Celso Amorim substitui Nelson Jobim na Defesa

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04 Agosto 2011

A presidente Dilma Rousseff demitiu ontem Nelson Jobim do Ministério da Defesa, nomeando para seu lugar o ex-chanceler Celso Amorim. Esta foi a quarta mudança promovida no ministério em pouco mais de sete meses de governo.

A reportagem é de Fernando Exman e publicada pelo jornal Valor, 05-08-2011.

O destino de Jobim foi selado na tarde de ontem, depois de a presidente ler a íntegra de reportagem da revista "Piauí" em que o ex-ministro da Defesa chama a ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, de "fraquinha" e diz que a chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, "nem sequer conhece Brasília". Ele censurou também a relação do governo com o Congresso.

As críticas tornaram insustentável a situação de Jobim no cargo. Na véspera, Dilma e o ex-ministro haviam se encontrado para tratar de assuntos administrativos do Ministério da Defesa. A reunião serviria também para distensionar as relações entre os dois, mas acabou tendo o efeito inverso, pois Jobim não comentou com Dilma que fizera críticas às colegas de ministério na entrevista à "Piauí".

Dias antes, Jobim revelou em outra entrevista que votou em José Serra (PSDB) na eleição presidencial de 2010. Em seguida, também a jornalistas, disse que pretendia continuar no governo e elogiou a presidente.

Durante o dia de ontem, o Palácio do Planalto evitou alimentar a crise. Dilma tomou a decisão de substituir Jobim, mas optou por não fazer o anúncio porque o ministro não estava em Brasília. Ela ordenou, então, que ele, que estava em missão oficial em Tabatinga (AM), retornasse imediatamente à capital federal. O plano de Jobim era fazer isso apenas no fim da noite, mas ele teve que embarcar num avião no meio da tarde.

Jobim participou ontem de cerimônia de assinatura de um acordo com a Colômbia para a proteção da região fronteiriça. Já informado da crise em Brasília, negou, em entrevista a uma TV do Amazonas, que tivesse feito os comentários desairosos sobre Ideli e Gleisi.

"O que nós comentávamos e nos referíamos era o projeto de lei sobre informações. Em momento algum fiz referência dessa natureza. Aliás, o que eu realmente reconheço em Ideli Salvatti é a capacidade e uma tenacidade importantíssima na condução dos assuntos dentro do Congresso", afirmou. "Isso faz parte de um jogo de intrigas, da tentativa de desestabilizações."

Ao chegar a Brasília, no início da noite, dirigiu-se diretamente ao Palácio do Planalto e entregou a carta de demissão à presidente num rápido encontro. Seguiu-se o script desenhado pela presidente. Jobim fora avisado antes que, caso não pedisse sua exoneração, seria demitido.

O vice-presidente Michel Temer esteve cotado para assumir a Defesa, mas seus aliados informaram durante o dia que ele não desejava a função. Preferia continuar ajudando na articulação do Executivo com o Congresso a mergulhar na burocracia e nos diversos afazeres do Ministério da Defesa.

Apesar de Jobim ser filiado ao PMDB, o partido não reivindicou a escolha do substituto. A legenda de Temer considera que, além de não render dividendos políticos e eleitorais, a Defesa é um cargo de Estado. O PMDB quer ter crédito para fazer outras cobranças ao Executivo.

Os pemedebistas tampouco consideravam que a Defesa fosse controlada pelo partido. A permanência de Jobim no atual governo atendeu a uma demanda do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Como Jobim não tem uma relação excelente no PMDB, ninguém brigou por ele", explicou um integrante da executiva nacional da sigla.

Outros dirigentes do PMDB avaliaram que o desgaste de Jobim ocorreu devido ao seu temperamento e às próprias atitudes. Disseram ainda que suas queixas resultavam de insatisfação. Segundo esses pemedebistas, o que incomodava Jobim era a falta de prestígio. Com Lula, Jobim era frequentemente chamado ao Planalto para discutir questões jurídicas e políticas. Ex-ministro do Supremo Tribunal Federal, fazia a ponte entre o Executivo e o Judiciário.

Com a posse de Dilma, no entanto, a vida de Jobim mudou. Sua atuação passou a restringir-se à Defesa. Não bastasse, Dilma fez cortes pesados no orçamento do ministério e congelou o processo de aquisição de novos caças para a Força Aérea Brasileira, programa até então coordenado por Jobim, e determinou que o ministro Fernando Pimentel (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior) participasse das discussões sobre o tema.

Celso Amorim chefiou o Itamaraty nos dois mandatos de Lula, além de ter exercido o mesmo cargo por um ano e sete meses na gestão Itamar Franco. Filiou-se ao PT para tentar disputar uma vaga no Senado pelo Rio de Janeiro, mas não a conseguiu depois que os petistas fecharam acordo com o PMDB.

A volta de Amorim surpreendeu porque, durante a transição do governo, ele pediu mais de uma vez a Lula que convencesse Dilma a mantê-lo no Itamaraty. A presidente optou, no entanto, por substituí-lo por Antônio Patriota. Constrangido com os pedidos insistentes de Amorim, Lula chegou a comentar com um assessor: "O cara não se manca que o nosso tempo acabou".

Na ditadura militar, Amorim foi demitido da presidência da Embrafilme por ter autorizado a distribuição de "Pra Frente Brasil", filme que denunciou a prática de tortura durante o regime. A obra desagradou aos militares.

Para parlamentares da oposição, a troca de Jobim por Amorim vai reforçar a influência de Lula no governo. O líder do DEM na Câmara, deputado ACM Neto, disse que Amorim teve uma "postura ideológica" à frente do Itamaraty. Já o presidente do PSDB, deputado Sérgio Guerra (PE), deu declarações sinalizando que o Jobim - hoje filiado ao PMDB - seria bem recebido na legenda dos tucanos. O presidente nacional do Democratas, senador José Agripino (RN), lamentou a saída de Jobim. "Os probos, sinceros, são demitidos. Os acusados ficam."

Já deixaram o governo Dilma Antonio Palocci e Alfredo Nascimento. A crise que provocou a demissão de Palocci também levou à troca de Ideli e Luiz Sérgio, respectivamente, nas Pastas de Relações Institucionais e Pesca.

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