14 Julho 2025
A empresa canadense The Metals Company (TMC), com apoio do governo dos EUA, se prepara para iniciar a 1ª operação comercial de mineração em águas profundas internacionais, ignorando as negociações que vêm sendo conduzidas pela Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos (ISA), no âmbito da ONU. Deutsche Welle, Mongabay, Folha e g1 repercutiram a notícia.
A reportagem é publicada por ClimaInfo, 13-07-2025.
Uma ordem executiva assinada em abril passado pelo presidente Donald Trump deu sinal verde para o empreendimento, sob a justificativa de que a exploração em alto mar pode facilitar o acesso a novas reservas de minerais como cobalto e níquel, considerados estratégicos para baterias de veículos elétricos e para a segurança nacional.
A Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA), na sigla em inglês, avalia o pedido da TMC, que, se aprovado, permitiria o início das atividades em seis meses – mesmo sem regulamentação global pela ISA. A TMC é liderada por Gerrard Barron, ex-investidor da Nautilus Minerals, empresa sob falência após tentar extrair metais no mar da Papua-Nova Guiné, deixando prejuízos de US$120 milhões ao país, no sudoeste do Pacífico. Barron saiu do negócio com lucro de US$ 30 milhões. Agora, a TMC adquiriu subsidiárias em nações insulares do Pacífico (Nauru, Tonga e Kiribati) para contornar regras internacionais, focando na Zona Clarion-Clipperton, rica em nódulos polimetálicos.
Com a resistência de países europeus e a falta de regulamentação da ISA, a TMC mudou sua abordagem, pressionando autoridades dos EUA. Como argumento, a empresa julga a atividade mineradora como redutora da dependência da China no mercado de minerais de terras raras. Após a ordem de Trump, as ações da empresa subiram 740%. Barron declarou que a eleição do atual mandatário norte-americano foi uma “ótima notícia” para a empresa.
Especialistas contestam a necessidade da mineração oceânica: baterias modernas já usam menos cobalto e níquel, e a reciclagem poderia suprir até 50% da demanda por cobalto até 2040, segundo dados da Agência Internacional de Energia (IEA), na sigla em inglês. Além disso, testes de mineração nos anos 1980 mostraram que ecossistemas do fundo do mar não se recuperaram décadas depois. Biólogos alertam para o fato da atividade poder causar danos irreversíveis a habitats microbiais essenciais.
Sob esse pano de fundo, a ISA abriu no último dia 7 sua 30ª sessão de negociação na cidade de Kingston (Jamaica). A secretária-executiva do órgão, a brasileira Letícia Carvalho, reiterou a urgência dos países avançarem com a regulamentação da mineração em alto mar para evitar um cenário de “Velho Oeste”, sem qualquer regra.
Enquanto isso, o Chile trabalha para avançar com a proposta de moratória internacional da exploração mineral no fundo do mar junto à ISA. Apesar do crescente apoio à pausa preventiva – com 37 países favoráveis, incluindo o Brasil –, o bloco ainda não alcança maioria entre os 169 membros da organização.
Em tempo
Em meio à paralisia das discussões internacionais sobre o aumento de ambição dos compromissos climáticos sob o Acordo de Paris, pequenas nações insulares como Vanuatu, Fiji e Barbados depositam esperanças em uma opinião consultiva da Corte Internacional de Justiça (CIJ), marcada para 23 de julho. A opinião deve esclarecer as obrigações legais dos países na proteção do clima e as consequências por danos causados. A iniciativa, liderada por Vanuatu e apoiada por 132 nações na ONU, busca pressionar por ações concretas diante da insuficiência das metas atuais do Acordo de Paris, o que pode levar o planeta a um aquecimento de até 3,1°C, ameaçando a existência de pequenos Estados insulares. Embora a decisão não seja vinculante, especialistas acreditam que ela possa acelerar debates sobre perdas e danos e influenciar a COP30, em Belém.
O Globo e Valor deram a notícia.
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