12 Novembro 2025
Londres e Ottawa suspendem o compartilhamento de informações de inteligência no Caribe. Caracas ordena uma "mobilização em massa".
A reportagem é de Paolo Mastrolilli, publicada por La Repubblica, 12-11-2025.
O Reino Unido e o Canadá suspenderam o compartilhamento de informações de inteligência com os EUA no Caribe, recusando-se a serem cúmplices de ataques ilegais contra narcotraficantes. Isso ocorre justamente quando o porta-aviões americano Ford chega à região, criando as condições para ataques contra território venezuelano. Essa rara divergência entre aliados históricos alimenta dúvidas sobre os argumentos usados pelo governo Trump para justificar suas ações e aumenta os temores de que operações para derrubar o regime de Maduro possam ser iminentes. Caracas anunciou o lançamento de uma "mobilização em massa" de militares, armamentos e equipamentos em resposta ao reforço da presença de navios de guerra americanos.
A CNN revelou que Londres informou Washington sobre sua decisão de não mais disponibilizar as informações coletadas por meio de sua presença de inteligência nas ilhas, que outrora fizeram parte de seu império colonial, e que até então eram utilizadas para interceptar embarcações suspeitas de transportar drogas, prender suas tripulações e apreender a mercadoria. Operações policiais legítimas são uma coisa; atentados a bomba, que já mataram pelo menos 76 civis e foram condenados pela ONU, são outra. A Grã-Bretanha acredita que os ataques são ilegais, apesar de os EUA terem classificado os cartéis como organizações terroristas, porque são civis, e não militares, que atacam o território nacional. Como Londres não quer ser cúmplice de atos ilegais, deixará de fornecer as informações.
O Canadá está fazendo uma declaração semelhante, mas mantém os canais abertos para a troca de informações de inteligência, desde que não sejam usados para atacar alvos. Isso representa uma rara exceção para dois membros da aliança Five Eyes, por meio da qual cinco países anglo-saxões, incluindo Nova Zelândia e Austrália, compartilham seus segredos. A decisão ocorre justamente quando os ministros das Relações Exteriores do G7 estão reunidos no Canadá. Ela pode destacar as preocupações de Londres e Ottawa sobre possíveis ataques iminentes em território venezuelano.
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