10 Setembro 2025
Estudo da UFPR indica que os animais inseridos pelas pessoas podem ter chances maiores de sobreviver do que os nativos.
A reportagem é de Aldem Bourscheit, publicado por ((o))eco, 09-09-2025.
Trazidos da Europa como promessa de carne nobre e para a caça esportiva, os javalis (Sus scrofa) se tornaram uma das principais espécies invasoras do Brasil. Hoje, já se multiplicam em todos os seis biomas e estão presentes em mais de 2 mil municípios, ou 36% dos listados no país.
Seu impacto é grande e de difícil controle. Eles destroem lavouras comerciais e de subsistência, reviram solos e nascentes de água, devoram brotos da vegetação natural e atacam outros animais. Concorrentes mais fortes e ágeis que a maioria da fauna local, ameaçam a sobrevivência de inúmeras espécies nativas.
Contudo, o problema não se restringe ao campo ambiental. Afinal, os javalis podem transmitir doenças a porcos domésticos e até às pessoas, sobretudo pelo consumo de sua carne. O avanço descontrolado também acarreta altos custos de manejo e prejuízos à agropecuária.
Esses são alguns dos alertas descritos num estudo da Universidade Federal do Paraná (UFPR), que dimensionou a ameaça global das espécies exóticas. A análise foi conduzida pela doutoranda Larissa Faria, com apoio do CNPq e da Fulbright, em colaboração com cientistas da Alemanha, Reino Unido e Canadá.
Segundo a pesquisa, esses animais consomem presas e outros recursos até 70% mais rápido que os nativos. Essa diferença explicaria parte da expansão acelerada dos javalis. Outros motores seriam escapes de criadouros e sua soltura intencional, por interessados em caçadas em ambientes abertos.
Esse tipo de crime é citado em estudos publicados por cientistas de instituições como UFSC, UnB e Unesp, além de na revista OneHealth e no Plano Nacional de Prevenção, Controle e Monitoramento do Javali no Brasil, esse de agências do governo federal.
Introduzir espécies exóticas sem autorização é um crime pela legislação ambiental. Ainda assim, a prática persiste, seja por solturas ilegais, descuidos em pesque-pagues ou falhas de fiscalização, aponta o estudo da UFPR. Paralelamente, o país já tem mais de 80 normas federais sobre esses animais e plantas.
“Não adianta haver uma lei proibindo, se as pessoas não sabem o que é uma espécie exótica invasora e soltam o estoque excedente de tilápias do seu pesque-pague no riozinho mais próximo da sua propriedade, por exemplo”, diz Faria.
Diante desse preocupante cenário, pesquisadores pedem ações mais firmes dos órgãos públicos, como protocolos rigorosos para avaliar impactos, testes em campo e fiscalização efetiva. Também defendem o fomento a espécies nativas, como alternativa sustentável à importação de exóticas.
Por fim, para os especialistas os javalis são apenas a face mais visível de um problema maior. A disseminação de espécies exóticas resulta geralmente de escolhas humanas equivocadas e não planejadas. Mas, seus efeitos se espalham por ecossistemas, economias e comunidades inteiras.
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