Por: Cesar Sanson | 30 Junho 2014
Um grupo de manifestantes seguiu pela Avenida Atlântica, em Copacabana, do Posto 5 até a Fan Fest, em uma marcha silenciosa marcada apenas por dois bumbos, na tarde desse domingo. Muitos usavam mordaça e vestiam camisetas amarelas com o número -1 e o nome de vítimas do Estado nas favelas – como o pedreiro Amarildo, Cláudia (arrastada por uma viatura da Polícia Militar) e o dançarino DG. Outras camisas exibiam Educação e Saúde, com o número zero estampado.
A reportagem é de Akemi Nitahara e publicada por Agência Brasil, 29-06-2014.
Os manifestantes simularam um jogo de toque bola na rua. Nos cartazes, dizeres como “pelo direito à livre manifestação”, “não é normal o estado matar negro e pobre”, “pelo fim do genocídio dos pobres e negros”, “o poder e a força bruta não vão nós calar” e “pelo nosso direito à cidade”. Também foram lembrados os nomes Rafael, Caio e Fábio, considerados presos políticos pelos manifestantes.
O morador de rua Rafael Braga Vieira foi preso durantes os protestos de junho de 2013, de posse de material de limpeza, mas foi condenado por porte de artefato explosivo. Caio Silva de Souza e Fábio Raposo estão presos e são julgados por homicídio triplamente qualificado, após terem acendido o rojão que atingiu e matou o cinegrafista Santiago Andrade, em fevereiro deste ano.
A fotógrafa Paula Kossata explica que começou a acompanhar as manifestações relacionadas à Aldeia Maracanã em 2012 e acabou aderindo às causas das ruas por causa da repressão sofrida pelos manifestantes. Segundo ela, os movimentos sociais estão sendo criminalizados, e o país vive um regime de exceção.
Para a ativista, o país passa por uma situação na qual quem deveria proteger a população a agride. “A polícia deveria proteger o povo, mas acaba virando inimigo. A polícia, assim como os políticos, são nossos funcionários e estão ali para proteger a gente, mas é só levantar um cartaz que você é criminalizado. Até o nosso templo do futebol, o Maracanã, foi sequestrado do povo, privatizado, e o povo não tem mais acesso”, acrescenta.
Paula destaca que a manifestação é pacífica, mas enfática quanto aos objetivos: “Precisamos de um momento mais pesado, de luto. Não adianta fazer ato lúdico, rodar bambolê na frente deles. Precisamos ser enfáticos em relação à violência policial”.
Na concentração do ato, um major da Polícia Militar aproximou-se dos manifestantes para pedir informações sobre o trajeto e objetivos do protesto. Ele também disse que a corporação acompanharia a marcha para garantir a segurança deles e da população. A advogada Eloisa Samy aproveitou para pedir apoio à força policial.
“Pedimos o auxílio de um pequeno número de policiais, nada ostensivo, três homens, a fim de evitar que pessoas de fora da manifestação nós hostilizem, porque isso tem sido bastante comum e acirra os ânimos, causando tumulto e confusão”, explicou a advogada. Eloísa foi uma das pessoas envolvidas com manifestações intimadas pela polícia a dar explicações às vésperas da Copa. Para ela, a ação foi uma forma de intimidar os ativistas e dispersar os atos.
“Expediram um mandado de busca e apreensão para equipamentos de informática e com acesso à internet, mas levaram capacete de moto, meus cintos, por serem pretos, meu bastão de softball, que está apreendido. Levaram coisas que estavam fora do escopo do mandado, como máscara contra gases, óculos de proteção. Não é só para intimidar, mas para obrigar o grupo a se dispersar e criar uma situação de conflito. Isso tem sido feito cotidianamente”, reclamou Eloísa.
Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
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Marcha silenciosa pede fim da violência policial e direito a manifestação no Rio - Instituto Humanitas Unisinos - IHU