07 Novembro 2025
Em carta publicada em mais de 50 países nesta 5a feira (6/11), o presidente Lula reforçou a necessidade dos governos avançarem em torno de ações concretas e coletivas baseadas na ciência na COP30. A carta foi divulgada no 1º dia da Cúpula de Líderes, que neste ano acontece antes da conferência e reúne cerca de 50 chefes de Estado e de governo em Belém (PA).
A reportagem é publicada por ClimaInfo, 07-11-2025.
Lula lembrou que 33 anos depois da Cúpula da Terra, no Rio de Janeiro, o Brasil sedia pela 1a vez um evento climático da ONU. Não por acaso, o encontro acontecerá agora na Amazônia, onde políticos, diplomatas, cientistas, ativistas e jornalistas terão a oportunidade de ver a real situação das florestas.
Para o presidente brasileiro, a COP30 não pode ser uma feira de boas ideias, mas sim ser o momento de ação efetiva no enfrentamento à mudança do clima. “A época das cartas de boas intenções se esgotou: é chegada a hora dos planos de ação. Por isso, começamos hoje a ‘COP da Verdade’”, reforçou.
O problema da falta de acesso do Sul Global aos recursos financeiros necessários para a ação climática foi ressaltado por Lula. “Não por uma questão de caridade, mas de Justiça. Os países ricos foram os maiores beneficiados pela economia baseada em carbono. Precisam, portanto, estar à altura de suas responsabilidades. Não apenas assumir compromissos, mas honrar suas dívidas”, afirmou.
O presidente aproveitou para falar do Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), com sua inovação de ser um fundo de investimento, e não de doação. O TFFF nasce como um mecanismo que remunera países que mantêm sua floresta em pé e investidores – uma lógica de ganha-ganha no combate às mudanças climáticas, frisa Lula.
Em resposta ao aumento das desigualdades por conta da crise climática, Lula anunciou que será lançada em Belém uma Declaração sobre Fome, Pobreza e Clima. “É essencial que o compromisso da luta contra o aquecimento global esteja diretamente relacionado ao combate à fome”, declarou.
Ele voltou a defender a criação de um Conselho de Mudança do Clima da ONU, como propôs em seu discurso na Assembleia Geral da organização, em setembro. Para o presidente, o conselho deve ter uma nova estrutura de governança, força e legitimidade para garantir que os países cumpram o que prometeram, repercutiu a Terra.
Os temas das metas climáticas e transição energética não ficaram de fora. Para Lula, “a transição energética é fundamental para o cumprimento da NDC brasileira”. O presidente voltou a repetir que a matriz energética brasileira é uma das mais limpas do mundo e que os recursos da exploração do petróleo serão usados para financiar a transição energética.
Entretanto, associar dinheiro de petróleo a transição energética é uma falácia, como mostra um levantamento de Shigueo Watanabe Jr., pesquisador do ClimaInfo. Apenas 0,06% dos recursos destinados de 2018 ao início de 2025 ao Fundo Social do Pré-Sal foi empregado em projetos de transição energética. A Petrobras, tampouco, tem investido em transição energética. Ainda menos justa.
Como Lula afirma em sua carta, é possível que uma empresa de combustível fóssil se torne uma empresa de energia. Mas, certamente, não é abrindo mais poços de petróleo que isso acontecerá. Um caminho para uma transição justa de fato foi indicado pelo Observatório do Clima no relatório “A Petrobras de que Precisamos”.
Guardian e O Globo publicaram a carta de Lula, que também foi repercutida por Estadão, Diário do Pará e VEJA.
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