06 Novembro 2011
"Todas as criancinhas têm direito a aprender a patinar no gelo, ainda que estejamos no calor", disse Rosario Murillo, a primeira-dama da Nicarágua, ao inaugurar o parque de diversões Crianças Felizes, que funcionará gratuitamente até janeiro.
 
 A reportagem é de Flávia Marreiro e publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, 06-11-2011.
 
 O parque - inaugurado mês passado em Manágua e que conta com uma seção de exibição de armas - é só a face mais chamativa do pacote de programas para os mais pobres lançados pelo governo do presidente nicaraguense, Daniel Ortega, 65.
 
 Ortega deve ser reeleito hoje em eleições questionadas pela oposição e por ativistas internacionais.
 
 Apesar do veto da Constituição à reeleição consecutiva, ele conseguiu da cúpula do Judiciário, alinhada ao governo, o sinal verde para buscar mais um mandato.
 
 O líder da Revolução Sandinista, que derrubou as décadas da ditadura dos Somoza em 1979, tem quase 50% das intenções de votos.
 
 O jornalista Fabio Gadea, 80, apoiado por intelectuais e ex-sandinistas, não deve chegar a 30%, e o ex-presidente Ricardo Alemán (1996-2001), condenado por corrupção em 2003, fechou pacto tácito com Ortega e pode capturar 10% do total.
 
 A confortável situação de Ortega é fruto da união de fatores à primeira vista contraditórios: a proximidade com o venezuelano Hugo Chávez, uma gestão macroeconômica avalizada pelo FMI e políticas pró-empresários que fizeram dobrar o investimento privado estrangeiro no último quinquênio.
 
 É da aliança com Chávez que vem o dinheiro para o parque de diversões e programas como "Teto de Zinco", de reforma habitacional.
 
 Os fundos gerados pela compra de combustível pela chavista Petrocaribe geraram em 2010 US$ 500 milhões, ou 7% do PIB, para gastos de iniciativas ligadas diretamente ao casal presidencial.
 
 Uma das marcas do governo Ortega, que voltou ao poder em 2007, é a presença da primeira-dama e a virada religiosa do discurso.
 
 Com a reeleição ao que parece garantida, o objetivo dele hoje é conseguir maioria qualificada no Parlamento para passar reforma que permita a reeleição indefinida.