22 Agosto 2025
A informação é de Asia News, publicada por Religión Digital, 21-08-2025.
Um apelo por "clareza moral", "responsabilidade" e uma "resposta" da Frente Judaica Ortodoxa, que se identifica com as vozes da maioria da sociedade israelense e se distancia de ONGs e rabinos ativistas que sempre criticaram as políticas governamentais, foi lançado ontem por 80 rabinos próximos ao mundo conservador e ortodoxo. Embora condenem o Hamas e não critiquem a guerra, eles pedem uma "resposta" à "crise humanitária" na Faixa de Gaza. Soma-se a isso a crítica aberta — outro elemento novo — à violência perpetrada por "colonos extremistas" na Cisjordânia, responsável pela "morte de civis" e que forçou "os habitantes de aldeias palestinas" a fugir, desestabilizando ainda mais a região do Oriente Médio.
Entre os que promoveram e assinaram o apelo está o rabino Yosef Blau, figura de destaque no Seminário Teológico Rabino Isaac Elchanan da Universidade Yeshiva, em Nova York, que recentemente se aposentou e se mudou para Israel. "Meu apoio a Israel e ao sionismo advém do meu compromisso com o judaísmo", afirma o líder religioso judeu, acrescentando que "a lealdade acrítica contradiz a introspecção", que é "fundamental para o judaísmo". "Quando a religião", alerta ele, "é usada para justificar o culto ao poder, ela distorce a moralidade fundamental".
Outros signatários incluem o diretor da Yeshivat Maale Gilboa, em Israel; os rabinos-chefes da Polônia, Dinamarca e Noruega; e o ex-rabino-chefe da Irlanda, David Rosen — uma voz judaica significativa no diálogo inter-religioso —, juntamente com rabinos seniores de importantes congregações ortodoxas em Los Angeles e Washington.
Os signatários vêm, em sua maioria, da ala liberal do movimento ortodoxo moderno, tradicionalmente mantendo posições moderadas. Os rabinos ortodoxos também lamentam a ascensão de vozes extremistas em Israel, o endurecimento dos sentimentos em relação aos palestinos e os surtos de violência dos colonos na Cisjordânia, embora usem o nome judaico para enfatizar sua conexão com a terra disputada.
Por sua vez, o governo israelense está estudando a resposta (favorável) do Hamas à proposta de cessar-fogo de 60 dias e à libertação de metade dos reféns ainda mantidos na Faixa de Gaza, embora uma fonte tenha reiterado que todos os prisioneiros israelenses devem ser libertados para o fim da guerra. Os esforços para interromper os combates ganharam novo impulso na semana passada, quando o Estado judaico anunciou planos para uma nova ofensiva para tomar o controle da Cidade de Gaza, no coração do enclave palestino.
Por fim, o Patriarcado Latino de Jerusalém declarou em um comunicado que está acompanhando de perto a "situação em rápida evolução em Gaza", especialmente à luz das notícias de uma "invasão iminente" pelo exército israelense. "Relatórios recebidos de nossa paróquia da Sagrada Família", prossegue o comunicado assinado pelo porta-voz, "indicam que vários bairros próximos ao complexo receberam ordens de evacuação. Nossos agentes no terreno testemunham que o som e o impacto do bombardeio estão se aproximando perigosamente do próprio complexo paroquial. O Cardeal Pierbattista Pizzaballa e todo o Patriarcado", conclui, "continuarão monitorando os acontecimentos no terreno e relatarão quaisquer novidades. Estamos com nossos irmãos em Gaza e rezamos pelo fim imediato desta guerra".
Um apelo à clareza moral, à responsabilidade e a uma resposta judaica ortodoxa à crise humanitária em Gaza.
A crise humanitária que se desenrola em Gaza é uma das mais graves da história recente. Embora tenha começado com o terrível ataque terrorista do Hamas contra Israel em 7 de outubro de 2023 — um ato brutal que, com razão, exigiu uma forte resposta militar e exigências pela libertação dos reféns —, isso não isenta o governo israelense de assumir sua parcela de responsabilidade pelo profundo sofrimento da população civil em Gaza.
As ações do Hamas têm demonstrado repetidamente um desrespeito cínico pelas vidas das pessoas que afirma representar, usando civis como escudos humanos e rejeitando propostas de cessar-fogo. No entanto, a prolongada campanha militar de Israel, que já se aproxima dos dois anos, devastou Gaza. O número de mortos está aumentando constantemente, com perdas de vidas muito significativas, e a restrição israelense à ajuda humanitária, que por vezes bloqueou completamente a entrada de alimentos e suprimentos médicos, levantou o espectro de uma fome iminente. Afirmamos que os pecados e crimes do Hamas não isentam o governo de Israel de sua obrigação de envidar todos os esforços para evitar a fome em massa.
Durante meses, Israel bloqueou comboios humanitários, partindo da premissa equivocada de que o aumento do sofrimento levaria à rendição do Hamas. Em vez disso, o resultado foi um aprofundamento do desespero. A justificada raiva contra o Hamas foi perigosamente amplificada por alguns extremistas, gerando desconfiança generalizada em relação a toda a população de Gaza, incluindo crianças, que são rotuladas como futuros terroristas. Enquanto isso, em Yehuda e Shomron (Judeia e Samaria, o nome hebraico para Cisjordânia, ed.), a violência de colonos extremistas causou a morte de civis e forçou os moradores palestinos a fugirem de suas casas, desestabilizando ainda mais a região.
Em meio a essa devastação, a falta de uma visão clara do pós-guerra por parte do primeiro-ministro [Benjamin] Netanyahu permitiu que as vozes mais extremistas do governo israelense, incluindo ministros da comunidade religiosa sionista, preenchessem o vácuo com propostas perturbadoras.
Isso inclui o exílio "voluntário" forçado de palestinos de Gaza e o sacrifício dos reféns israelenses restantes na busca por uma "vitória total" incerta.
Este momento exige uma voz diferente, fundamentada em nossos valores judaicos mais profundos e moldada por nossa história traumática como vítimas de perseguição.
Os judeus ortodoxos, entre os mais devotados apoiadores de Israel, têm uma responsabilidade moral única. Devemos afirmar que a visão judaica de justiça e compaixão se estende a todos os seres humanos. Nossa tradição ensina que cada pessoa é criada b'tzelem Elokim, à imagem de Deus. Somos descendentes espirituais de Abraão, escolhidos para seguir o caminho de Hashem, "para praticar a retidão e a justiça" (Gênesis 18:19). Permitir que um povo inteiro morra de fome é uma contradição absoluta a esse ensinamento.
Ao refletirmos sobre Tisha B'Av, as palavras de nossos profetas ressoam com renovada urgência. A Haftarah de Shabat Chazom nos lembra: “Sião será redimida pela justiça, e os que se arrependem, pela retidão” (Isaías 1,27). E na manhã de Tisha B'Av, a voz do profeta Jeremias ressoa em nossas orações: “Que os sábios não se gloriem de sua sabedoria... mas disto: que têm entendimento e me conhecem. Pois eu sou o Senhor, que pratico a fidelidade, a justiça e o direito na terra; pois destas coisas me agrado” (Jeremias 9,23).
Estas não são apenas frases poéticas. São o fundamento da nossa obrigação ética: exigir políticas que defendam a dignidade humana, fornecer ajuda humanitária sempre que possível e denunciar abertamente quando as ações do nosso governo contradizem os preceitos morais da Torá, por mais doloroso que seja aceitar.
O futuro de Israel depende não apenas de sua força militar, mas também de sua clareza moral. Façamos ouvir nossas vozes por justiça, retidão e paz para todos os povos, mesmo e especialmente nos momentos mais difíceis.
Lista de signatários:
Rabino Yosef Blau
Rabino David Bigman
Rabino-chefe Michael Schudrich
Rabino-chefe Michael Melchior
Rabino Chefe Jair Melchior
Rabino Joav Melchior
Rabino-chefe David Rosen (antigo CR)
Rabino Dr. Shmuly Yanklowitz
Rabino Dr. Yitz Greenberg
Rabino Hyim Shafner
Rabino Daniel Landes
Rabino Herzl Hefter
Rabino Shua Mermelstein
Rabino Yoni Zolty
Rabbanit Mindy Schwartz Zolty
Rabino Frederick L Klein
Rabino Yosef Kanefsky
Rabino Michael Whitman
Rabino Dr. Jeremiah Unterman
Rabino Barry Dolinger
Rabino David Silber
Rabino Yonatan Neril
Rabino Ysoscher Katz
Rabino Isaac Landes
Rabino David Polsky
Rabino Baruch Plotkin
Rabino Mikey Stein
Rabino Elliot Kaplowitz
Rabino Ariel Goldberg
Rabino Ben Birkeland
Rabino Ralph Genende
Rabino David Glicksman
Rabino Dr. Donniel Hartman
Rabino Dr. Martin Lockshin
Rabino Dr. Pinchas Giller
Rabino Avidan Freedman
Rabino Daniel Raphael Silverstein
Rabino Dr. Shalom Schlagman
Rabino Dr. Daniel Ross Goodman
Rabino Aaron Levy
Rabino Chaim Seidler-Feller
Rabino Dr. Mel Gottlieb
Rabino Dr. Joshua Feigelson
Rabino Jonah Winer
Rabino Dr. Michael Chernick
Rabino Dr. Eugene Korn
Rabino Hanan Schlesinger
Rabino Elhanan Miller
Rabino Joel Hecker
Rabino Michael Gordan
R. Sofia Freudenstein
Rabino David Levin-Kruss
Rabbanit Myriam Ackermann-Sommer
Raba Ramie Smith
R. Shayna Abramson
Rabino Zachary Truboff
Rabino David A. Schwartz
Rabino David Jaffe
Rabino Steve Greenberg
Rabino Gabriel Kretzmer Seed
Rabbanit Rachel Keren
Rabino Benyamin Vineburg
Rabino Dr. Lindsey Taylor-Guthartz
Rabbanit Leah Sarna
Rabina Dra. Wendy Zierler
Rabbanit Sarah Segal-Katz
Rabino Shimon Brand
Rabba Melissa Scholten-Gutierrez
R. Emily Goldberg Winer
R. Dra. Erin Leib Smokler
Raba Adina Roth
R. Dr. Meesh Hammer-Kossoy
Rabino Drew Kaplan
Rabina Dina Nachman
Rabino Emile Ackermann
Rabino Daniel Geretz
Rabbanit Sarah Segal-Katz
Rabbanit Tali Schaum Broder
Rabino Max Davis
Rabino Tyson Herberger
Raba Aliza Libman Baronofsky