''O vazamento de notícias visa a enfraquecer Bento XVI'', diz historiador

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28 Mai 2012

"A novidade não é o vazamento de notícias. No passado, houve outras. A novidade é a relação diferente com a mídia". Agostino Giovagnoli, professor de história contemporânea da Universidade Católica do Sagrado Coração, como historiador, não ousa dar conclusões sobre os dias de paixão no Vaticano, mas de uma coisa está certo: entre mordomos presos, livros cheios de indiscrições e de venenos, "o objetivo é enfraquecer o papa".

A reportagem é de Marina Mastroluca, publicada no jornal L'Unità, 27-05-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis a entrevista.

A primeira prisão há séculos no Vaticano: a notícia nas primeiras páginas dos jornais de todo o mundo. O que está acontecendo?

A prisão certamente expressa a determinação de perseguir o culpado, ou os culpados desse vazamento de notícias. O papa se sentiu muito magoado, foi uma decisão forte de sua parte, até mesmo obscurecendo o discurso sobre a responsabilidade daqueles que publicaram essas cartas, que foram roubadas e sobre as quais, portanto, se poderia falar de receptação.

O pontífice está sitiado em sua própria casa?

Em última análise, fatos desse tipo recaem sobre a figura do papa. Parece-me que ele está reagindo positivamente, com uma leitura espiritual e sem esconder os problemas.

O seu pontificado sai enfraquecido desse episódio?

O objetivo, pelo menos de alguns, certamente é o de enfraquecer o papa. É preciso ver se conseguirão.

Movem-se as peças para predeterminar a sucessão?

Sempre estamos em uma posição de pré-conclave, as peças se movem já logo depois da eleição do papa, de qualquer papa. A questão é diferente nesse caso. Há uma ambiguidade nessas operações moralizadoras que atingem os colaboradores de Bento XVI, produzindo consequências que desmentem as intenções de proteger o papa.

Tempos atrás, a palavra-chave do outro lado do Tibre era "prudência". Hoje, os venenos do Vaticano vêm à tona, um pouco como acontece com a roupa suja da política italiana. Há uma contaminação?

Sempre há uma influência. Mas eu não enfatizaria muito o passado. Houve as fotos do Papa Pio XII sobre o seu leito de morte, tiradas pelo seu médico Galeazzo Lisi e depois vendidas. O Vaticano pululava de informantes no tempo do fascismo, pessoas que se reportavam ao próprio Mussolini. Casaroli era espionado por grampos. Nos tempos de Wojtyla, havia uma grande presença de espiões soviéticos ou poloneses. A novidade não é o vazamento de notícias, mas sim a relação diferente com a mídia. A comunicação mudou e talvez também contagiou o Vaticano. Antes, talvez ocorresse para a fruição dos serviços secretos internacionais; hoje, há uma difusão generalizada, que certamente corresponde a lógicas políticas. Mas o fato de fazer saber é considerado menos grave. No caso do mordomo, também se disse que ele fazia isso "pelo bem da Igreja".

A prisão do mordomo do papa e, apenas 24 horas antes, o afastamento do IOR de Gotti Tedeschi: fatos diferentes, porém, que parecem deixar a sensação de uma Igreja distante da sua vocação espiritual, tanto entre os fiéis quanto entre os não crentes. É isso?

As duas questões são diferentes. Há apenas uma coincidência temporal infeliz. Mas é verdade que tudo isso se transforma em escândalo e sobretudo em desorientação entre os fiéis. A história de Gotti Tedeschi está ligada a uma discussão mais ampla sobre o IOR: se esse instrumento ainda serve, se deve permanecer protegido com graus de confidencialidade ou não. Em muitos países onde a Igreja Católica está em dificuldades, essa confidencialidade tem um objetivo válido, por exemplo. Mas isso vai contra uma lógica de total transparência. Em todo caso, eu distinguiria a questão IOR do vazamento de notícias.

Nas cartas roubadas, fala-se do caso Boffo e de Emanuela Orlandi, do ICI [imposto imobiliário] à Igreja e do hospital San Rafael. A "materialidade" da Igreja Católica não corre o risco de marcar um sulco com a sociedade civil e com a comunidade dos fiéis?

É um componente não eliminável. Não se pode pensar em uma realidade concreta como a da Igreja privada de estruturas materiais. Com toda a confusão que isso implica – penso no fato do ICI, por exemplo. Se não é eliminável, isso que você chama de "materialidade" deve ser gerida com grande cuidado. Portanto, se há uma responsabilidade nas instituições eclesiásticas é não ter atenção suficiente, não ter a capacidade de se sintonizar com a sensibilidade dos tempos.

A Igreja, na sua história, sobreviveu a grandes escândalos.

No Renascimento, entre 1400 e 1500, na época dos Bórgias, por exemplo. De um ponto de vista histórico, o escândalo daquela época se justificava pela necessidade de que o papa, veterano do cativeiro de Avignon, construísse um um verdadeiro Estado, diante dos grandes Estados nacionais em formação. Hoje, a Igreja ainda tem a necessidade de salvaguardar a sua própria independência e liberdade, mas ficando à escuta do seu próprio tempo, mesmo renunciando a alguma coisa do ponto de vista material. Há um declínio das ofertas para as missões, isso é um problema. Mas isso não significa que seja preciso entrar na gestão do San Raffaele.

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