13 Dezembro 2025
A presença de empresas envolvidas na Operação Rejeito atuando fora de Minas Gerais confirma o caráter nacional do esquema criminoso, segundo Júlia Sanders Paolinelli, militante do Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM). Em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato, ela descreveu esse padrão como um modus operandi histórico.
A reportagem é de Adele Robichez e Larissa Bohrer, publicada por Brasil de Fato, 11-12-2025.
“A presença dessas empresas atuando em outros estados não é algo que nos surpreende porque isso reafirma algo que já temos denunciado há muito tempo: a atuação desse capital minerário que desrespeita os direitos humanos, o meio ambiente em todos os territórios que elas avançam”, afirmou Paolinelli. “É como a mineração estruturalmente e historicamente tem funcionado em todo o Brasil, não só em Minas Gerais”, apontou.
A partir de uma busca inicial no Cadastro Mineiro, do sistema da Agência Nacional de Mineração, o MAM identificou processos minerários ativos em Alagoinhas e Ambrósio (BA), com a empresa Mineral LTDA, e em Canaã dos Carajás (PA), Ferro Sul Mineração/SA, todos na fase de pesquisa.
Para a militante, isso revela o interesse de mineradoras citadas na operação em expandir sua atuação. O caso já chegou ao Supremo Tribunal Federal (STF). “É um indício do envolvimento de agentes do parlamento nacional”, relacionou. “Esses agentes têm uma força política muito grande para abafar esses processos, e é uma operação que tem um risco muito grande de ser anulada”, alertou.
Os impactos ambientais e sociais, conforme a ativista, seguem o mesmo padrão violento observado em Minas Gerais. “A mineração chega coagindo os moradores com discurso de desenvolvimento, cooptando as lideranças”, descreveu. Entre os danos recorrentes, ela citou “o acesso à água, a poeira, o barulho, as rachaduras, o aumento do custo de vida”. Esses efeitos, indicou, se repetem em todos os territórios minerados. “A Operação Rejeito é a ponta do iceberg da profundidade desse modelo de mineração”, ressaltou.
Para o MAM, há uma ligação direta entre a operação e o Projeto de Lei (PL) da Devastação, que amplia modelos de licenciamento simplificado semelhantes aos adotados em Minas. Paolinelli relacionou o avanço do esquema criminoso ao governo Romeu Zema (Novo-MG). “A proliferação desse esquema criminoso nesse período é muito fruto desse processo de desmonte ambiental”, disse.
“Quando o governo do estado e a Fiemg [Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais] afirmam que a flexibilização é necessária para o crime não acontecer, eles estão falando a verdade: para o crime não acontecer, precisamos legalizar o crime. E o PL da Devastação representa justamente isso”, criticou.
Entre as medidas urgentes, Paolinelli defendeu a suspensão imediata dos direitos minerários das empresas investigadas e a instalação das Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) previstas na Câmara dos Deputados e na Assembleia Legislativa de Minas (ALMG), que ainda não têm assinaturas suficientes. “Sabemos que esse esquema é só um pedaço, ele não é o todo”, declarou.
Ela reforçou que o país precisa fortalecer o licenciamento ambiental e “ampliar o poder dos territórios de decidirem sobre seus futuros, se querem ou não ter mineração”. No entanto, alertou que o Brasil tem caminhado na direção contrária. “Ao invés de avançar nesse debate, estamos retrocedendo com a devastação e com a aprovação do marco temporal. Infelizmente”, lamentou.
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