Um monge grego na cadeia, em pleno Natal

Mais Lidos

  • Alessandra Korap (1985), mais conhecida como Alessandra Munduruku, a mais influente ativista indígena do Brasil, reclama da falta de disposição do presidente brasileiro Lula da Silva em ouvir.

    “O avanço do capitalismo está nos matando”. Entrevista com Alessandra Munduruku, liderança indígena por trás dos protestos na COP30

    LER MAIS
  • Dilexi Te: a crise da autorreferencialidade da Igreja e a opção pelos pobres. Artigo de Jung Mo Sung

    LER MAIS
  • Às leitoras e aos leitores

    LER MAIS

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

03 Janeiro 2012

Preso na Grécia o abade do mosteiro mais importante da sagrada montanha. O patriarca de Moscou exige a libertação. O patriarca de Constantinopla se cala. A rivalidade entre os dois reacendeu a partir da viagem à Rússia de uma relíquia da Virgem.

A reportagem é de Sandro Magister, publicada em seu sítio, Chiesa, 02-01-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Natal amargo no Monte Athos. Na sagrada montanha, na Grande Lavra, está conservada a relíquia do cinto da Virgem. Em Vatopedi, o mais importante dos 20 mosteiros, há um higúmeno, um abade, chamado Efrém, que é há anos a personalidade mais forte e de autoridade de todo o Athos.

O higúmeno Efrém foi à Rússia, em dezembro passado, levando consigo justamente a relíquia do cinto da Virgem. E os fiéis acorreram para venerá-la não aos milhares, mas aos milhões, sendo que alguns dizem que foram três milhões, outros cinco, presentes nas diversas cidades por onde a relíquia passou.

Mas, retornando ao Athos, no dia 24 de dezembro – vigília de Natal no calendário latino, que precede em 13 dias o calendário da montanha sagrada –, a polícia grega bateu na porta do mosteiro de Vatopedi, pediu pelo higúmeno Efrém e o prendeu.

Desde a terca-feira 27 de dezembro, o higúmeno Efrém está em uma prisão da Grécia, apesar de sua idade avançada e de sua precária saúde. A magistratura o acusa de ter se envolvido em uma venda ilegal de terras, por parte do seu mosteiro, em detrimento do Estado helênico.

A investigação estava em curso desde 2008 e parecia rotineira. Mas, nos últimos dias, de repente, ela se concretizou com essa prisão sem precedentes, em um Estado em que a religião cristã ortodoxa tem um status privilegiado, com uma autonomia ainda mais marcada para o Monte Athos.

De Moscou, o metropolita Hilarion, de Volokolamsk, número dois do Patriarcado da Igreja Ortodoxa Russa e seu ministro de Relações Exteriores, reagiu com uma dura entrevista à agência Interfax.

A personalidade do higúmeno Efrém – disse Hilarion – é tão alta e respeitada em todo o mundo, o seu zelo em dar vida ao monaquismo do Athos é tão impressionante e reconhecido por todos, que a sua prisão não pode ser senão "um ataque hostil aos monges do Athos e de toda a Igreja Ortodoxa.

Ainda de Moscou, o patriarca Kirill enviou uma mensagem ao presidente da República grega, Karolos Papoulias, para expressar a dor de "milhões de fiéis da Rússia, da Bielorússia, da Ucrânia, da Moldávia e de outros países" diante da notícia da prisão de um monge tão proeminente, "justamente nos dias em que a Igreja Ortodoxa Grega celebra a Natividade de Cristo", e para pedir a sua libertação.

O Monte Athos e seus mosteiros estão sob a jurisdição eclesiástica do patriarcado ecumênico de Constantinopla. No entanto, diante dos imediatos e ferozes protestos da Igreja russa, chama a atenção o silêncio de Bartolomeu I, que, de Istambul, não emitiu nenhum comentário sobre a prisão do higúmeno Efrém.

O jornal de Atenas Ekathimerini deu uma ênfase especial a esse contraste. E o atribuiu à rivalidade entre os patriarcados de Moscou e de Constantinopla, o primeiro dos quais está há muito tempo ativo em atrair o Athos para a sua própria órbita. A peregrinação do higúmeno Efrém à Rússia com a relíquia do cinto da Virgem seria parte desse projeto, naturalmente mal visto por Bartolomeu I.

O fato é que o silêncio do patriarca de Constantinopla sobre a prisão do número um dos monges do Monte Athos é ainda mais barulhento por causa dos protestos do patriarcado de Moscou.