09 Setembro 2025
Brasil tem 9,1 milhões de analfabetos e 29% da população em situação de analfabetismo funcional.
A reportagem é de Adele Robichez, José Eduardo Bernardes e Larissa Bohrer, publicada por Brasil de Fato, 08-09-2025.
No Dia Mundial da Alfabetização, celebrado nesta segunda-feira (8), o professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP) Daniel Cara critica a negligência histórica do Brasil com o tema. “É completamente incompreensível que no país de Paulo Freire, que foi o maior pensador da alfabetização e da educação ao longo da vida dos adultos, referência global, o índice de analfabetismo absoluto seja ainda muito alto”, afirmou ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato.
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil tinha 9,1 milhões de pessoas com 15 anos ou mais que não sabiam ler nem escrever em 2024, o que corresponde a uma taxa de 5,3% da população adulta. Além disso, o Indicador de Analfabetismo Funcional (Idaf) do último ano indica que cerca de 29% da população brasileira era considerada analfabeta funcional.
O pesquisador ressalta que o impacto da alfabetização, inclusive da Educação de Jovens e Adultos (EJA), vai para além da sala de aula. “Uma criança que tem contato com um adulto que volta para a escola (…) quase sempre tem um desempenho escolar muito satisfatório porque vê que a família valoriza a educação”, explica.
Ele explica que o analfabetismo funcional gera um problema em todos os níveis de ensino. “Se você chega até a universidade e está em situação de analfabetismo funcional, é um problema, concretamente, de algo que não ocorreu na educação básica. […] Isso é gravíssimo”, afirma.
Cara lembra ainda que o aprendizado não é cumulativo e exige estímulo constante. “Quantas vezes uma pessoa estuda um idioma estrangeiro e, pelo fato de não praticar, tem muita dificuldade de retomar o uso da língua? Essa é a prova de que o aprendizado não é cumulativo”, compara.
Mudanças climáticas e desigualdades regionais
O professor destaca que a crise climática impõe novos desafios à educação, como no Rio Grande do Sul, onde enchentes inviabilizaram aulas em 2024. “As mudanças climáticas trazem inúmeros desafios para o aprendizado, tanto na inviabilização do curso normal das aulas […] como também a climatização das salas de aula não permite um aprendizado”, diz.
Ele também ressalta que as desigualdades regionais ampliam a exclusão educacional. “[O Norte] é uma região que ainda está muito pautada em processos de corrupção, […] tem um garimpo mobilizado pelo crime muito estruturado, […] diante do fato de que o Brasil não respeita as populações indígenas, tampouco as ribeirinhas. Isso resulta em uma região que tem pouco acesso à educação, comparado com as outras regiões”, exemplifica.
Leia mais
- ‘Educação brasileira funciona com metade dos recursos necessários’, diz Daniel Cara
- Caso de estudantes de medicina revela educação brasileira voltada ao currículo e longe da cidadania. Entrevista com Daniel Cara
- Analfabetismo volta a crescer e expõe falta de políticas públicas, aponta presidente da CNTE
- Brasil tem 13 milhões de analfabetos e não consegue redução há três anos, diz Unesco
- A crise da educação: um ataque sistemático ao conhecimento. Artigo de Robson Ribeiro de Oliveira Castro Chaves
- 'Novo analfabetismo': por que tantos alunos latino-americanos terminam ensino fundamental sem ler ou fazer contas
- No Brasil, 11,5 milhões de pessoas que ainda não sabem ler e escrever
- No ensino superior, 38% dos alunos não sabem ler e escrever plenamente