Engenheiro e economista 'demolem' sistema neoliberal

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24 Março 2012

Um engenheiro e um economista se encontraram para tomar um chope no Flamengo. Da conversa surgiu a ideia de escrever um livro. Seu núcleo: demolir o neoliberalismo do ponto de vista da lógica, da matemática e da economia política.

A reportagem é de Eleonora de Lucena e publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, 24-03-2012.

O resultado inusitado está em "O Universo Neoliberal em Desencanto" (Civilização Brasileira), que mistura fórmulas e análises buscando desmistificar modelos herméticos e cantilenas que confundem política econômica com gestão doméstica.

O economista é José Carlos de Assis, 63, doutor em engenharia e professor da Universidade Estadual da Paraíba. Um dos precursores do jornalismo investigativo em economia no Brasil, nos anos 1980 apurou casos de corrupção na ditadura militar - muitas de suas reportagens foram publicadas na Folha.

O engenheiro é Francisco Antonio Doria, 66, doutor em física e professor emérito da UFRJ. Com o matemático e filósofo Newton da Costa, ele provou que a Teoria do Caos é "indecidível". Parece complicado - e é. O conceito é aplicado aos mercados ditos equilibrados. O resumo:

"O mercado atinge o equilíbrio, mas, como não sabemos em geral calcular-lhe os preços de equilíbrio, nunca saberemos, em geral, se de fato alcançou-se o equilíbrio", escreve Doria.

Assis diz que a economia matematizada foi a força ideológica auxiliar do movimento regressivo chamado neoliberalismo. Defende que a política monetária restritiva, alardeada como prova de austeridade e de responsabilidade, não passa de "um instrumento geral de distribuição de renda em favor dos ricos".

Para ele, os ideólogos ortodoxos se aproveitam da opacidade da política monetária para dar cobertura a interesses reais. É nela que se esconde a "luta de classes contemporânea".

Os autores espinafram o sistema de metas de inflação do Banco Central - "não passa de uma regra de três elementar" - e o conceito do PIB potencial, que limita as estimativas de crescimento - "a rigor não pode ser medido; é simplesmente inferido".

E disparam: "Ainda que baseadas num aparato matemático impressionante, as previsões de economistas têm a confiabilidade das previsões de astrólogos".

Assis considera que a nova polarização do mundo pós-Guerra Fria ocorre entre a política norte-americana, comandada pela ala progressista do Partido Democrata, e a da Europa, liderada pela Alemanha. A primeira atenderia interesses dos mais pobres; a segunda só favoreceria aos "donos do dinheiro".

Prevendo que o modelo ancorado nas exportações não se sustentará no Brasil, ele pede que o governo siga o exemplo dos EUA (e também da China) e tenha um projeto de desenvolvimento que cuide do mercado interno, reduza juros, distribua renda e se proteja da avalanche de capitais externos e assimetrias do comércio internacional.

COLAPSO

No fim, o livro se entusiasma com a aposta do colapso do neoliberalismo e chega a antever uma idílica "Idade da Cooperação".

Apesar das fórmulas matemáticas que pipocam em alguns trechos e travam a leitura para leigos, a obra tem tom quase de conversa informal.

Assis reconhece que a maioria não entenderá o argumento matemático de Doria. "Não tenham escrúpulos em saltar os trechos mais complexos", sugere. Segui o conselho.

Em ziguezagues, traz salpicadas de história e filosofia. Numa passagem lembra a galeria Uffizi e levanta uma boa pergunta: "O capitalismo de Florença produziu a Renascença. O que nos dará o capitalismo de hoje?".

O UNIVERSO NEOLIBERAL EM DESENCANTO

AUTOR Francisco Antonio Doria e José Carlos de Assis
EDITORA Civilização Brasileira
QUANTO R$ 34,90 (224 págs.)

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