06 Novembro 2025
"As palavras de Anthony de Mello revelam um pensador ecumênico que possuía grande clareza ao compreender aspectos essenciais da espiritualidade contemporânea. Ele próprio era uma síntese de diversas culturas e crenças. Estas são algumas de suas expressões mais memoráveis".
O artigo é de José Melero Pérez, professor aposentado graduado em teologia pela Faculdade de Teologia de Barcelona e formado em Psicologia e Geografia e História pela Universidade de Barcelona, publicado por Religión Digital, 05-11-2025.
Eis o artigo.
Anthony de Mello (Bombaim, 1931 – Nova York, 1987), padre jesuíta e psicoterapeuta com formação em psicologia, é considerado um dos principais mestres espirituais do século XX. Ele é amplamente respeitado por sua obra inovadora e duradoura que integra a espiritualidade oriental e ocidental. É autor de best-sellers que venderam milhões de exemplares em todo o mundo, como "Despertar", "Encontre Deus em Todo Lugar" e "Redescobrindo a Vida". Alguns dos mais renomados mestres espirituais da nossa época reconheceram o impacto libertador da espiritualidade prática proposta por Anthony de Mello.
Após sua morte, em 1998 a Congregação para a Doutrina da Fé (liderada pelo então Cardeal Ratzinger) investigou seus escritos e considerou alguns deles "incompatíveis" com a fé católica.
Algumas edições católicas de seus livros trazem uma nota de advertência afirmando: "Os livros escritos pelo Padre Anthony de Mello foram escritos em um contexto multirreligioso para ajudar seguidores de outras religiões, agnósticos e ateus em sua busca espiritual, não pretendendo que sejam um manual de instruções sobre a fé católica, doutrina e dogma cristãos".
Primeira meditação de Anthony de Mello: um chamado ao amor
Nessa primeira meditação, Anthony afirma que existem dois tipos de sentimentos que são incompatíveis entre si: os culturais e os psíquicos.
O primeiro tipo de autoestima é puramente mundano e cultural, baseado no orgulho que sentimos pela aprovação e reconhecimento que os outros nos demonstram por nossos pensamentos e ações. Tais sentimentos apenas reforçam uma autoestima dependente da opinião alheia. Esses sentimentos também surgem quando possuímos abundância desnecessária, nos envolvemos em compras compulsivas ou exercemos poder político e/ou econômico.
O segundo tipo de sentimento, no entanto, origina-se de dentro, não condicionado por circunstâncias externas. São sentimentos de bem-estar e felicidade psíquica que experimentamos quando fazemos algo com prazer, preenchendo nosso ser interior com alegria e júbilo. Penso, por exemplo, em ler um livro que achamos interessante, realizar um trabalho que nos traz bem-estar, escrever em um diário, um livro ou um blog, ouvir música, observar atentamente inúmeros fenômenos naturais como chuva, nascer e pôr do sol, neve, ou caminhar na floresta ou na praia, experimentando a alegria de estar conectado com a natureza.
Cabe a nós saber como deixar de lado o primeiro tipo de sentimento, pois ele nos acorrenta e nos impede de abrir as portas para o segundo tipo de sentimento, que é o que nos conduz à verdadeira liberdade e felicidade.
As melhores citações de Anthony de Mello
Muitas das ideias de Anthony de Mello desafiam a fácil categorização dentro de um sistema de crenças específico. Ele se inspirou em elementos de religiões orientais e os combinou com uma mensagem católica e socialmente consciente. Embora seu pensamento tenha sido controverso para alguns, milhões de pessoas em todo o mundo, sem dúvida, se beneficiaram de seus ensinamentos.
As palavras de Anthony de Mello revelam um pensador ecumênico que possuía uma notável clareza na compreensão de aspectos essenciais da espiritualidade contemporânea. Ele próprio personificava uma síntese de diversas culturas e crenças.
Estas são algumas de suas citações mais memoráveis:
1. Felicidade
“A felicidade não depende dos acontecimentos. É a sua reação aos acontecimentos que lhe causa sofrimento.”
2. Contato com a natureza
“Quando você se distancia demais da natureza, seu espírito seca e morre, porque foi violentamente separado de suas raízes.”
3. Drogas contemporâneas
“Aprovação, sucesso, elogios e reconhecimento são as drogas às quais a sociedade nos tornou viciados, e quando não as temos, o sofrimento é terrível.”
4. A importância da mudança
"Quem deseja ser constante na felicidade precisa mudar frequentemente."
5. Viva o presente
“Não existe um único momento na sua vida em que você não tenha tudo o que precisa para ser feliz. A razão pela qual você é infeliz é porque fica pensando no que não tem, em vez de se concentrar no que tem agora.”
6. O amor como uma força transformadora
“Só existe uma necessidade: amar. Quando alguém descobre isso, se transforma.”
7. Liberdade e autonomia
“Egoísmo é exigir que a outra pessoa faça o que você quer. Deixar cada pessoa fazer o que quer é amor. No amor não pode haver exigências nem chantagem.”
8. Autoconhecimento
“A pergunta mais importante do mundo, a base de todo ato maduro, é: Quem sou eu? Porque, sem conhecer a si mesmo, você não pode conhecer a Deus. Conhecer a si mesmo é fundamental.”
9. A necessidade de questionar o mundo em que vivemos.
“Estas coisas destruirão a raça humana: política sem princípios, progresso sem compaixão, riqueza sem trabalho, aprendizado sem silêncio, religião sem destemor e culto sem consciência.”
10. Ignorância e sabedoria
“Quando você percebe que não é tão sábio hoje quanto pensava ontem, você se torna mais sábio hoje.”
Leia mais
- A espiritualidade hoje. Formas, estilos, práticas. Entrevista de Marzia Ceschia e Daniele La Pera
- Tudo é vida. “A espiritualidade com a roupa do dia a dia”
- A espiritualidade cristã no mundo secular
- Espiritualidade sem fogo de artifício
- “Uma espiritualidade jesuânico-cristã é impossível ‘sem carne’”. Entrevista com Jesús Martínez Gordo
- “As religiões são vistas como modalidades particulares deste fenômeno mais amplo que é a espiritualidade”. Entrevista com Guillaume Cuchet
- Espiritualidade holística e o vazio existencial
- Espiritualidade política e a possibilidade de outros futuros. Entrevista especial com Rodrigo Toniol
- Espiritualidade e Vaticano II: a arte de “um viver bom e santo”
- A espiritualidade é uma sinfonia. Entrevista com Carlo Molari
- A urgência das espiritualidades não cristãs
- Espiritualidade contemporânea
- Os valores dos símbolos. Artigo de Roberto Esposito