02 Fevereiro 2011
“A `ralé`, como chamo provocativamente essa classe de infelizes e  desesperados, num país que nega, esconde e eufemiza todos os seus  conflitos e problemas, nunca foi, na verdade, percebida como uma `classe social` entre nós”, afirma o professor e pesquisador Jessé de Souza. Em entrevista à IHU On-Line, realizada por email, Jessé analisa, a partir da ascensão econômica das classes mais baixas nos últimos anos, a chamada “nova classe média brasileira”. Recentemente, Jessé finalizou a pesquisa intitulada Os batalhadores brasileiros sobre a qual também fala na entrevista. Politicamente é difícil  antecipar o comportamento ou nomear uma perspectiva particular até  porque essa classe não é homogênea. Ela parece reunir elementos tanto de  uma classe trabalhadora “pós-fordista”, ou seja, superexplorada, sem  tradição de solidariedade de classe e se acreditando empresários de si  mesmos, com elementos de uma pequena burguesia tradicional, no sentido  de empreender pequenos negócios muitas vezes sem pagar impostos ou  direitos trabalhistas”, explicou.
 
 Jessé Jose Freire de Souza é  graduado em Direito pela Universidade de Brasília, onde realizou o  mestrado em Sociologia. Na mesma área, fez o doutorado pela Karl  Ruprecht Universität Heidelberg (Alemanha). Atualmente, é professor na  Universidade Federal de Juiz de Fora. É autor de A Ralé Brasileira: quem é e como vive (Rio de Janeiro: Record, 2009), Os batalhadores brasileiros (Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2009), entre outras obras.
 
 Confira a entrevista, que foi, originalmente, publicada em 24-01-2011.
 
 IHU On-Line – Como o senhor define esse estrato social brasileiro que está emergindo economicamente? Qual é o seu perfil?
Jessé de Souza – É sempre difícil definir um fenômeno social que está se constituindo  “em ato” defronte de nossos olhos. Esse foi, inclusive, o maior desafio  tanto teórico quanto empírico do livro que fizemos. No decorrer do  trabalho com as entrevistas, percebemos se tratar de fenômeno distinto  do que o anunciado com certo triunfalismo nos jornais. Procuramos  primeiro separar este estrato da classe média estabelecida. Não se  consegue fazer isso apenas com a variável renda, que é, no entanto,  infelizmente, o que se faz sempre. A classe média estabelecida é uma classe dominante porque se forma pela apropriação privilegiada de capital cultural, seja  técnico e especializado, seja literário e especulativo, o qual é  indispensável para o funcionamento do mercado e do Estado. Ainda que não  exista acesso privilegiado a volume significativo de capital econômico,  como nas classes altas, o acesso a este conhecimento altamente  valorizado socialmente cria toda uma “condução da vida” em todas as  dimensões que permite, quase sempre, manter o privilégio para as  gerações seguintes.
 
 Não é isso que acontece com os “batalhadores” que analisamos. O acesso  aos capitais impessoais, que são a base de todo privilégio social –  tanto material quanto simbólico –, e aos capitais econômico e cultural é  restrito e limitado. São pessoas que fizeram escola pública ou  universidade particular (no melhor dos casos) tendo de trabalhar  paralelamente muitas vezes em mais de um emprego. Muitos trabalham entre  10 e 14 horas por dia e não possuem o recurso mais típico das classes  do privilégio que é o “tempo” para incorporação de conhecimento  valorizado e altamente concorrido. Essas características estruturais  implicam em “condução de vida” e “percepção do mundo” – as duas  características mais importantes para conhecermos a especificidade do  pertencimento de classe – muito distintas das classes médias estabelecidas entre nós. 
 
 IHU On-Line – Qual é a chance de  participação política, econômica e social desse novo estrato social que  emerge no país? Quais os lados positivos e negativos do surgimento desse  novo estrato social?
Jessé de Souza – Esse estrato social é o grande responsável pelo extraordinário desenvolvimento econômico brasileiro  dos últimos anos que se deu, fundamentalmente, pela perspectiva do  mercado interno. Foi esse estrato que dinamizou a economia brasileira na  última década e estimulou o mercado de consumo de bens duráveis antes  de impossível acesso a grandes parcelas da população. Especialmente no  Nordeste, a região mais dinâmica e de grande número de “batalhadores”  nesta última década, foi o Bolsa Família, no testemunho de inúmeros de  nossos informantes, o que ajudou a irrigar com alguma economia monetária  rincões secularmente esquecidos entre nós. A nova demanda criada foi um  dos elementos que permitiu surgir uma classe de pequenos empreendedores  no interior do Nordeste, vários dos quais compondo a assim chamada  “nova classe média". Politicamente, é difícil antecipar o comportamento  ou nomear uma perspectiva particular até porque essa classe não é  homogênea. 
 
 Ela parece reunir elementos tanto de uma classe trabalhadora  “pós-fordista”, ou seja, superexplorada, sem tradição de solidariedade  de classe e se acreditando empresários de si mesmos, com elementos de  uma pequena burguesia tradicional, no sentido de empreender pequenos  negócios muitas vezes sem pagar impostos ou direitos trabalhistas. A meu  ver essa classe vai ser o fiel da balança do caminho tanto social  quanto político que o Brasil irá tomar nos próximos anos. Ela tanto pode  tender para um alinhamento com os setores mais conservadores de um  liberalismo sem responsabilidade social – perspectiva hoje hegemônica na  nossa esfera pública ainda que fora do poder político – ou, ao  contrário, ser a ponta de lança de um projeto efetivamente mais  inclusivo socialmente que jamais teve uma chance real entre nós. As  classes sociais não são nem libertárias nem conservadoras em si. É a  luta política que implica convencimento e voz ativa na esfera pública  que decide, em cada caso, que tipo de orientação política vai  prevalecer.  
 
 IHU On-Line – Como se define uma classe social? Como se deu a construção das classes sociais no Brasil contemporâneo?
Jessé de Souza – O mecanismo complexo que explica a existência das classes sociais é o segredo mais bem 
guardado  de todas as sociedades modernas. É que o pertencimento de classe  define, em grande medida, o acesso privilegiado a qualquer tipo de bem  ou recurso escasso. Esses bens e recursos que não precisam ser materiais  como um carro ou uma casa, mas também podem ser, por exemplo, o tipo de  mulher ou de homem que se consegue ter ou o tipo de reconhecimento  social ou prestígio que se desfruta em todas as dimensões da vida. Tudo  isso é definido, com alta probabilidade pelo menos e na imensa maioria  dos casos, pela herança de classe – pela presença ou ausência relativa de capital cultural e capital econômico – onde se é socializado. 
 
 O tema da classe desafia,  portanto, a ilusão social mais forte entre nós que é a da autonomia ou a  liberdade do sujeito individual que é, por sua vez, o fundamento da  “meritocracia” moderna, o que Pierre Bourdieu mostrou melhor do que  qualquer outro. A classe permite a construção diferencial dos indivíduos  pelas heranças típicas de cada classe quebrando a ilusão do “homem  universal”, como se os pressupostos para a competição social por  recursos escassos fossem os mesmos para todos.
 
 Por conta disso, os interesses da reprodução de todo tipo de privilégio  precisa ou tornar inofensivo ou ridicularizar o conceito de classe.  Torna-se o conceito de classe inofensivo quando se liga, por exemplo,  pertencimento de classe à renda, o que vemos acontecer em todos os  jornais, em todos os debates acadêmico e público brasileiros. Como toda  “ilusão objetiva” moderna, ela é mais uma “meia verdade” do que uma  mentira. Afinal, existe algum padrão diferencial de renda entre as  diversas classes, embora de modo algum em todos os casos. O que essa  associação arbitrária esconde é o todo processo de gênese das classes e  de seu processo de reprodução que a permite continuar no tempo, ou seja,  permite esconder e desviar o foco sobre o que realmente interessa e que  é importante de se conhecer. A ridicularização é lograda pela  associação de qualquer conceito não liberal de classe ao marxismo  tradicional. Toda vez que o conceito de classe surge na esfera pública,  ele é contaminado e tornado inócuo por essas duas operações que são duas  faces de uma mesma moeda. 
 
 Na verdade, a classe social se forma pela herança afetiva e emocional,  passada de pais para filhos no interior dos lares, de modo muitas vezes  implícito, não consciente e inarticulado. São esses estímulos que irão  construir formas específicas de agir, reagir, refletir, perceber e se  comportar no mundo. E é precisamente a presença ou falta de certos  estímulos, por exemplo, estímulos para a disciplina, para o  autocontrole, para o pensamento prospectivo, para a concentração, que  irá definir as classes vencedoras e perdedoras antes mesmo do jogo da  competição social se iniciar de forma mais explícita. Existem classes  sociais com dificuldades de concentração, por falta de exemplos e  estímulos à leitura e a imaginação, que já chegam “derrotadas” na escola  e depois, com mais razão ainda, no mercado de trabalho. Existem classes literalmente “sem futuro” porque jamais se pensa nele tamanha a urgência da sobrevivência no  presente. Nas classes médias, por exemplo, ao contrário, o futuro é mais  importante que o presente o que permite que se tenha futuro. Essa  fabricação social de indivíduos com capacidades diferenciais por  pertencimento de classe tem que ser cuidadosamente escondida. Daí que se  fale apenas no seu “resultado” mais visível, a renda, de modo a que  possa se “falar de classe” sem que nada se compreenda de sua dinâmica.
 
 IHU On-Line – O senhor disse  recentemente que a sociedade brasileira se difere das sociedades  desenvolvidas (EUA) porque 1/3 dos brasileiros não tem condições de  participar do mercado econômico e da política, em função da classe média  e da classe alta. Por que, na sua avaliação, a culpa é da classe média e  da classe alta, e não do Estado?
Jessé de Souza – Porque o Estado é demonizado por motivos de dominação política de valores extremamente 
conservadores.  Como jamais se podem debater os conflitos sociais que rasgam a  sociedade brasileira de fio a pavio – isso exigiria uma sociedade madura  e autocrítica, o que a última eleição mostrou ser um sonho distante –,  os conflitos sociais são todos “dramatizados”, desfocados e tornados  irreconhecíveis pela construção da falsa oposição entre mercado  divinizado e Estado demonizado (como ineficiente e corrupto). As falsas  oposições estão sempre no lugar de oposições verdadeiras. 
 
 Entre nós se formulou e se consolidou nos últimos 80 anos uma  “sociologia espontânea” do senso comum que, graças à pobreza de nossos  debates acadêmicos e públicos, tem toda a chance de continuar imutável  pelos próximos 80 anos. Tomou-se a autoridade científica de Max Weber e  incorretamente de modo a-histórico e sem qualquer rigor conceitual, se  construiu a noção de um “patrimonialismo” apenas estatal. Quem frauda o  público no mercado – como é a ordem do dia no capitalismo nacional e  internacional – é percebido como “gênio financeiro” e só acontece  corrupção no Estado. Essa concepção é tão naturalizada hoje em dia que  se imagina que todos os problemas do Brasil são decorrentes da corrupção  no Estado. Isso infantiliza uma sociedade já conservadora e egoísta que  jamais assumiu a responsabilidade pela exclusão social de tantos, cuja  mão de obra barata é a base de todos os privilégios das classes média e  alta brasileiras.
 
 Nossas classes dominantes estão entre as poucas no ocidente que não  precisam contratar imigrantes para os trabalhos sujos e pesados porque  já possuem “em casa” um exército de desclassificados dispostos a todo  tipo de trabalho pesado e degradante. Como toda a “culpa” é  convenientemente atribuída ao Estado, joga-se sempre a responsabilidade  num “outro” abstrato que ninguém nunca nomeia de modo claro. Os setores  dominantes e privilegiados sequer precisam perder sua boa consciência e  ainda se imaginam muito humanos, fraternos e calorosos como preconiza  nosso mito nacional. Isso é justificação convincente o bastante para uma  dominação social para os próximos 500 anos. A Índia da noção do carma  permaneceu sem mudanças sociais importantes por dois mil anos. Temos  boas chances de chegar lá.
 
 IHU On-Line – Qual é situação da classe média no Brasil? Como ela se transformou ao longo do tempo?
Jessé de Souza – Essa é uma excelente questão que precisa ainda ser estudada. Na  verdade, este é o próximo estudo que gostaríamos de fazer de modo a  concluir a trilogia de estudos teóricos e empíricos acerca das classes  sociais no Brasil contemporâneo iniciada com o estudo da “ralé” e  continuada com o estudo sobre a assim chamada “nova classe média”.  Pretendemos estudar em conjunto as classes médias e altas num único  estudo sobre as classes dominantes entre nós. É um estudo difícil e  complexo já que as classes médias e as classes altas são compostas de  muitas frações com enorme multiplicidade de tipos humanos. Além disso,  há que se estudar a eficácia institucional da dominação social, muito  especialmente a imprensa e a esfera pública como um todo. Como se  reproduz indefinidamente uma sociedade tão injusta e desigual como a  nossa? Essa é questão que temos de enfrentar neste trabalho futuro.
 
 IHU On-Line – O senhor afirma que  apenas análises economicistas são insuficientes para explicar a  complexidade da desigualdade. A desigualdade social não se resume a  aspectos econômicos? Quais são as causas profundas da desigualdade  brasileira?
Jessé de Souza – Essa é uma excelente questão. De fato, existe uma “cegueira” típica de  qualquer sociedade capitalista complexa, que se torna ainda mais  virulenta entre nós pela pobreza de nosso debate público, que é a  percepção exclusiva de aspectos econômicos ou “materiais”. Na verdade,  as pessoas são movidas no seu comportamento também por aspectos morais o  tempo todo. Todas as ações sociais são determinadas ao mesmo tempo por  estímulos morais e econômicos, mas apenas os econômicos são visíveis e  de modo tal a não percebermos a justificação moral de toda atividade  econômica. Só percebemos o efeito do dinheiro e das coisas materiais  pelos quais lutamos todos os dias. Isso decorre do fato dos estímulos  morais serem “inarticulados”, ou seja, não são quase nunca percebidos ou  tematizados. Quando as justificações morais são percebidas e debatidas  abre-se espaço para perceber a distância entre justificação e realidade.  Então, mudanças importantes podem acontecer na vida social e  conseguimos aprender coletivamente como as lutas dos trabalhadores e das  mulheres nos últimos séculos demonstram.
 
 Mas, na vida cotidiana, a regra é a fragmentação de todo discurso de  modo a que se compre informação deslocada e fora de contexto como se  fosse reflexão. Esse mecanismo de tornar as pessoas tolas é realizado,  por exemplo, pela imprensa dominante todo dia quando fragmenta todas as  discussões a partir do interesse na reprodução dos privilégios e  seleciona o que deve ser conhecido ou não. Não se percebe, por exemplo,  que todos somos responsáveis pela exclusão social de tantos, mantida,  pelas classes do privilégio, pelos piores motivos instrumentais como  poupar o recurso mais escasso, o tempo, para investir em educação ou  trabalhos bem pagos enquanto outros fazem o trabalho pesado e não  reconhecido. Isso não tem nada a ver com a corrupção real ou fantasiosa  em Brasília, mas a “fábrica de escândalos” manipula o infantilismo e o  narcisismo do público tornando irreconhecível qualquer causa profunda  dos conflitos sociais mais cotidianos. Também jamais se questionou a  ajuda a banqueiros com dinheiro público, como nos anos 1990 entre nós,  ou os empréstimos subsidiados pagos com dinheiros dos trabalhadores para  grandes industriais pelo BNDS. Mas se o Estado investe 0,5 do PIB,  investimento irrisório e amplamente insuficiente, com os mais pobres,  acontece uma gritaria geral como vimos nas eleições. Para mim, é  fundamental uma esfera pública mais crítica e plural como mecanismo de  conscientização social. É muito difícil um Estado progressista em meio a  uma sociedade tão conservadora.  
 
 IHU On-Line – O que o senhor define como “ralé estrutural” em seus estudos? Como se manifesta na sociedade brasileira?
Jessé de Souza – A  “ralé”, como chamo provocativamente essa classe de infelizes e  desesperados, num país que nega, esconde e eufemiza todos os seus  conflitos e problemas, nunca foi, na verdade, percebida como uma “classe  social” entre nós. Ela é (não) percebida fragmentariamente todo dia na  luta entre bandido e polícia no Rio de Janeiro, no tema da criminalidade  em geral, na inoperância do SUS e da escola pública, no gargalo da mão  de obra sem qualificação, no tema do conservadorismo das igrejas  evangélicas, etc. São todos temas fragmentados, sem qualquer relação  entre si, impedindo a percepção e reflexão do aspecto central e nuclear  que o fato de que todos esses fenômenos remetem a “uma” classe apenas  entre nós. A fragmentação da percepção da realidade social é a forma por  excelência de cegar as pessoas e torná-las tolas. Por conta disso todos  os grandes jornais e todas as grandes cadeias de TV fragmentam – como  veículo da reprodução de todos os privilégios injustos – seu conteúdo de  modo a amesquinhar reflexão à informação descontextualizada. 
 
 No nosso caso, também o debate acadêmico faz a mesma coisa. A presença  de uma “ralé” muito numerosa, que não se confunde com o subproletariado  marxista, porque não pode ser utilizada como exército de reserva, devido  a não ter as pré-condições para o trabalho técnico no setor competitivo  do capitalismo, que se constitui uma clase moderna – pois se forma pela  ausência de incorporação dos capitais impessoais, como o capital  cultural ou técnico, do mundo moderno –, é o que marca o Brasil como  sociedade. Essa classe é explorada pelas classes média e alta  como mão de obra barata para todo tipo de serviço pesado e mal pago.  Ainda que a “ralé” seja uma classe universal – certamente a mais  numerosa do globo –, todos os problemas que ligamos secularmente ao  atraso social brasileiro e localizamos falsamente em outros lugares,  advém da manutenção indefinida dessa classe de abandonados sociais. Os  recentes programas sociais mitigam as formas mais duras da realidade da  fome, mas não tocam no principal: possibilitar que a “ralé” deixe de ser  “ralé”.  
 
 IHU  On-Line – Fatos, entre outros, como a polêmica em torno do tema do  aborto e a crescente homofobia revelam que a sociedade brasileira está  mais conservadora?
Jessé de Souza – Sem dúvida que as religiões evangélicas  – como quase toda religião – exigem o “sacrífico do intelecto”, o que  não ajuda à tolerância nem ao desenvolvimento das capacidades reflexivas  dos seres humanos. Em troca disso, essas religiões oferecem o que as  famílias dessas pessoas – quase sempre os mais pobres – ou o Estado  nunca lhes deram: autoestima e força para continuar tentando numa vida  quase sempre sem perspectivas reais. Muito pior para mim é o  conservadorismo dos setores privilegiados que se imaginam “europeizados”  e modernos e não conseguem ver um palmo além do próprio umbigo.