02 Outubro 2025
Falar sobre água é falar sobre a própria vida. Os povos amazônicos, com sua sabedoria ancestral, nos lembram que a água não é possuída, vendida ou negociada. Lembre-se de que você não está sozinho, a Igreja caminha com você.
A reportagem é de Paola Calderón, publicada por Religión Digital, 01-10-2025.
"Onde a água é poluída ou acumulada, a dignidade dos povos é violada", disse o Cardeal Michael Czerny aos participantes da Cúpula da Água da Amazônia, realizada de 1 a 3 de outubro em Iquitos, Peru.
O prefeito do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral encorajou os presentes a orientarem suas reflexões e compromissos para uma ecologia integral, onde a sabedoria ancestral, a espiritualidade viva, o cuidado com a criação e a justiça social caminhem juntos, porque trabalhar para proteger a água significa respeitar a obra do Criador, proteger os mais pobres e garantir o futuro das gerações futuras.
"Peço que não percam a coragem. Sei que defender a água e a Amazônia não é fácil, mas as vozes daqueles que amam esta floresta podem abrir caminho para a justiça e a fraternidade", disse ele.
Um sinal de esperança
Para o cardeal, esses esforços fazem parte de uma missão maior para garantir que as gerações futuras recebam uma Terra habitável, com rios limpos, florestas saudáveis e comunidades dignas.
Um horizonte comum que ele apoia resolutamente. "Lembrem-se de que vocês não estão sozinhos, a Igreja caminha com vocês", declarou. Ao mesmo tempo, defendeu a construção de alianças entre os diferentes grupos populacionais que habitam a Amazônia peruana — indígenas, ribeirinhos, camponeses, agentes pastorais, jovens, cientistas e autoridades — porque, em sua perspectiva, "todos somos chamados a remar na mesma direção, para que a água continue sendo fonte de vida e não causa de sofrimento".
Assim, a Cúpula da Água na Amazônia, que acontece no âmbito do ano jubilar, constitui, nas palavras do cardeal, um sinal de esperança ao promover um encontro para dialogar e se comprometer com a defesa deste valioso recurso, que demonstra que outro caminho é possível, aquele que constrói fraternidade, justiça social, respeito à diversidade cultural, cuidado com a casa comum e, portanto, laços com o criador.
Um presente sagrado
Uma tarefa que, em sua opinião, os povos amazônicos estão levando adiante por entenderem que "falar de água é falar da própria vida", um bem comum que devemos salvaguardar e compartilhar. Por isso, o delegado vaticano nos convidou a voltar nossa atenção para esses povos, pois, com sua sabedoria ancestral, eles ensinam que "a água não se possui, não se vende, não se negocia"; pelo contrário, ela se compartilha, se defende e se celebra como sinal de comunhão na jornada da vida.
"Como precisamos ouvir esse ensinamento em um mundo que, às vezes, busca transformar a criação em mercadoria", afirmou. Ele também destacou os ensinamentos dos povos amazônicos, baseados no cuidado com os rios, que nada mais é do que cuidar da vida, entendendo que respeitar a floresta significa respeitar a nós mesmos e às gerações futuras. Dessa forma, Czerny se uniu à alegria, ao compromisso e às lutas dos participantes da Cúpula da Água na Amazônia, pois têm plena consciência de que "a água é um dom sagrado de Deus que nos une e nos sustenta como fonte de vida e esperança para todos os povos e criaturas".
Ele concluiu sua fala expressando sua proximidade com os presentes. "Meu coração viaja até vocês, para esta terra abençoada da Amazônia Ocidental, onde os rios são como veias que dão vida e onde cada gota d'água reflete o rosto do Criador", comentou.
Dias de trabalho dedicados à intercessão de Maria para que o valor do cuidado com toda a criação renascesse em todos os participantes, e que o Espírito Santo, como água viva, renovasse suas forças e lhes desse esperança".
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