12 Dezembro 2025
Jesus não deixa ninguém indiferente a quem se aproxima dele. Finalmente encontramos alguém que vive na verdade, alguém que sabe por que devemos viver e por que vale a pena morrer.
O comentário é de José Antonio Pagola, teólogo espanhol, publicado por Religión Digital, 08-12-2025.
Eis o comentário.
Nestes tempos de crise religiosa e turbulência interior, é importante lembrar que Jesus Cristo não é propriedade exclusiva das Igrejas. Ele pertence a todos. Aqueles que o confessam como Filho de Deus podem se aproximar dele, assim como aqueles que buscam um sentido mais humano para suas vidas.
Há alguns anos, o renomado pensador Roger Garaudy, um marxista convicto na época, clamou aos cristãos: "Vocês reuniram e preservaram esta esperança que é Jesus Cristo. Devolvam-na a nós, pois ela pertence ao mundo inteiro".
Por volta da mesma época, Jean Onimus publicou seu fascinante e incomum livro sobre Jesus com o título provocativo de Le Perturbateur (O Perturbador). Dirigindo-se a Jesus, o escritor francês disse: "Por que deverias permanecer propriedade privada de pregadores, doutores e certos eruditos, tu que disseste coisas tão simples, palavras diretas, palavras que permanecem para a humanidade, palavras de vida eterna?"
Por isso, poucas coisas me trazem mais alegria do que saber que homens e mulheres distantes da prática religiosa tradicional buscam encontrar Jesus em meus escritos. Estou convencido de que ele pode ser, para muitos, o melhor caminho para encontrar Deus como um Amigo e dar às suas vidas um significado mais esperançoso.
Jesus não deixa ninguém indiferente a quem se aproxima. Finalmente encontramos alguém que vive na verdade, alguém que sabe por que devemos viver e por que vale a pena morrer. Percebemos que essa maneira de viver, tão "semelhante à de Jesus", é a forma mais adequada e humana de encarar a vida e a morte.
Jesus cura. Sua paixão pela vida expõe nossa superficialidade e convencionalismo. Seu amor pelos indefesos desmascara nosso egoísmo e nossa mediocridade. Sua verdade revela nossos autoenganos. Mas, acima de tudo, sua fé incondicional no Pai nos convida a abandonar a incredulidade e confiar em Deus.
Aqueles que hoje abandonam a Igreja por se sentirem desconfortáveis nela, ou por discordarem de algumas de suas ações ou diretrizes específicas, ou porque a liturgia cristã simplesmente perdeu todo o seu interesse vital para eles, não devem, portanto, abandonar Jesus automaticamente.
Quando alguém perde outros pontos de referência e sente que "algo" está morrendo em sua consciência, pode ser crucial não perder o contato com Jesus Cristo. O texto do Evangelho nos lembra de suas palavras: "Bem-aventurado aquele que não se envergonha de mim!" Bem-aventurado aquele que compreende tudo o que Cristo pode significar em sua vida.
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