09 Setembro 2025
"A UE, esse anão político que muito se preocupa com os interesses dos lobbies militares e das classes que especulam em seus lucros, prometeu a Donald Trump que financiaria o Pentágono e o complexo militar-industrial transatlântico com 5% do PIB em dez anos, às custas dos contribuintes europeus", escreve Roberto Ciccarelli, em artigo publicado por Il Manifesto, 03-09-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eis o artigo.
O relatório da Agência Europeia de Defesa: 343 bilhões de euros foram destinados às armas na UE em 2024. E esse número aumentará em 10 anos. O apoio ao complexo militar-industrial abre caminho para cortes nos serviços e/ou aumentos de impostos. Quantos postos de trabalho como médicos, enfermeiros, professores ou assistentes sociais podem ser financiados com 249.000 euros por ano, ou seja, o gasto total por soldado investido na Europa? Certamente muitos, dado que, nos últimos dez anos, os gastos militares tiveram um aumento recorde em comparação com os 211.000 euros de 2023 e os 138.000 de 2014.
O relatório 2024-2025 da Agência Europeia de Defesa (EDA) demonstra que quanto mais difícil e precário o acesso às profissões do Welfare, sem mencionar a estabilidade no emprego que é um inferno, maior o incentivo à despesa daqueles que afirmam estar pensando na paz preparando a guerra. Para estes últimos, o gasto per capita aumentou de 642 euros em 2023 para 764 euros em 2024, em comparação com 426 euros em 2014. Isso se deve ao crescimento contínuo dos orçamentos de defesa dos estados-membros da União Europeia. Em 2024, os gastos com defesa nos 27 estados-membros da UE atingiram 343 bilhões de euros, um aumento de 19% em relação a 2023, elevando o nível para 1,9% do PIB.
Nos próximos dez anos, esse valor poderia até dobrar. A UE, esse anão político que muito se preocupa com os interesses dos lobbies militares e das classes que especulam em seus lucros, prometeu a Donald Trump que financiaria o Pentágono e o complexo militar-industrial transatlântico com 5% do PIB em dez anos, às custas dos contribuintes europeus. Esse aspecto crucial foi destacado pelo último relatório do SIPRI (Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo), que mostrou a crescente dependência da Europa das compras de armas “made in USA”.
Nesse contexto, o Parlamento Europeu voltará a debater nos próximos meses o "Programa de Prontidão para a Defesa" até 2030, um eufemismo usado para ocultar o "plano de rearmamento da Europa" de 750 bilhões de euros (dos quais 650 serão custeados pelos Estados-membros, ou seja, pelos contribuintes), cujo nome foi alterado para evitar inquietar a opinião pública e legitimar os próximos cortes na assistência social ou o aumento de impostos, ou ambos.
O governo Meloni, com sua próxima lei orçamentária, já espera retornar ao limite de 3% a relação dívida/déficit, isentando-se assim do procedimento de infração por déficit excessivo e acionar a cláusula e possibilitar o aumento do gasto público com armamento dos atuais 1,57% do PIB (disfarçado de 2% com a aprovação da OTAN) para os 3,5% do PIB solicitados por Bruxelas e Washington já a partir do próximo ano. A meta de 3,5%, como observou o observatório Milex, é uma meta absurda, baseada no nível atual de gastos militares dos EUA. Diz respeito aos gastos militares tradicionais, ou seja, investimentos em armas, equipamentos, munições, custos operacionais, salários e pensões para o pessoal das forças armadas, gastos com missões internacionais e apoio militar à Ucrânia.
Para atingir os simbólicos 5% solicitados pelo gângster da Casa Branca, serão necessários 1,5% adicionais do PIB em gastos com a segurança nacional, ou seja, centrais elétricas e redes de telecomunicações terrestres e via satélite, infraestruturas estratégicas de mobilidade militar (ferrovias, estradas, pontes, portos e aeroportos), defesa de fronteiras, equipamentos e pessoal das forças de polícia militar, estruturas médicas contra ataques nucleares, químicos e bacteriológicos e outros itens de gastos a critério da vontade de gastar dinheiro, obviamente na pesquisa de "uso duplo": tecnologias que podem ser usadas para bombardear e para o "bem".
Entre os países que mais gastam em armas está a Polônia, liderando com quase 4% do PIB no ano passado, seguida pela Estônia, Letônia e Lituânia. Na contratendência estão Irlanda, Malta e Portugal, cujos orçamentos militares diminuíram em 2024. A Espanha decidiu limitar os gastos a 2%. A Itália terá que recorrer a novos recursos financeiros na ordem de euros 6 a 7 bilhões a cada ano por meio de medidas orçamentárias, durante dez anos. Segundo a Milex, isso se traduzirá em um compromisso cumulativo de gastos de quase euros 700 bilhões em dez anos. Em dez anos, os gastos militares anuais aumentarão dos atuais 35 bilhões de euros para mais de 100 bilhões de euros.
Em consonância com a ideia de que a política se faz com as armas, mantendo a subordinação militar e econômica europeia, a responsável pela política externa da UE, Kaja Kallas, afirmou que "todas as alavancas financeiras e políticas disponíveis estão sendo mobilizadas para apoiar os Estados-membros e as empresas europeias nesse esforço. A defesa hoje não é um luxo, mas um elemento fundamental para a proteção dos nossos cidadãos. Esta deve ser a era da defesa europeia. Não pararemos aqui."
Leia mais
- Em 2024, a União Europeia gastou impressionante 343 bilhões de euros em rearmamento
- O mundo está cada vez mais ávido por armas, as vendas aumentaram 6,8%
- Finanças e armas, um recorde de US$ 1 trilhão para apoiar a indústria militar
- O gasto militar mundial atinge um novo máximo com o aumento mais acentuado em 15 anos
- O mundo está se armando: os gastos militares crescem 7%
- Entenda a guinada histórica da Alemanha e dos europeus nos gastos bilionários com defesa
- Temendo serem abandonados pelos EUA, deputados alemães aprovam mais de € 1 trilhão para rearmar o país
- O rearmamento da Europa. Entrevista com Gianni Alioti
- Gastos militares e indústria dos armamentos na Europa e na Itália. Artigo de Carlo Rovelli
- As importações de armas na Europa cresceram 155% nos últimos quatro anos
- "Modo de guerra" se torna realidade na Europa com o retorno de Trump à Casa Branca
- Um grande grito contra o rearmamento europeu. Entrevista com Giovanni Ricchiuti
- Líderes da UE aprovam plano para “rearmar” bloco
- Rearmar a Europa. Artigo de Tonio Dell'Olio
- Mais tarifas, gastos militares e compras de energia: as chaves para a rendição da UE a Trump