02 Outubro 2025
Na aldeia palestina de Al-Mughayyr, quatro mil casas erguidas sobre uma colina de pedras e oliveiras ao norte de Ramallah, o plano de paz anunciado por Donald Trump levou o exército, um cinturão de veículos blindados que bloqueou o acesso por três horas na manhã de ontem. "Eles fazem isso com frequência, bloqueiam tudo das 7h às 11h, é uma forma de criar obstáculos a quem sai para trabalhar", conta o vice-prefeito Marzoq Awad Abu al Naim, atrás da mesa do titular, punido com vários dias de confinamento por ter conversado com os jornalistas.
A reportagem é de Francesca Paci, publicada por La Stampa, 01-10-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
"O plano estadunidense? É o plano de Netanyahu. De fato, contempla por inteiro as exigências do primeiro-ministro israelense, a começar pelo fato de que a transição em Gaza não deve envolver os palestinos." Ele acabara de ouvir Ahmed, de 16 anos, espancado por oito colonos armados com paus enquanto pastoreava ovelhas. "Ahmed, você teve sorte", consolou-o: cinco dias antes, naqueles becos de terra batida, morreu o eletricista Said Murad Abdel Rahaman Nasser, de 23 anos, fuzilado por um "jovem das colinas" que havia descido do posto avançado ilegal que ocupava com dez irredutíveis.
Se a Cisjordânia é o convidado de pedra na mesa de negociações que deveria pôr fim à guerra em Gaza, o removido da História grande e terrível reside inteiramente nas minúsculas histórias das retaguardas, daquela terra defendida com unhas e dentes onde só no último ano o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) contabilizou 2.370 ataques lançados a partir dos novos assentamentos judeus circundantes (um aumento de 180% em 5 anos) e 671 vítimas palestinas, mas onde, acima de tudo, a anexação sonhada pelo Ministro das Finanças Bezalel Smotrich, e reduzida a um detalhe por Washington, é uma realidade.
Deixando para trás a periferia de Ramallah, com as carroças de cebolas, romãs e batatas ao longo do muro de concreto construído após a segunda intifada, a estrada para Al-Mughayyr segue em direção a Nablus pela antiga rota romana que hoje corresponde à Estrada n. 60, "a linha da defesa", como a chamam os soldados israelenses, que patrulham repetidamente as curvas fechadas que são palco de confrontos diários entre residentes e os "jovens das colinas", a nova geração de colonos ferozmente ideológicos. Em ambos os lados do vale, abertos como as bordas de uma ferida, erguem-se os adversários: as antigas casas de pedra branca dos palestinos abaixo e acima; mais acima, friamente pós-modernos, os assentamentos protegidos por aqueles batalhões que, dois anos atrás, desproporcionalmente mobilizados na Cisjordânia, levaram muitas horas para chegar ao Nova Festival, e os kibutzim, nesse interim, cobertos de sangue pelas turbas do Hamas.
"Queremos que o genocídio em Gaza acabe, mas aqui, longe dos holofotes, uma guerra silenciosa está sendo travada para nos expulsar. Said morreu como um mártir por isso, ele era apenas meu filho", repete o pedreiro Murad no pátio, coberto, como todo o bairro, pelas fotos de seu primogênito, onde recebe as condolências. Nos últimos dois anos, diz ele, a ocupação se tornou mais agressiva: segundo os pacifistas israelenses da B'Tselem, os postos de controle aumentaram para 912, fragmentando uma terra já mutilada. Surgindo da noite para o dia, um após o outro, já existem oito assentamentos ao redor da aldeia, incluindo um na Área B, o território sob a autoridade civil palestina cujo "potencial ameaçador", no entanto, é controlado pelos israelenses. No final de agosto, alegando "razões de segurança", as FDI arrancaram mais de 10 mil oliveiras, destruindo, junto com o símbolo, o principal recurso econômico da região.
"O governo Netanyahu está indo muito além do genocídio em Gaza. Quer matar a ideia de um Estado palestino, quer matar o que resta da herança, cada vez mais tímida, dos Acordos de Oslo", relata em seu escritório em Ramallah Arab Barghouti, filho de Marwan, o prisioneiro palestino mais famoso e condenado, que agora, confidencia a família, "poderia ser solto como parte da troca de prisioneiros" prevista pelo plano Trump. Aos 34 anos, ele tem poucas expectativas: "Minha geração não acredita mais na convivência dos dois povos em dois Estados vizinhos, algo que os líderes fantasiam para nos hipnotizar. Meu pai, no entanto, ainda acredita. Nossos contatos, mediados por seu advogado, podem ser contados nos dedos de uma mão, mas sei que ele defende a solução política, e a visita à sua cela do provocador ministro Ben Gvir reforçou sua importância. Ele é um líder que une as diversas almas palestinas e pode desempenhar um papel na transição pós-Gaza que está sendo discutida em Washington".
Quando e quanto o exército israelense se retirará, o que inventará de novo Netanyahu para se livrar da situação, como o Hamas reagirá considerando que, essa é a impressão mais difundida, deve aceitar o abandono de países amigos como Turquia e Catar, apesar de sua imensa popularidade nas ruas árabes. Essas questões rondam a Cisjordânia ocupada, cujo destino os 20 pontos de Trump driblaram.
"Devemos ser realistas. A perspectiva de o plano de Gaza levar à criação de um Estado palestino é um passo importante, não vejo outros no horizonte", admite Baha Fucahaa, prefeito do município de Sinjil, a dez minutos de carro de Al-Mughayyr, com quem compartilha o desafio existencial representado pelas incursões de colonos. Após os confrontos, há seis meses, enquanto o cessar-fogo em Gaza já era discutido no palco internacional, o exército israelense cercou a cidade com uma cerca que deixa apenas uma das cinco entradas aberta. "Em dois anos, a crescente pressão da ocupação fez com que 30% da população emigrasse para os Estados Unidos", comenta. A linha de frente palestina está em Beit Hanoun, está na Cidade de Gaza, é aqui onde o eco lancinante do 7 de outubro chega indiretamente, alterado, incompreensível.
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