26 Fevereiro 2016
"Tudo indica que em Goiás a ditadura civil e militar não acabou. Que atraso cultural e ético! A mensagem termina com as palavras: 'Há resistência, há vida!'", escreve Marcos Sassatelli, frade dominicano, doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP) e professor aposentado de Filosofia da UFG.
Eis o artigo.
A Mensagem “Denúncia da Violência Policial no Estado de Goiás”, do dia 18 do mês corrente, inicia dizendo: “Enviamos esta Mensagem como forma de denúncia do que vem ocorrendo no Estado de Goiás. A polícia militar goiana já é conhecida por sua truculência, contudo, nos últimos meses e, particularmente nos últimos dias, a violência policial tem se intensificado de maneira desavergonhada”.
Como prova disso, a Mensagem traz três relatos de fatos recentes. Primeiro relato: “Na segunda-feira, dia 15/02 estudantes ocuparam a sede da Secretaria de Educação, Cultura e Esporte (SEDUCE) como forma de protesto contra a abertura dos envelopes com as propostas das Organizações Sociais (OSs) ‘qualificadas’ para gerirem 23 Escolas da rede pública estadual, que aconteceu a portas fechadas, violando o princípio da transparência, e em local diverso do previsto no Edital, caracterizando mais uma ilegalidade.
Minutos após a ocupação, a Polícia Militar adentrou o prédio e prendeu os 31 manifestantes, dos quais 13 adolescentes e 18 adultos. Os advogados do movimento foram impedidos de entrar no local e acompanhar a operação, o que viola os direitos assegurados aos advogados no art. 7º da Lei 8.906/94, dentre os quais o de ter garantida a sua comunicação com os seus clientes, mesmo quando detidos e considerados incomunicáveis.
As 3 mulheres detidas foram encaminhadas para o 14º Distrito Policial e os 15 homens para a DEIC - Delegacia de Investigações Criminais, onde passaram a noite. Na DEIC, por não haver vagas nas celas, os manifestantes dormiram no pátio, ao relento, e não foi permitida a entrada de colchonetes. A eles somente foi liberado o consumo de água”.
Continua a Mensagem: “Dentre os presos estava o professor do curso de História, da UFG (Goiânia), Rafael Saddi. Rafael contou que estava próximo ao prédio da SEDUCE, mas não participava da ocupação. Ele estava na condição de observador da ação policial para ‘garantir que nenhum secundarista fosse machucado’. Quando chegou no prédio, os policiais mandaram-no deitar no chão e o algemaram. Depois disso, um policial ainda apontou o dedo na cara dele e disse: ’ah, você é aquele professor da UFG que estava falando coisas né’... ou seja, trata-se de uma prisão política deliberada de um intelectual que vinha denunciando os abusos desse processo de implantação das OSs no Estado”.
Segundo relato: “Na quarta-feira (17/02) no período da tarde, no centro de Goiânia (cruzamento da Av. Goiás com a Rua Três), durante uma manifestação contra o aumento da passagem de ônibus, a PM espancou uma garota até ela desmaiar. Vários adolescentes foram presos por ‘P2’ infiltrados e sem identificação alguma. A polícia cercou todos os manifestantes e não deixaram dispersar, vários foram presos e muitos apanharam. A moça desmaiada foi levada para dentro de um hotel por vários policiais, todos homens, que não deixavam ninguém se aproximar”.
Observa, pois, a Mensagem: “em 3 dias contabilizou-se 47 presos políticos; 18 foram liberados hoje (17/02) a tarde”.
Terceiro relato: “No período da noite (20:50h), também do dia 17/02, recebemos o seguinte comunicado de um dirigente estadual do MST (GO): "Companheirada, neste momento está em andamento a operação de despejo do acampamento Padre Jordá, em Itapaci-GO contrariando todos os acordos e entendimentos, inclusive normas sobre reintegração de posse que impede o comprimento de liminar após as 18h. Nem o coronel Edson e o Mota estão conseguindo retirar a tropa do local e abortar o processo. Ficamos todos e todas em alerta”.
Quinta-feira (18/02), pela manhã, “recebemos a confirmação que as famílias do acampamento Pe. Jordá (Itapaci-GO), foram despejadas, contrariando acordos, entendimentos e normas de reintegração de posse”.
Diz ainda a Mensagem: “Seja na cidade, que no campo o coronel Marconi Perillo (PSDB) não se constrange em dispor da violência contra aqueles que ousam se manifestar contra suas ações!”.
A Mensagem conclui afirmando: “Entendemos ser urgente que tais fatos se tornem conhecidos nacional e internacionalmente. A imprensa local é majoritariamente cooptada pelo Governo do Estado. Pedimos apoio na divulgação, bem como que contribuam provocando o posicionamento das entidades/instituições (via publicação de notas de repúdio, indignação, notícias, etc...) com as quais mantém contato. É absurda a situação de violência do Estado de Goiás, via seu braço armado, a Polícia Militar”.
Tudo indica que em Goiás a ditadura civil e militar não acabou. Que atraso cultural e ético! A mensagem termina com as palavras: “Há resistência, há vida!”.
Assinam a Mensagem: Fabiana Itaci C. Araujo, Psicóloga e Profa. UFG/Regional Goiás; Luís Augusto Vieira, Assistente Social e Prof. UFG/Regional Goiás; Frei José Fernandes Alves, OP, Membro da Comissão Justiça e Paz da CNBB; Irmã Maria Madalena dos Santos, OP, Coordenadora da Comissão Dominicana de Justiça e Paz do Brasil; Irmã Sandra Camilo Ede, OP, Coordenadora da CRB/Regional Goiânia e o autor deste artigo, Frei Marcos Sassatelli, OP, Prior do Convento dos Frades Dominicanos de Goiânia.
A Mensagem faz, pois, um apelo, dizendo: “Aos que desejarem replicar e assinar essa mensagem em suas listas de contatos, sintam-se a vontade”.
Enfim, comunicamos que a Mensagem foi divulgada na Assembleia da OEA no mesmo dia em que foi redigida (18/02). Um outro Goiás é possível e necessário! A esperança nunca morre!
O texto da Mensagem, citado neste artigo, pode ser encontrado aqui ou aqui.
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Violência policial no Estado de Goiás - Instituto Humanitas Unisinos - IHU