12 Novembro 2025
Entre os mais de 3.800 crachás indicados pelo Brasil estão autorizações para representantes da Braskem, JBS e IBP.
A informação é publicada por ClimaInfo, 12-11-2025.
Entre as milhares de pessoas que circulam pela Zona Azul, espaço central da COP30, onde ocorrem as discussões – e decisões – dos negociadores dos países, estão integrantes do setor de petróleo e do agronegócio credenciados pelo Brasil. Pessoas da Braskem, JBS, Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (IBP), Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), Eneva e Confederação Nacional da Indústria (CNI) são alguns deles.
Na 2ª feira (10/11), a ONU divulgou a lista provisória dos crachás para o evento. Segundo a Folha, o Brasil indicou 2.805 pessoas para recebê-los. Entre elas, por óbvio, integrantes do governo federal, de governos e órgãos públicos locais e representantes do terceiro setor e da sociedade civil conectados com as questões ambientais e climáticas.
Mas a lista inclui também representantes de empresas de setores que pouco ou nada fazem pelo clima. Há três executivos do IBP, três do Ibram e dois da CNI, bem como os irmãos Joesley e Wesley Batista, donos do grupo J&F, controlador não só do frigorífico JBS como da Âmbar Energia, dona de usinas a gás fóssil e carvão. Sem falar na Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), com 11 integrantes de empresas do agronegócio, como Bunge, Cargill, Amaggi e Louis Dreyfus, informam Jornal de Brasília e RFI.
Na avaliação de Renato Morgado, gerente de programas da Transparência Internacional – Brasil, o governo brasileiro deveria ter adotado medidas mais transparentes relacionadas à sua delegação e à lista de convidados. “Deveriam incluir a divulgação detalhada de vínculos institucionais e dos processos decisórios que buscam influenciar, além da adoção de mecanismos de gestão de conflitos de interesse e códigos de ética e de conduta”, afirma.
A Petrobras não enviou nenhum integrante do alto escalão para a COP30. A CNN destaca apenas o nome de Viviane Canhão, diretora global de Descarbonização e Mudança Climática, e executivos de baixo escalão. E deve faltar ao encontro que reunirá o presidente da conferência, André Corrêa do Lago, e petrolíferas marcado para 6ª feira (14/11). Supostamente para evitar constrangimento (leia-se “manifestações”) pelo seu plano de explorar petróleo na Foz do Amazonas.
Quem fala bem do projeto sem se constranger, no entanto, são o ministro da Casa Civil, Rui Costa, e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP). Em entrevista n’O Globo, Costa usou argumentos repetidos à exaustão pelos defensores da exploração de combustíveis fósseis no país.
Costa disse que o petróleo do Brasil é menos poluente que o do restante do mundo e que, por causa disso, se o país encerrasse sua produção do combustível fóssil, passaria a emitir mais gases poluentes (???). E afirmou que há uma demanda que não pode ser ignorada.
O ministro coloca o petróleo brasileiro como uma salvação do clima, como se fosse mais sustentável que as fontes renováveis — que o país tem aos montes —, só necessitam dos bilhões investidos na indústria fóssil. O Brasil precisa de energia e nós temos como produzi-la sem a necessidade de abrir novas frentes de exploração de petróleo, como mostra o posicionamento do Observatório do Clima para uma transição energética justa no país.
Transição esta cujo sentido cru do termo não é compreendido pelos apoiadores da exploração de petróleo. “Transição”, segundo o dicionário Oxford, significa “ação de passar, passagem etc.” Logo, não se trata de uma mudança de um dia para o outro, nem de cessar a produção e exploração de petróleo, e sim de transicionar. Para isso, a dependência tem que diminuir.
E não é abrindo mais poços de combustíveis fósseis e prometendo um fundo para a transição energética alimentado pelo dinheiro do petróleo, como sugere Alcolumbre no Valor e o presidente Lula “prometeu” em seu discurso na abertura da COP30, que o Brasil se desenvolverá de forma sustentável e compatível com a meta do 1,5 °C do Acordo de Paris.
UOL, Cenário Energia e Valor também repercutiram as falas de Rui Costa e Davi Alcolumbre.
Em tempo
Um estudo publicado na revista "Nature Sustainability" questiona o argumento do petróleo como financiador da transição energética. Liderada pelo Instituto de Ciência Ambiental e Tecnologia da Universidade Autônoma de Barcelona, a pesquisa aponta para as petroleiras que respondem por apenas 1,42% da geração de energia renovável no mundo. Segundo o coordenador do estudo, Marcel Llavero-Pasquina, "as iniciativas das empresas de petróleo e gás em energias renováveis são apenas pontuais". O documento também detalha que apenas 20% entre 250 petroleiras pesquisadas têm projetos de renováveis em operação — o que representa 0,1% de sua produção de energia primária, informa a Folha.
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