21 Agosto 2015
A chanceler alemã, Angela Merkel, cobrou que o Governo brasileiro cumpra até o ano de 2030 a meta de zerar o desmatamento ilegal da Amazônia. Em visita oficial a Brasília, Merkel tratou do assunto em conversas com a presidenta Dilma Rousseff nesta quinta-feira. Como resposta, ouviu que o Brasil caminha para essa redução e que nos últimos anos conseguiu diminuir em 83% o desmate ilegal. “Na década de 1990 fui ministra do meio ambiente e, naquele tempo, era impossível imaginar um desafio como esse. Mas hoje já é”, afirmou a chanceler.
A reportagem é de Afonso Benites, publicada por El País, 20-08-2015.
A alemã chegou ao Brasil na noite de quarta-feira acompanhada de 12 ministros e vice-ministros. Foi uma visita-relâmpago, que durou menos de 24 horas. Na agenda, uma série de reuniões entre autoridades dos dois países para debater, entre outros assuntos, os compromissos a serem apresentados na Convenção sobre Mudanças Climáticas (COP-21) que ocorrerá em Paris, em dezembro. Na declaração conjunta à imprensa, Rousseff e Merkel reforçaram a intenção dos dois países de liderarem os processos voltados para a preservação ambiental e de redução da emissão de gases de efeito estufa.
Um dia antes da reunião entre as duas mandatárias, representantes dos dois ministérios do Meio Ambiente assinaram um acordo de cooperação para a conservação florestal e a regularização ambiental de imóveis rurais na Amazônia e no Cerrado brasileiro. O compromisso prevê que agricultores familiares dos Estados do Mato Grosso, Pará e Rondônia tenham suas terras regularizadas e recebam apoio financeiro para reverter o passivo ambiental das áreas que deveriam ser preservadas. A expectativa é que o Governo alemão invista até 183 milhões de reais nesses projetos por meio de financiamentos em parceria com o banco brasileiro Caixa.
Em sua declaração pós-encontro, a chanceler anunciou que seu país criará um fundo de 500 milhões de euros para financiar projetos ambientais pelo mundo e que os empresários de seu país têm o interesse em investir na área de energia renovável. Esse último ponto coincidiu com a fala da presidenta brasileira. Rousseff também convidou os alemães a participarem das concorrências públicas dentro de seu bilionário programa de investimento em logística.
A vinda de Merkel ao Brasil animou o Governo brasileiro, que viu o encontro como uma demonstração de apoio e confiança na economia local, que enfrenta uma grave crise, com o aumento do desemprego e queda de confiança do mercado global. “Neste cenário de incertezas na economia internacional, sabemos o quanto é importante essa parceria”, disse Rousseff. Nos últimos meses, ela se deparou com crises política e econômica que resultaram em ao menos 11 pedidos oficiais de impeachment no Congresso Nacional e de multitudinárias manifestações contra a sua gestão.
Mercosul e ciberdefesa
Outros dois temas tratados no encontro bilateral foram a implementação do acordo entre o Mercosul e a União Europeia e os investimentos em ciberdefesa. Merkel se comprometeu a até o fim deste ano apresentar as propostas para acelerar as negociações entre os dois blocos econômicos. A chanceler caracterizou o Mercosul como um grupo “heterogêneo”, mas que ela confia na liderança do Brasil para concretizar tudo o que for acertado.
As duas disseram que a reunião servia também para incrementar o comércio bilateral. Atualmente, cerca de 1.600 empresas germânicas estão em solo brasileiro. A Alemanha é o principal parceiro europeu do Brasil, eles movimentam entre si cerca de 20,4 bilhões de reais por ano.
Na questão cibernética, Merkel e Rousseff citaram a importância de reforçarem a segurança dos dados pessoais. As duas foram, nos últimos anos, vítimas de espionagem da agência de segurança dos Estados Unidos (NSA). Sem dar detalhes sobre esse tema, os representantes de Defesa dos dois países, Jaques Wagner e Ralf Brauksiepe, informaram que assinaram um termo em que concordaram em cooperar em áreas como Segurança Defesa Cibernética e Operações de Paz.
Um dos pontos de destaque na área de ciência e tecnologia foi a declaração conjunta que prevê o fortalecimento das pesquisas para o fornecimento de minerais e produtos químicos como nióbio, tântalo e terras-raras. Esse último trata-se de uma série de elementos voltados para a fabricação de produtos como smartphones, aparelhos de ressonância magnética, tablets, carros híbridos, turbinas de energia eólica e catalisadores para refino de petróleo. Atualmente, a China é responsável por 90% da produção mundial. O objetivo da Alemanha é diversificar esse mercado e o Brasil seria um dos possíveis fornecedores.
Elas também reforçaram a necessidade de lutar pela reforma do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas. Os dois países, junto com o Japão e a Índia tentam garantir assentos permanentes dentro do conselho. Atualmente, ele é composto de maneira permanente apenas pelos Estados Unidos, Rússia, China, França e Reino Unido.
O encontro entre Rousseff e Merkel é o primeiro de uma série que deve ocorrer a cada dois anos, dentro de um mecanismo denominado Consultas de Alto Nível Brasil-Alemanha. Trata-se de um status diferenciado garantido pelos alemães a apenas sete países, incluindo Espanha, França, China e Índia. Em 2017, é a vez da presidenta ir a Berlim.
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Angela Merkel cobra que Brasil zere desmatamento na Amazônia até 2030 - Instituto Humanitas Unisinos - IHU