09 Setembro 2025
"Ainda não estamos diante de uma revolução (de plena pertença eclesial), mas não há dúvida de que a misericórdia é a marca registrada também da Igreja de Prevost".
O artigo é de Franco Garelli, sociólogo italiano, publicado por La Stampa, 06-09-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eis o artigo.
Por fim chegamos aos dias do Jubileu da Esperança dedicados à comunidade católica LGBTQ+, um evento que atraiu o interesse de meio mundo, empenhado em avaliar se e em que medida a Igreja do Papa Prevost está em linha, ou está tomando medidas corretivas em relação às aberturas introduzidas pelo Papa Francisco em direção às periferias existenciais.
O evento tem um significado religioso-eclesial sem precedentes. É a primeira vez que o programa oficial de um Jubileu inclui a representação LGBTQ+. As etapas são as clássicas para esse evento. Além de assistir a uma missa celebrada pelo bispo Francesco Savino, vice-presidente da CEI, que há anos também está envolvido com o seu acompanhamento pastoral, os participantes passarão pela Porta Santa, um ato que simboliza a busca e o abraço da misericórdia divina e o pedido de indulgência plenária. Trata-se de uma peregrinação organizada pela associação "Tenda di Gionata", que há tempo promove a pastoral para as pessoas homossexuais. Os envolvidos nos informam que o programa é o mesmo pensado e endossado pelo Papa Francisco, que, portanto, também obteve a aprovação do novo pontífice, que, pouco antes deste evento, confirmou em algumas entrevistas públicas o clima de acolhimento e misericórdia com que a Igreja pretende acompanhar esses seus filhos.
No entanto, como sabemos, apesar dessa atenção, o papa Prevost não chega a reconhecer o casamento entre pessoas do mesmo sexo e não perde a oportunidade para enfatizar – como fez recentemente no Jubileu das Famílias – que o casamento não é um ideal inatingível, mas o "cânone do verdadeiro amor entre o homem e a mulher", entendendo com esse ícone um amor total, fiel e fecundo. Suas palavras, portanto, ressaltam a centralidade do casamento e da família fundada na união de um homem e uma mulher, confirmando sua natureza completa e reprodutiva. E, para deixar claro, ele também citou a Humanae Vitae, a controversa encíclica de Paulo VI de 1968, que vincula o casamento à procriação e tem suscitado muita discussão (dentro e fora do catolicismo) por mais de meio século por reafirmar a oposição da Igreja à contracepção.
Como interpretar, então, a atenção do Jubileu aos fiéis LGBTQ+, diante de uma Igreja oficial que reitera claramente suas convicções sobre sexualidade e concepção da família? Por um lado, Prevost, de forma mais peremptória do que Bergoglio, sente a exigência de afirmar um princípio fundamental da moral cristã; por outro, em consonância com seu antecessor, convida a Igreja a acompanhar todos os fiéis e os homens de boa vontade, nas situações concretas que vivenciam, conscientes de que em seus ânimos pode albergar uma vida de fé significativa.
Em suma, os apelos proféticos do Papa Francisco deixaram sua marca: os de "uma Igreja em saída", de "um hospital de campanha" aberto à vida real das pessoas, de um pastor que se pergunta: "se uma pessoa é homossexual, busca o Senhor e tem boa vontade, quem sou eu para julgar?". Ainda não estamos diante de uma revolução (de plena pertença eclesial), mas não há dúvida de que a misericórdia é a marca registrada também da Igreja de Prevost. Está amadurecendo a convicção de que se pode estar dentro da ordem e, ainda assim, não ter uma vida de fé real, e de que se pode estar fora da ordem e, mesmo assim, ter uma busca por Deus que merece ser considerada e valorizada.
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