27 Agosto 2024
"Completamente ignorados ou resolvidos muito rapidamente são alguns elementos que teriam alimentado o conhecimento [do caso de Carlo Maria Viganò]. Como, por exemplo, o silêncio sobre seu local de residência (Suíça, EUA, Viterbo...?). Motivado pela afirmação de uma possível situação de perigo de vida, o segredo receberia luz a partir dos eventos envolvendo o cardeal Pell e o núncio apostólico Sambi", escreve Lorenzo Prezzi, teólogo italiano e padre dehoniano, em artigo publicado por Settimana News, 23-08-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
Carlo Maria Viganò, intrépido defensor de si mesmo, bispo excomungado (04-07-2024) e censor apocalíptico, em 20 de agosto concedeu uma longa entrevista a Franca Giansoldati do Messaggero. As verborrágicas respostas não acrescentam muito ao que já se sabe. Mais interessantes são os “desvios” e os silêncios.
Nada de novo nas memórias de sua atividade na Secretaria de Estado e no Governatorato, na denúncia dos delitos do ex-cardeal McCarrick, agora secularizado, nas injustiças sofridas (perda do apartamento), na excomunhão “inválida e nula”.
O ponto central é a denúncia de um poder supranacional e maçônico que dobra os povos à vontade de Satanás, mas acima de tudo à ocupação da Igreja Católica pelo Anticristo no Vaticano II e no papado de Francisco. A Igreja “é refém de uma cúpula subversiva de corruptos e pervertidos”.
Surpreendente é a longa resposta sobre o caso dos abusos do Pe. Giuseppe Rugolo e dos encobrimentos censuráveis de seu bispo, Dom Rosario Gisana, em que o Papa Francisco também está envolvido por alguns comentários questionáveis. O caso foi amplamente contado no podcast de Feltri, Tourn e Meletti (La confessione), mas tem muito pouco a ver com os eventos de Viganò. É apenas um elemento instrumental para atacar Francisco e seus “comprometimentos” quando os abusos afetam pessoas próximas a ele.
Completamente ignorados ou resolvidos muito rapidamente são alguns elementos que teriam alimentado o conhecimento de seu caso. Como, por exemplo, o silêncio sobre seu local de residência (Suíça, EUA, Viterbo...?). Motivado pela afirmação de uma possível situação de perigo de vida, o segredo receberia luz a partir dos eventos envolvendo o cardeal Pell e o núncio apostólico Sambi. Ambos, mortos em seus leitos (o último após uma operação em Baltimore, EUA), não se prestam a esclarecer o mistério. Até mesmo a reiterada afirmação da legitimidade e da preciosidade da figura de Lefebvre, o fundador da Fraternidade Sacerdotal São Pio X, abre o questionamento sobre o porquê dos lefebvrianos não o defenderem e não o acolherem. O que emergiria é a distância sobre o sedevacantismo (ausência de um papa legítimo) que isola Viganò no reduzido e litigiosos segmento tradicionalista. A esse respeito, podem ser úteis as intervenções de Luisella Scrosati, em La bussola quotidiana, jornal digital de viés intransigente e às vezes agressivo em relação aos bispos mais “conciliares”.
O caso de sua condenação judicial em sede civil referente a uma herança que penalizou o irmão padre também não resulta claro. Por fim, como combinar a denúncia sulfurosa contra os poderes internacionais com a servil homenagem ao então presidente dos EUA, Trump, e depois, sem solução de continuidade, ao beligerante Putin?
Na realidade, a continuidade da narrativa é dada pela amplitude dos insultos. Primeiro, em relação aos atores coadjuvantes: o cardeal Bertone é um maçom, o cardeal Laiolo é um cúmplice, o cardeal Sandri é um fraco, o cardeal Fernandez é um pornógrafo e assim por diante. Para o Papa Francisco, há uma avalanche: arrogante, insolente, inimicus Ecclesiae, inescrupuloso, caluniador, vil, falso profeta, etc.
Infelizmente, estamos acostumados aos “leões de teclado” e sua incapacidade de dar o devido peso às palavras. Além de não ter residência, o bispo também parece ter perdido todo critério.