04 Agosto 2025
No Velho Continente não há escudos capazes de deter os Oreshniks destacados pelo Kremlin na Bielorrússia.
A reportagem é de Gianluca Di Feo, publicada por La Repubblica, 03-08-2025.
Trump envia submarinos "para mais perto da Rússia"; Putin implanta supermísseis Oreshnik na Bielorrússia. Como num jogo mortal de Risco, os dois líderes movem dispositivos apocalípticos, e a transição da retórica nuclear para movimentos operacionais começa: das palavras à ação, varrendo os cânones de dissuasão definidos durante a Guerra Fria, em um clima de resignação coletiva diante de uma nova corrida armamentista de destruição em massa.
A implantação do míssil Oreshnik na Bielorrússia foi anunciada pelo presidente russo durante uma reunião com o autarca de Minsk, Lukashenko. Trata-se de uma nova versão de um míssil balístico projetado no início dos anos 2000, cujo nome significa "avelã" porque o cone de ogiva com seis ogivas se assemelha a um cacho dessas frutas. A presença de inúmeras armas caindo sobre diferentes alvos ao longo de trajetórias imprevisíveis, bem como sua velocidade superior a 10 mil quilômetros por hora, tornam sua interceptação extremamente difícil. Atualmente, a Europa não possui escudos capazes de detê-lo; apenas Israel e os Estados Unidos possuem sistemas que poderiam destruí-lo fora da atmosfera, antes que as ogivas autônomas se separem.
Putin afirmou que a produção em série está em andamento, que uma base para sua implantação foi identificada na Bielorrússia e que os problemas técnicos envolvidos na entrega ao seu aliado serão resolvidos até o fim do ano. Ele não especificou se serão armados com ogivas explosivas nucleares ou convencionais, descrevendo ambos os modelos em termos gerais. Há um mês, porém, Lukashenko já havia falado sobre a chegada desses dispositivos, especificando que não seriam nucleares: notícia que foi recebida com ceticismo. Na realidade, uma unidade de forças especiais de Minsk já teria começado o treinamento para usá-los, e o local de sua implantação também foi definido: a região de Gomel, na fronteira com a Ucrânia e a algumas centenas de quilômetros de Kiev.
Essa posição leva a considerar a transferência dos Oreshniks não uma resposta aos submarinos de Trump, mas sim uma ameaça à possibilidade de mísseis ocidentais de longo alcance serem entregues à Ucrânia. O poder destrutivo dessa arma foi demonstrado no ataque de 21 de novembro contra a zona industrial de Dnipro, com imagens apocalípticas: o sigilo militar impediu a quantificação dos danos, e espalhou-se a crença de que se tratava apenas de uma demonstração, com múltiplas ogivas, mas não explosivas.
Há um ano, a Bielorrússia já possui cargas nucleares para mísseis táticos Iskander e bombas transportadas por jatos Sukhoi 25, ambos com alcance inferior a 500 quilômetros. O Oreshnik, por outro lado, pode atingir a uma distância de 5 mil quilômetros, lançando uma chuva de ogivas — nucleares ou TNT — sobre todas as capitais europeias, incluindo Londres.
A militarização da Bielorrússia está gerando preocupações entre os países da região, todos membros da OTAN: os governos polonês, báltico e escandinavo temem ser submetidos à chantagem russa com mísseis, sem meios de reagir ou se defender. Ninguém confia nos Estados Unidos de Donald Trump e, por enquanto, só há uma alternativa: o guarda-chuva nuclear francês. Em abril, caças-bombardeiros Rafale dos esquadrões nucleares de Paris realizaram um exercício na Suécia: o primeiro do tipo. Um mês depois, foi assinado o tratado entre a França e a Polônia, que prevê assistência mútua em caso de ataque: o presidente Macron enfatizou que esse apoio "inclui todos os componentes militares", e o primeiro-ministro Tusk confirmou que a questão da defesa nuclear também foi discutida.
Finalmente, em 10 de julho, Londres e Paris anunciaram o fortalecimento da cooperação em mísseis, inclusive em termos de dissuasão nuclear: são as únicas nações europeias com um arsenal independente de ogivas. O Pentágono também está mudando sua postura e — com base em uma ordem do governo Biden — devolveu recentemente à Inglaterra as bombas que retirou na década de 1990. Todos esses são sinais concretos de como a tensão está aumentando em nosso continente.