24 Julho 2025
Os líderes dos bispos angolanos consideram haver “um declínio nos padrões éticos” e “injustiças sociais crescentes” em Angola, problemas que atribuem ao sistema de governação daquele país africano.
A reportagem é publicada por 7Margens, 21-07-2025.
A denúncia surge nas conclusões da reunião do conselho permanente da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé e Príncipe (Ceast), que decorreu em Luanda na última semana e foram apresentadas na última sexta-feira, 18 de julho. “Os valores da liberdade estão a ser corroídos por restrições à liberdade de expressão e pela instrumentalização dos media públicos, que suprimem a pluralidade e [original] o silêncio de vozes dissidentes”, diz o comunicado.
Estes responsáveis católicos mostram-se preocupados com a “exclusão sistemática e deliberada de angolanos dos processos de tomada de decisão”, que, segundo eles, enfraquece a democracia. A centralização da governança “mata a iniciativa privada, sufoca a criatividade e a proatividade, essenciais para o progresso”, acrescentam.
Outros aspetos lamentados e criticados nas conclusões da reunião e relatados pela agência ACI Africa referem-se a “divisões persistentes decorrentes de conflitos históricos”, que eles dizem “continuarem a alimentar animosidades entre os cidadãos”, assim como a “desigualdades chocantes” entre muitos que não têm o mínimo necessário a uma vida digna ao lado de alguns que têm um “excesso desnecessário”.
A propósito das celebrações dos 50 anos da independência, que ocorrem em novembro próximo, os bispos da Ceast reconhecem os sacrifícios de muitos que contribuíram para a libertação da nação do sul da África. Consideram, porém, que, “para uma verdadeira reconciliação nacional, é indispensável reconhecer todos os pais fundadores da nação – Holden Roberto, Agostinho Neto e Jonas Savimbi – não diminuindo qualquer um deles”. “A verdadeira unidade exige que toda a Angola seja bem-vinda no espaço ideal da memória coletiva e do perdão”.
Os líderes da Igreja Católica dizem-se confiantes no potencial de renovação de Angola, que passará por uma vida cívica pautada por comportamentos íntegros em todos os setores e por uma maior participação dos jovens. “Estes ainda são momentos de esperança”, afirmam.
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