16 Mai 2025
No âmbito do Serviço Nacional de Tutela de Menores (SNTM) da Conferência Episcopal Italiana (CEI), foi publicado em abril um subsídio intitulado Abuso espiritual: elementos de reconhecimento e contexto (disponível em CEI). O texto se soma a muitos outros instrumentos e iniciativas que os bispos têm dedicado ao problema.
A informação é de Lorenzo Prezzi, publicada por Settimanna News, 16-05-2025.
Além das Diretrizes, formuladas em 2014 e reiteradas em 2019 e 2023, vale destacar os dois relatórios sobre abusos – que foram criticados em alguns aspectos –, as inúmeras iniciativas voltadas a seminários, escolas, paróquias e educadores, bem como as atividades a esse respeito promovidas pelas 226 dioceses individualmente. Podemos acrescentar o “dia nacional” dedicado às vítimas e todas as atividades paralelas, como no caso da vida religiosa masculina e feminina.
A reflexão proposta nos subsídios e indicações do Serviço Nacional é muitas vezes mais coerente e corajosa do que as práticas concretas registradas no campo.
No caso do texto em análise, fruto de um grupo de estudo que envolveu cerca de vinte pessoas ao longo de vários anos, o abuso de consciência é descrito como a atividade manipuladora pela qual uma pessoa entra na esfera da consciência de outra a ponto de condicionar e anular sua liberdade de julgamento e escolha.
"O abuso espiritual é uma forma particular de abuso de consciência que se concretiza na violação da dignidade, da liberdade e da integridade da pessoa em sua autodeterminação religiosa e espiritual. Esse abuso é o mais invasivo da privacidade de uma pessoa, pois se realiza com referência à relação com Deus, à vida de fé e espiritualidade, através de um exercício distorcido do poder e da autoridade pessoal, religiosa e institucional."
"O abuso espiritual se caracteriza como uma sequência de atos intencionais e manipuladores perpetrados em nome de Deus e configura-se como uma forma de violência praticada por um líder espiritual ou por diversas pessoas (guias espirituais, confessores, catequistas, educadores, agentes pastorais...) ou por uma comunidade (movimento, associação...), seja em relação a um indivíduo, seja em relação a um grupo ou a uma comunidade inteira."
É importante destacar que, no contexto eclesial, o abuso tem sempre um caráter espiritual e se concretiza por meio de chantagem emocional, exploração e controle da liberdade individual ou coletiva. Muitas vezes, esconde-se em visões teológicas irrelevantes ou interpretações fundamentalistas das Escrituras. Isso resulta numa concepção distorcida de autoridade que afeta especialmente pessoas que desejam crescer em sua vida espiritual. Aqueles que enfrentam luto, abandono, fracasso ou doença estão mais expostos.
As feridas causadas pelo abuso espiritual são muito profundas e se manifestam em colapso da autoestima, dependência, desorientação, sensação de medo, culpa e confusão sobre a própria identidade.
Particularmente devastadora é a ruptura de vínculos familiares, do grupo de referência e a interrupção do percurso educativo. Fenômenos que envenenam a imagem de Deus, colocam em questão a pertença à Igreja e, por vezes, levam ao abandono da fé.
O abusador é muitas vezes uma figura carismática que cria grupos exclusivos ao seu redor e altamente críticos da instituição eclesial. Essa figura carismática elimina progressivamente o espaço vital da liberdade interior dos membros, torna-se uma autoridade indiscutível sobre suas vidas, cria sua própria linguagem e impede qualquer formação externa dentro do grupo. Tende a substituir Deus.
Tudo isso requer um contexto comunitário, social e institucional no qual possa se desenvolver: um “contexto sistêmico”.
"O conceito de 'sistema' entendido em sentido eclesial inclui a missão, as normas e as estruturas necessárias para realizar o mandato originário da Igreja e garantir sua continuidade. Todos os elementos do sistema, se usados de maneira distorcida, contribuem direta ou indiretamente para permitir, encorajar e encobrir abusos em seu interior."
Acontece que a obediência a Deus é substituída pela obediência ao superior, e a imagem da autoridade e da Igreja é considerada mais importante do que as feridas das vítimas.
"A visão sistêmica é, portanto, essencial para compreender as responsabilidades do indivíduo, da comunidade e da própria Igreja. O agressor consegue cometer o crime e muitas vezes permanece impune quando o sistema opera de forma distorcida, oferecendo uma cobertura dentro da qual o agressor atua sem ser incomodado, graças à cumplicidade dos superiores eclesiásticos (bispos, membros da cúria, superiores, funcionários, pessoas social e economicamente influentes)."
Acaba-se por sacralizar o líder, aceitando acriticamente suas decisões, seu convite ao sigilo, a ruptura de relações com os “desertores”. Constrói-se uma coesão fictícia e compartilhada que impede a crítica interna e o reconhecimento de erros, levando muitos que, mesmo sabendo, não ousam falar. Cria-se uma cultura do silêncio e da negação.
No contexto dos abusos, é útil recordar as sombras estruturais que ainda permanecem no seio da Igreja. O secretário da Pontifícia Comissão para a Tutela dos Menores, Pe. Luis Manuel Ali Herrera, falou sobre isso em um discurso aos grupos de trabalho para a proteção de menores na Polônia (13-05-2025).
Ele pediu maior esforço para derrubar barreiras culturais e destacou que as vítimas ainda não estão no centro das atenções. Denunciou a persistência de um tabu secular que identifica a autoridade espiritual como uma emanação direta de Deus, resultando em silêncio diante dos crimes. Há também certa lentidão nos processos, arquivos opacos e uma comunicação vaga. Ainda não está claro, por exemplo, como definir um adulto vulnerável no caso de jovens em formação. Por fim, apontou deficiências operacionais que condenam os órgãos de proteção de menores a existirem apenas no papel, sem recursos e capacitação adequados.
O crescimento progressivo da consciência eclesial sobre o abuso ainda tem um longo caminho a percorrer.