13 Setembro 2025
"Até agora, o caminho sinodal, cheio de luzes e sombras, não esteve totalmente isento dos riscos que preocupavam Francisco. O mais perigoso e traiçoeiro, o imobilismo, poderia não ter sido totalmente afastado", escreve Franco Ferrari, em artigo publicado por Adista Documenti, n.º 30, 06-09-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Franco Ferrari é presidente da Associação Viandanti, uma organização que reúne leigos adultos que se questionam sobre temas eclesiais e sociais. Viandanti: anima uma rede homônima da qual participam 32 organizações de base; é parte da Rede Sinodal da Igreja Italiana.
Eis o artigo.
Com a intenção de fazer uma primeira avaliação do Sínodo dedicado ao tema "Por uma Igreja Sinodal: Comunhão, Participação, Missão" (2021-2024), não se pode deixar de começar pelas intenções com as quais Francisco concebeu a convocação.
Um sínodo para se tornar “Igreja diferente” — dirá Francisco na conclusão de seu discurso de abertura (9 de outubro de 2021) com uma referência direta ao teólogo dominicano Yves-Maria Congar [1] — uma Igreja estruturalmente sinodal, ou seja, “um lugar aberto, onde todos se sintam em casa e possam participar”; uma Igreja da escuta, que suspende suas próprias ansiedades pastorais para parar e escutar os fiéis “sobre as esperanças e as crises da fé, sobre a urgências de renovação da vida pastoral”; finalmente, uma Igreja da proximidade, “que não se separa da vida, mas assume as fragilidades e as pobrezas do nosso tempo, curando as feridas e recuperando os corações aflitos”.
O risco do imobilismo
Consciente das dificuldades da mudança, Bergoglio também alertou contra os possíveis riscos: formalismo, Intelectualismo e imobilismo. O primeiro reduziria o "Sínodo a um evento extraordinário, mas de fachada"; o segundo o transformaria em "uma espécie de grupo de estudo, uma espécie de 'conversa interna', desvinculado da vida concreta das comunidades". Por fim, o terceiro, considerado um veneno para a vida da Igreja, manteria as coisas como estão ("já que 'sempre se fez assim', é melhor não mudar"). O antídoto sugerido é a participação, promovendo o envolvimento real de todos, porque "celebrar um Sínodo é realmente profícuo se se torna a expressão de uma forma de agir caracterizada por uma verdadeira participação".
Até agora, o caminho sinodal, cheio de luzes e sombras, não esteve totalmente isento dos riscos que preocupavam Francisco. O mais perigoso e traiçoeiro, o imobilismo, poderia não ter sido totalmente afastado.
O "faro dos fiéis" surpreende
A Igreja da escuta, embora não em todos os lugares, se manifestou significativamente na ampla consulta inicial. Não uma sondagem das opiniões dos fiéis, mas uma escuta do sentimento profundo do Povo de Deus em relação à vida de fé e à Igreja. É o que os teólogos chamam de sensus fidei, que Francisco traduziu para todos como "faro dos fiéis". A consulta, que durou dois anos e foi regida com grande tenacidade pela Secretaria Geral do Sínodo, caracterizou-se por uma circularidade da comunicação, com um ida e retorno de baixo para cima, como o Papa Francisco havia repetidamente pedido. Uma escuta que proporcionou duas surpresas, como observou o Secretário Geral, Cardeal Grech. A primeira foi "a singular convergência em muitos pontos de contribuições vindos de contextos eclesiais e culturais bastante diferentes", e a segunda foi "escutar como, mesmo na diferença de sensibilidade, o santo Povo de Deus converge no pedir uma profunda renovação da Igreja".
Os fiéis, consultados com liberdade de palavra, demonstraram uma percepção precisa dos problemas da vida de fé e da Igreja. Um "faro" que trouxe à atenção dos Pastores problemas sobre os quais nem sempre se pôde falar. A "renovação profunda" mencionada abordou muitos aspectos; alguns podem ser lembrados: as muitas limitações da práxis litúrgica (linguagem, homilia, distância da vida, etc.); o repensamento do papel e da figura do sacerdote (seleção e formação, relação com a ministerialidade dos leigos, exercício da liderança, etc.); a presença e o papel das mulheres, os organismos de participação, a reforma do Código de Direito Canônico, a atenção às pessoas marginalizadas, incluindo a comunidade LGBTQ+.
Receio e desorientação dos bispos
Na circularidade comunicativa da consulta se inseriu a significativa passagem das sete assembleias continentais. Uma novidade absoluta, que forneceu uma imagem da Igreja em nível mundial, confirmando, caso houvesse necessidade, sua grande pluralidade de formas e práxis. Conceber a unidade da Igreja como uma relação entre as diversidades é um desafio que não pode mais ser adiado. A "renovação profunda" só poderá ocorrer por meio de formas de descentralização em vários níveis.
A consulta também destacou um terceiro elemento, do qual se pode considerar que dependerá o sucesso da operação sinodalidade: as preocupações e os receios do clero e dos bispos.
"Muitos bispos", disse Grech à Assembleia Continental Europeia, "nos escreveram expressando sua preocupação de que tal ênfase na consulta ao Povo de Deus comportasse um questionamento à própria função dos Pastores". Uma desorientação que persistiu até na sessão de abertura da primeira sessão sinodal, pela saudação do Presidente-Delegado: "Devemos confessar a Vossa Santidade que muitos de nós se sentiram um tanto desorientados".
O Sínodo continua
A Assembleia, convocada em 2021, ao longo de seu desenvolvimento - demonstrando a complexidade dos temas postos pela escuta do "faro dos fiéis" - foi dividida em duas sessões: a primeira em 2023 e a segunda no ano seguinte. No entanto, o percurso sinodal ainda não se concluiu definitivamente: agora tem diante de si um duplo percurso de implementação, ao final do qual será possível determinar se o risco do imobilismo foi afastado.
Os trabalhos da primeira sessão, podemos dizer, deram uma ordem aos muitos problemas levantados. O documento final ("Relatório de Síntese") organizou as questões em 20 grandes núcleos temáticos, definindo para cada um as convergências, as questões em aberto e as propostas para abordá-las. Um resultado que deixou muitos insatisfeitos, mas foi um "inventário" útil que esclareceu, de forma compartilhada, as questões que não podem mais ser adiadas.
Essas foram confiadas pelo Papa Francisco para estudo e discussão mais aprofundados, e a busca das soluções será conduzida por 10 grupos de estudo [2], que apresentarão um relatório ao Papa até o final deste ano.
O segundo caminho, que se concluirá com a Assembleia Eclesial de 2028, diz respeito à implementação nas dioceses dos conteúdos do "Documento Final" (DF) da segunda sessão sinodal, que o Papa endossou e agora é um documento do magistério. Trata-se agora de metabolizar o estilo sinodal na vida das dioceses e das comunidades, mas também de modificar na organização tudo o que já é possível fazer sem esperar por novas diretrizes, porque já estão indicadas/sugeridas no DF, por exemplo, o funcionamento dos órgãos de participação, a transparência administrativa e outros aspectos, a descentralização e a inculturação (capítulos 3 e 4).
Para essa fase, a Secretaria do Sínodo já publicou as "Linhas para a Fase de Implementação do Sínodo" com um rigoroso cronograma.
Em perspectiva
O processo permanece, portanto, em aberto, mas com o ponto firme de um documento magistral, o DF, com uma "Nota de Acompanhamento" explícita do Papa Francisco, que empenha "as Igrejas, desde já, a fazer escolhas coerentes com o que nele está indicado".
Por um lado, será necessário compreender o que o Papa Leão pretende fazer com esse legado crucial, também fonte de polêmicas e divisões. Atualmente, continuando a sua revisão dos vários organismos, reuniu-se, de forma um tanto rápida poder-se-ia dizer, com a Secretaria Geral do Sínodo na tarde de 26 de junho. Na sua breve saudação, sem entrar num discurso programático, limitou-se a encorajá-los a prosseguir o trabalho.
Por outro lado, será importante compreender como as dioceses, e ainda mais os simples fiéis, responderão aos empenhos do caminho que as separa da Assembleia Eclesial de 2028. As "Linhas" enfatizam ainda mais a exigência de um amplo envolvimento, também de realidades não estritamente institucionais, para garantir a contribuição de todos "de baixo". Superando o generalizado clima de desconfiança, será importante que tais realidades de base que se empenharam profundamente na fase anterior [3] continuem a contribuir, não apenas à margem, mas também se engajando nos momentos mais institucionais. O que está em jogo poderia se o imobilismo.
Notas
[1] “O saudoso padre Congar lembrava “Não é preciso fazer uma outra Igreja, é preciso fazer uma Igreja diferente” (Vera e falsa riforma nella Chiesa, Milano 1994, 193)
[2] 1. Relações com as Igrejas Orientais Católicas; 2. Escuta do grito dos pobres; 3. Missão no ambiente digital; 4. Revisão da formação de diáconos e presbíteros; 5. Aspectos teológicos e canônicos de formas ministeriais específicas; 6. Relações entre Bispos, religiosos e agregações eclesiais; 7. Figura e ministério do Bispo (critérios de seleção de candidatos, etc.); 8. Papel dos Núncios Apostólicos; 9. Critérios para o discernimento sobre questões doutrinais, pastorais e éticas controversas; 10. Recepção dos frutos do ecumenismo.
[3] Já abordamos essa contribuição no artigo "De baixo: redes e revistas no caminho sinodal", em Adista Segni Nuovi, nº 8, 5 de março de 2022.
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