Três leigos julgarão o ''corvo'' do Vaticano

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29 Setembro 2012

Uma pequena sala de paredes engessadas, bancos de madeira e mesas que ainda têm um lugar para o tinteiro ao lado do computador, estuque no teto com o brasão pontifício, um crucifixo atrás dos três juízes. Às 9h30 deste sábado, "em nome de Sua Santidade, Bento XVI", o presidente do Tribunal Vaticano e do júri, Giuseppe Dalla Torre, declarará aberto o julgamento de Paolo Gabriele, o mordomo do papa preso no dia 23 de maio e indiciado no dia 13 de agosto por ter roubado uma "quantidade enorme" de documentos do escritório privado de Bento XVI.

A reportagem é de Gian Guido Vecchi, publicada no jornal Corriere della Sera, 28-09-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Na casa do "corvo" – que se sentia "infiltrado pelo Espírito Santo" e que admitiu ser a "fonte Maria" do livro de Gianluigi Nuzzi, Sua Santità –, foram encontradas "dezenas" de caixas repletas de cartas fotocopiadas. Junto com o ex-"ajudante de quarto", que deve (por enquanto) responder por roubo agravado, também será julgado Claudio Sciarpelletti, técnico em informática acusados de "favorecimento", mas cujo papel é considerado "marginal": é possível que a defesa peça que a sua posição seja removida e seja processada à parte.

Um processo muito esperado e sem precedentes, pois as causas penais se referem acima de tudo a furtos em São Pedro. Público, mas sem cobertura da TV, nem fotos, nem gravações: na sala, o espaço para os espectadores é limitado, assim como para os jornalistas que choveram de todo o mundo (quatro agências e outros quatro postos sorteados). O processo de Gabriele "não é um processo da Igreja Católica, que tem os seus tribunais e segue o direito canônico", esclarece o "promotor público" de Apelações do Vaticano, Giovanni Jacob.

O processo ocorre na Cidade do Vaticano, os juízes são leigos (além do professor Dalla Torre, Paolo Papanti-Pelletier e Venerando Marano), o pequeno Estado (44 hectares) segue os "princípios liberais" do Código de Processo Penal italiano de 1913 e do código Zanardelli de 1889.

Portanto, ao contrário do que ocorre hoje na Itália, é o presidente que conduz a audiência e faz as perguntas ao réu e aos textos, e defesa e acusação se dirigem a ele. Aberto o processo, um juiz desenvolverá a exposição introdutória, as partes terão espaço para eventuais exceções. Em seguida, abre-se o debate: e em primeiro lugar Gabriele será interrogado.

É possível que acusação ou defesa peçam para ouvir novamente as testemunhas da investigação, como Pe. Georg Gänswein ou os 14 indicados pelas letras de "A" a "P": só neste caso o nome seria revelado. O processo é definido e deveria ser breve.

Segundo o professor Giacobbe, Gabriele corre o risco de pegar "até quatro anos". No Vaticano, dissera-se que "até seis", mas depende do cálculo dos agravantes. No Vaticano, não há prisões. Em caso de condenação, o caso se voltaria para a Itália. Mas o papa poderia conceder a graça.

No dia 13 de agosto, no entanto, houve "o encerramento parcial" de uma investigação que "continua aberta" para os crimes mais graves: como delitos contra o Estado e os poderes do Estado, vilipêndio das instituições, "concurso" de mais pessoas . Quanto à receptação, ao invés, "os órgãos vaticanos não têm competência para julgar crimes cometidos em território italiano", diz Giacobbe. As investigações continuam, falam-se de quatro indiciados. Se chegarem novos resultados, pode haver um outro processo.