19 Dezembro 2025
Estudos mostram o potencial da atividade de matar de fome a cadeia alimentar; o mar profundo é surpreendentemente abundante e diverso.
A informação é publicada por ClimaInfo, 18-12-2025.
Um novo estudo publicado na revista Nature Ecology and Evolution mostra que a mineração industrial no fundo do mar pode reduzir a abundância e a diversidade de pequenos animais nas profundezas do Oceano Pacífico. Curiosamente, a pesquisa foi financiada pela The Metals Company, empresa que busca ser a primeira a realizar mineração comercial no fundo do oceano.
Pesquisadores do Museu de História Natural de Londres analisaram o fundo do mar da Zona de Fratura de Clipperton, área entre o Havaí e o México, antes e depois de um teste de mineração. E observaram que o número de vermes, minúsculos crustáceos e outros pequenos animais no trajeto do veículo de mineração caiu 37%. A variedade das criaturas também diminuiu em 32%.
A zona é alvo de mineração devido aos nódulos, do tamanho de batatas, que contêm metais como níquel, cobalto, cobre e manganês — matérias-primas usadas principalmente para fins militares e também na indústria de energia renovável.
Antes, cientistas presumiam que havia pouca vida no fundo do mar, por conta das condições extremas. Mas pesquisas recentes têm mostrado que a vida nessa região é abundante e diversa.
No estudo em questão, por exemplo, foram descritas 788 espécies de macrofauna, destaca o New York Times, em matéria traduzida pela Folha. “Na verdade, mostramos apenas uma proporção minúscula do mar profundo”, disse Eva Stewart, estudante de doutorado e autora principal da pesquisa. “Pode haver milhares de espécies esperando para serem descobertas.”
Cerca de 30% dos pequenos animais do fundo do mar estão diretamente associados aos nódulos ricos em minerais. Além disso, durante um teste, a empresa liberou o excesso de sedimento a 1.200 metros abaixo das ondas, o que causou a diluição do suprimento de alimento do zooplâncton e de pequenas lulas. Isso poderia “matar de fome a cadeia alimentar”, afirmou Michael Dowd, estudante de doutorado na Universidade do Havaí. “Esses animais também servem de alimento para predadores de topo que mergulham profundamente e são importantes para a pesca comercial, como a do atum”, completou.
Mais de uma dúzia de países possuem licenças na ONU para explorar mais de 1 milhão de km² do fundo do mar profundo em todo o mundo. Em abril, o negacionista Donald Trump emitiu uma ordem executiva para acelerar a mineração comercial dessa região, instruindo o governo a emitir licenças em águas nacionais e internacionais. A ação foi criticada por contornar o processo da organização.
Por ora, a Agência Internacional dos Fundos Marinhos ainda não aprovou a mineração comercial. No entanto, a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos EUA (NOAA) está revisando o pedido de licença da empresa.
Ambientalistas e cientistas dizem que não se sabe o suficiente sobre o ambiente e os danos potenciais para permitir a mineração industrial do fundo do mar. Quase 40 países pediram moratória ou proibição da atividade.
Em tempo
Em terra, um exemplo de extração irresponsável de minerais raros ocorre no Vale do Jequitinhonha (MG). A Agência Pública conta o caso de moradores de uma comunidade colada a uma mina de lítio explorada pela Sigma Lithium entre Araçuaí e Itinga, que temem que o teto caia sobre suas cabeças. A atividade de detonação que ocorre há anos causou rachaduras nas casas. Como sempre, a chegada do empreendimento foi anunciada como um vetor de royalties, que levariam ao desenvolvimento da comunidade. No entanto, a oferta de emprego, a renda e a qualidade de vida só se deterioraram.
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