Papa decepciona os protestantes alemães

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26 Setembro 2011

Enttäuschung (decepção) é a palavra que os principais jornais alemães destacam hoje sobre a jornada ecumênica de Erfurt. Em artigos e análises, admite-se que o papa realizou um gesto importante ao visitar o antigo mosteiro agostiniano em que Martinho Lutero foi monge e se ordenou sacerdote, mas lamentam que, em questões doutrinais fundamentais, ele não se mexeu um milímetro para satisfazer os protestantes e dar um salto à frente no ecumenismo.

A reportagem é de Eusebio Val, publicada no jornal La Vanguardia, 24-09-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

O jornal Süddeutsche Zeitung, de tendência liberal e publicado em Munique, capital da católica Baviera, cidade natal de Joseph Ratzinger, reconhece, por exemplo, que Bento XVI "foi o primeiro pontífice a participar de um ofício ecumênico em uma igreja evangélica alemã".

"No entanto, o papa decepcionou as expectativas", afirma o jornal de Munique, acrescentando julgamentos muito severos: "Ele não deu nenhum sinal de aproximação entre as confissões, não mostrou nenhuma perspectiva para uma celebração comum do 500º aniversário da Reforma, em 2017. Ele não viajou para a sua pátria com presentes de hóspede, e a religião não pode ser objeto de negociações. Quando se trata de fé, esse papa descarta qualquer compromisso".

Outro jornal de referência, o conservador Frankfurter Allgemeine, vai na mesma linha ao destacar a desilusão dos protestantes, apesar da prudência diplomática nas declarações oficiais. Nos bastidores, os pastores evangélicos apresentavam uma atitude mais crítica, alguns até com raiva. Em um artigo de página inteira, de reportagem e análise, o sisudo jornal de Frankfurt intitulou de forma inequívoca sobre os resultados de Erfurt: "Weniger als wenig" (menos do que pouco).

Os protestantes se sentiram feridos pelo tom tão taxativo de Bento XVI ao dizer que é impossível entrar em uma negociação para ceder sobre questões de fé, como a questão da Eucaristia recíproca, e também o fato de ele ter ignorado completamente o convite para a festa de 2017 para celebrar os cinco séculos da Reforma.

A impressão é de que, sob esse papado, a Igreja Católica não descerá nenhum degrau em sua posição hegemônica no universo cristão. Se os demais querem se mover em direção a ela, como ocorreu com os anglicanos conservadores ou como se tenta com os tradicionalistas lefebvrianos, sejam bem-vindos, mas não em troca de concessões significativas.

A avaliação negativa da imprensa na questão ecumênica aflorou na coletiva de imprensa de hoje, em Friburgo. O porta-voz do Vaticano, o padre jesuíta Federico Lombardi, afirmou que o papa já havia alertado, em sua mensagem aos católicos alemães antes da viagem, sobre as expectativas de resultados "espetaculares".

Para Lombardi, o tempo dedicado a Lutero em Erfurt e a reflexão do papa que o valorizou como um grande testemunho da fé são dois elementos central da viagem e se encaixam perfeitamente com o tema da visita: "Onde há Deus, há futuro". Segundo o porta-voz, o papa, com sua atitude, fez mais pelo ecumenismo do que cedendo em algum detalhe doutrinal ou litúrgico. Lombardi, no entanto, considerou "um pouco exagerada" a opinião dos mais otimistas de que Bento XVI "reabilitou" Lutero. "Isso sim seria uma notícia sensacional", brincou o porta-voz.