Jean-Marie Guénois, publicada no jornal Le Figaro, 11-05-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis a entrevista.
Quem são os protestantes reformados e os protestantes luteranos?
Os protestantes reformados e luteranos insistem mais do que os outros na acolhida de Deus, que ama a pessoa sem condição alguma. Segunda convicção: eles pensam que a leitura da Bíblia nos põe a caminho. A Bíblia é uma inspiração, não é um código de vida como poderia ser como o código de trânsito. Ela desperta a nossa reflexão individual e coletiva, a nossa interpretação. A leitura da Bíblia nos torna atores, sujeitos, responsáveis. Terceira convicção: estamos acostumados a passar pelos outros: uma comunidade, uma paróquia não vive isolada, ela está muito ligada aos outros.
Da mesma forma, um pastor nunca está sozinho, ele está sempre inserido em um conselho. Ele não se autodecreta pastor. Por exemplo, o sínodo, que é a reunião dos delegados das paróquias, é o lugar em que nós elaboramos juntos a nossa reflexão. Por fim, somos todos atentos a uma certa sobriedade. Espiritual, acima de tudo: nunca estamos muito confortáveis com explosões desenfreadas. Temos uma espiritualidade interior. Sobriedade também no nosso estilo de vida: somos atentos e reservados diante de miragens do poder, das finanças, do aparecer.
Qual é a diferença entre um reformado e um luterano?
Hoje, não há diferenças de doutrina, somente de estilos. Sobre a forma de compreender a autoridade na Igreja: os luteranos são mais ligados à figura do equivalente ao bispo – chamado de "inspetor eclesiástico", porque Napoleão não quis que ele se chamasse "bispo" –, enquanto os reformados são mais atentos à dimensão dos conselhos e das assembleias eleitas. Há diferenças de estilos litúrgicos. Durante este sínodo, tivemos dois momentos de debates fortes: um sobre a forma de celebrar a liturgia de ordenação dos pastores, e constatamos uma diferença entre luteranos e reformados; o outro sobre o fim da vida, e foi bem difícil distinguir quem era luterano ou reformado nas tomadas de posição...
Por que uma união hoje?
A união é o fruto do movimento ecumênico, cuja filosofia se sintetiza em duas palavras: a missão acima de tudo, as identidades confessionais depois. Fizemos a união agora porque o mundo mudou. Os protestantes foram durante vários séculos um pequeno rebanho que buscava o seu próprio ser, a pureza. Uniam-se uns aos outros com uma identidade muito forte. Distinguiam-se dos outros e colocavam-se contra o catolicismo. Esse mundo desapareceu.
Os cultos, incluindo o catolicismo, são minoritários. Ser protestante já não pode mais ser vivido com base em um culto contra o outro. Os protestantes, portanto, devem aprender uma nova forma de ser Igreja. Devem ir ao encontro dos seus contemporâneos, tornar-se testemunhas, expor o que os faz viver, ousando se expor pessoalmente. Se a união ocorre agora e de maneira unânime é porque as mentalidades estão maduras. Elas entenderam o que está em jogo nessas evoluções.
Esse "reagrupamento", no entanto, também poderia ser o sinal de um declínio?
Nos territórios protestantes afetados por evoluções demográficas e econômicas, o protestantismo recuou, ou até mesmo desapareceu. Em muitos outros lugares, há uma renovação profunda e um crescimento numérico. Por exemplo, temos um grande número de estudantes de teologia e de pastores. O protestantismo lutero-reformado está em plena recomposição. Outro exemplo: cerca de 20% dos membros da nossa Igreja não nasceram dentro dela, mas vieram de fora. A proporção é ainda mais forte entre os pastores.
Essa união também se explica como uma reação ao crescimento dos evangélicos?
Sempre houve evangélicos nas nossas Igrejas lutero-reformadas. A criação da Igreja Protestante Unida, portanto, não é uma reação ao crescimento dos evangélicos. Ao contrário, há uma fonte nova, que diz respeito a todo o mundo, aos evangélicos, mas também à Igreja Católica, com a nova evangelização, e também a nós que respondemos por essa união. Essa fonte é a conscientização de que as filiações são agora individuais e flutuantes.
Ninguém mais quer uma instituição que dite ou que delimite. Então, há pouco mais de uma geração, há uma pluralidade espiritual que antes nós não conhecíamos. Os nossos contemporâneos estão à procura de testemunhas e não de instituições que enquadrem. A nossa união é um fruto dessa evolução. Mas a nossa resposta não é identitária. Muitas vezes, embora nem sempre, o impulso evangélico ou a nova evangelização católica são identitários, o que nós rejeitamos. Nos afirmamos a hospitalidade fazendo viver, dentro de uma mesma Igreja, duas tradições de estilos diferentes.
O que vai mudar concretamente?
A distribuição geográfica dos luteranos e dos reformados são muito diferentes, por isso não haverá grandes mudanças in loco. A mudança diz respeito principalmente a um único governo nacional. Isso vai nos obrigar também a nos reinterrogarmos sobre as nossas convicções à luz das posições dos outros. Essa hospitalidade provoca uma espécie de treinamento, no sentido esportivo, para melhor compartilhar as nossas convicções.
Qual é a sua relevância agora?
Há 1.000 responsáveis, entre pastores e presidentes de conselhos; 10 mil animadores da vida paroquial local; 110 mil militantes que contribuem regularmente; 250 mil participantes na vida da Igreja; entre 400 mil e 500 mil que pedem os serviços da Igreja Protestante Unida para batismos, casamentos e enterros.
Por que os alsacianos não fazem parte da união?
O regime dos cultos torna impossível essa união. Mas isso não nos impede de ter muitos canteiros de obras em comum. Há uma comunhão de 100% com eles. Mas a união entre luteranos e reformados que existe nessa região não é uma verdadeira união como a nossa, porque essas Igrejas foram obrigadas a criar uma superestrutura comum mantendo a sua identidade. Seria preciso mudar a lei para realizar uma verdadeira união, e o momento lá não é propício. Além disso, na Alsácia, há uma identidade protestante muito particular, com uma história própria, uma demografia, uma língua, uma cultura que todo o mundo respeita como tal.
Houve fortes relutâncias contra a formação dessa nova Igreja?
Há temores por parte da minoria luterana em Paris, que temia ser absorvida e perder a sua identidade. Dedicamos todo o tempo necessário para explicar bem o nosso projeto para evitar esse risco, e tomamos disposições específicas para proteger as minorias: uma cláusula suspensiva permite que uma minoria conserve um aspecto importante de uma identidade se ela for posta em discussão. Também dobramos a representatividade das minorias nos organismos. Hoje, enquanto celebramos a união em Lyon, mais de 90% das paróquias já adotaram o novo nome e todas adaptaram o seu estatuto. No passado, uma maior união significava muitas vezes mais divisões e dissidências. Ao contrário, pela primeira vez, todas as paróquias entraram na união.