15 Setembro 2025
Reflexões sobre tecnologia, ensaios bíblicos ou de espiritualidade, meditações sobre a natureza, ficção e poesia também estão entre algumas das múltiplas novidades para os próximos meses.
A informação é de António Marujo e Manuel Pinto, publicada por 7Margens, 14-09-2025.
Para os Caminhantes Tudo é Caminho é o título do novo livro do cardeal José Tolentino Mendonça, e poderia dizer-se que para os leitores tudo pode ser motivo de expectativa: várias editoras anunciaram nos últimos dias as suas novidades para a rentrée literária deste ano e, entre elas, estarão, além desta última obra do prefeito do Dicastério da Cultura do Vaticano, o sexto volume da Bíblia traduzida por Frederico Lourenço ou o novo livro, sobre Deus, do filósofo alemão Byung-Chul Han, dialogando com Simone Weil.
Apresentando o livro do cardeal Tolentino, que será publicado em Novembro, o editor Francisco José Viegas, da Quetzal, refere que ele se situa na linha dos anteriores O Pequeno Livro das Grandes Perguntas. “Chegará o momento em que compreenderemos que sabedoria é amar tudo. É saudar os dias sem esquecer a importância das horas; contemplar as grandes correntes sem deixar de agradecer cada gota de orvalho, estimar o pão sem, no entanto, esquecer o sabor das migalhas”, diz a sinopse do livro do novo livro do prefeito do Dicastério para a Cultura e a Educação, do Vaticano. “Chegará a ocasião de compreender que o importante não é só contar a viagem, mas testemunhar também o contributo dos passos; elogiar não só a meta, mas a lição de cada etapa…”
Também em Novembro, a Quetzal publicará um novo volume da tradução que Frederico Lourenço empreendeu da Bíblia, a partir da versão dos Septuaginta. Desta vez, teremos a versão do professor de línguas clássicas para os cinco livros do Pentateuco – Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio. Um volume que coloca o leitor “perante os grandes problemas inerentes à leitura crítico-histórica da Bíblia”, escreve Lourenço na introdução.
No Pentateuco, acrescenta o tradutor, encontra-se não uma “teologia uniforme e coerente”, nem sequer “um manual de doutrina ou um catecismo”, mas antes “um relato da interação de Deus com a humanidade por Ele criada” e que era “capaz de surpreender e de desconcertar um Deus que ainda não é visto com os atributos teológicos de eras posteriores”.
O judeu Paulo e a Bíblia como um romance

Capa de “Um Judeu Chamado Paulo”, de Matthew Thiessen
Falando da Bíblia, Um Judeu Chamado Paulo, de Matthew Thiessen, é uma das obras que outra editora do grupo, a Temas e Debates, proporá em Outubro para esta rentrée literária. Com o subtítulo O arauto do Messias para os gentios, o livro propõe-se “remediar” o fato de os debates acadêmicos sobre a relação de Paulo com o judaísmo, apesar de intensos, serem “pouco conhecidos do público”, como escreve Pamela Eisenbaum. Thiessen, explica esta professora na Illif School of Theology, defende nesta obra que Paulo permaneceu “plena e firmemente dentro do judaísmo” até à morte.
Não sendo a primeira vez que esta tese é defendida, Thiessen tem nesta obra um “argumento notável: argumenta que o melhor enquadramento para compreender o Paulo histórico reside no retrato que nos foi legado pelo autor do evangelho de Lucas e dos Atos dos Apóstolos”. E o jesuíta Francisco Martins, que publicou na mesma editora A Bíblia Tinha Mesmo Razão? – As histórias de Israel e o Israel da História, acrescenta que este livro “introduz os leitores a uma nova forma de entender o apóstolo dos gentios que é menos partidária nas suas premissas e mais rigorosa nas suas conclusões”.
Sobre a Bíblia, a Presença publicará O Deus dos Nossos Pais, do jornalista italiano Aldo Cazzullo, que pretende apresentar a Bíblia como “um grande romance épico” que explora “as emoções e dilemas das suas figuras, e ligando-os aos desafios de hoje”. Uma forma de redescobrir a Bíblia “como reflexão sobre a condição humana, a redenção e as questões do mundo moderno” num tempo em que as pessoas leem menos o texto sagrado judaico-cristão e que, por isso “desconhecem o livro maravilhoso que é.”
A Temas e Debates foi ainda a Harvard buscar o novo livro do capelão-chefe da Universidade, que é ateu.
Tech Agnostic, ou Agnosticismo tecnológico, chega em Outubro. “A tecnologia ultrapassou a religião como influência dominante na vida e na comunidade” e o autor propõe que se deve ter um pensamento crítico em relação a esta nova fé. “Mostrando como o cepticismo esteve sempre ao serviço da humanidade, Epstein evoca os apóstatas, heréticos, místicos, videntes e denunciantes que corporizam a reforma da tecnologia de que desesperadamente precisamos”, explica a editora. E numa “época tumultuosa de extremismo religioso e capitalismo desenfreado, Tech Agnostic mostra-nos um novo futuro, onde matemos o distanciamento crítico suficiente para perceber que nem toda a tecnologia é boa”.

Capa de “Construtoras de Impérios – Vozes de Mulheres na Expansão Portuguesa”, da autoria dos historiadores Amândio Barros, Amélia Polónia, António Manuel Hespanha e Rosa Capelão.
Byung-Chul Han e Deus, em diálogo com Simone Weil
Deus é, por seu lado, o tema central do novo livro do filósofo alemão de origem coreana Byung-Chul Han, saído já este ano na Alemanha e cuja tradução portuguesa deverá chegar às livrarias até ao fim deste mês de setembro, segundo informação dada ao 7MARGENS pela Relógio D’Água Editores, que tem editado várias outras obras do mesmo autor. O livro tem como título Conversas sobre Deus: Um Diálogo Com Simone Weil – seguindo de perto o título em alemão, Sprechen über Gott: Ein Dialog mit Simone Weil. Como outras obras do filósofo, é relativamente pequeno (pouco mais de 120 páginas), dedicando cada um dos sete capítulos a temas onde ressoa a obra de Weil: atenção; decriação; vazio; silêncio; beleza; dor; e passividade.
Han vai ao encontro de um receio e de uma esperança que Simone Weil, “a figura intelectual mais brilhante do século XX”, manifestou numa carta: de que a sua obra e os seus pensamentos desaparecessem com a sua morte, “infectados pela [sua] inadequação e pela [sua] miséria”, mas também de que alguém a encontrasse, a partir da amizade. Declarando uma “profunda amizade espiritual” por Simone Weil, Han serve-se da sua obra para “mostrar que, além da imanência da produção e do consumo, além da imanência da informação e da comunicação, existe outra realidade superior, na verdade uma transcendência, que pode tirar-nos de uma vida completamente sem sentido, da mera sobrevivência”. Por isso Han considera Weil “uma bússola ética e espiritual para o nosso tempo, diante de um mundo dominado pelo desempenho, pelo consumo e pela hiperatividade”.
Outras mulheres traz-nos o livro Míticas – As Mulheres da Odisseia, o segundo volume de Uma Nova História do Mundo de Homero (depois de As Mulheres da Ilíada), da investigadora de estudos clássicos Emily Hauser. Atena, Calipso, Nausícaa, Circe, Penélope e muitas mais são aqui resgatadas nesta obra a editar pela Bertrand, de forma a ficarmos a saber quem eram, como viveram e como a História as lembrou ou desvalorizou, resume a editora.

Capa de “Das Esperanças à Esperança”.
Mulheres que foram protagonistas na história da expansão marítima portuguesa é o tema de Construtoras de Impérios – Vozes de Mulheres na Expansão Portuguesa, da autoria dos historiadores Amândio Barros, Amélia Polónia, António Manuel Hespanha e Rosa Capelão. Apresentada como uma “obra pioneira”, esta investigação pretende repor a verdade “sobre o papel das mulheres naquele tempo” e o protagonismo que várias figuras femininas tiveram na construção do império colonial ou nas histórias autóctones, num mundo composto de “sentimentos de pertença cruzados, práticas híbridas e identidades em transformação”.
Espiritualidade, tecnologia e Bíblia
Na Paulinas Editora, a espiritualidade, a Bíblia, os 1.700 anos do Credo de Niceia e a tecnologia estão em lugar de destaque. Quem Quiser Ganhar há de Perder. Forças espirituais, estilos de vida, formas de Igreja, da autoria do padre jesuíta José Frazão Correia, ex-provincial da Companhia de Jesus, será publicado ainda neste mês. Reunindo textos dispersos, revistos e articulados para esta edição, o livro organiza-se em duas partes: na primeira, fala-se da hospitalidade do real; na segunda reflete-se sobre de que a Igreja precisa de se desembaraçar se quiser ter futuro.
A Derrocada de Babel, de Paolo Benanti, um dos maiores especialistas católico nas questões morais levantadas pelas novas tecnologias e pela inteligência artificial (colaborou com o Papa Francisco e com o Governo italiano) analisa os caminhos que se abrem depois do colapso do “sonho bonito” da Internet e das redes sociais como instrumento para chegar a uma humanidade mais unida. “Como pôr ainda a tecnologia ao serviço do bem? Como responder humanamente aos desafios que colocam as evoluções desta, nomeadamente o advento da Inteligência Artificial?” são perguntas a que Benanti procura responder no livro, que estará à venda em Outubro.
Dois curtos ensaios bíblicos são propostos ainda pela Paulinas nesta rentrée editorial: Jesus e os Discípulos no Evangelho de São Marcos, do padre Ricardo Neves, que nesta segunda-feira, 15, é posto à venda; e Das Esperanças à Esperança – Os rostos da esperança bíblica, do padre David Palatino.
Para Outubro, A Vida Eterna, de Roberto Pasolini (o novo pregador da Casa Papal) propõe repensar o Credo cristão, nos 1.700 anos de Niceia e a ideia de que a vida eterna “é uma realidade que resvala já para o presente, que somos já aqui chamados a antecipar”. Em Novembro, a Paulinas publica A Força da Mansidão, do italiano Luigi Maria Epicoco, que faz um percurso pela espiritualidade do Evangelho de Mateus; e ainda Teologia do Corpo, o conjunto de catequeses do Papa João Paulo II sobre o tema, numa edição revista e acrescentada de novos textos que não tinham sido incluídos numa anterior edição publicada há 12 anos.
Ficção e poesia que falam da inspiração
Na ficção e na poesia, também vêm aí obras que tocam as questões da fé, da religião e da espiritualidade. A Quetzal publica Polo Norte: Uma Meditação sobre a Natureza, do norueguês Erling Kagge, a única pessoa a ter ido ao Polo Norte, ao Polo Sul e a subir ao Everest. Autor de Silêncio na Era do Ruído, Erling Kagge faz neste livro uma meditação sobre a natureza, que tem tudo a ver também com os atuais debates de geopolítica.
Na mesma editora, José Luís Peixoto e José Eduardo Agualusa regressam com novos romances: do primeiro, A Montanha propõe uma viagem construída com as vidas de pacientes do Instituto Português de Oncologia do Porto; do segundo, Tudo Sobre Deus conta a história de Leopoldo Borges, que compra uma igreja abandonada no deserto do Namibe, junto ao Atlântico, e nos últimos meses da sua vida faz uma “escavação” da sua própria alma. Uma “história sobre a finitude, a memória, a culpa e a redenção”, sugere a editora.
A Assírio & Alvim reúne num volume de quase 600 páginas toda a Poesia (com exceção dos versos em latim) de Arthur Rimbaud, escrita apenas entre os 15 e os 20 anos. O “rebelde visionário” foi visto por alguns, como Paul Claudel, como católico, enquanto outros sugerem ter recebido influências do islão em partes da sua obra. Mas Rimbaud, que morreu com 37 anos, acabou reconhecido sobretudo como uma referência maior dos surrealistas. A edição, bilíngue, estará à venda no próximo dia 18, tem tradução de João Moita e um prefácio de Fernando Pinto do Amaral sobre “uma das ideias centrais em Rimbaud, a inspiração”.

Assírio & Alvim reúne num volume de quase 600 páginas toda a “Poesia” de Arthur Rimbaud.
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