24 Julho 2024
"O prior de Tibhirine pergunta se há um lugar para o Islã no plano de Deus e como fazer com que convivam cristãos e muçulmanos, destacando os aspectos em comum e, ao mesmo tempo, respeitando as diferenças", escreve Roberto Righetto, jornalista, em artigo publicado por Avvenire, 19-07-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
"Desarme-me, desarme-os!" é a oração dirigida a Deus por Christian de Chergé, prior de Tibhirine, na noite de 24 de dezembro de 1993. Um grito que representa bem sua figura e sua obra. A comunidade de monges cistercienses no Atlas argelino acabara de ser visitada pelo Emir Sayah Attiyah e seu bando armado, culpados nos dias anteriores de ter assassinado doze trabalhadores croatas apenas por serem ocidentais, não muito longe do mosteiro. Agora eles estavam procurando um médico, o Irmão Luc, muito conhecido na região por sua atividade de caridade para com toda a população, e estavam decididos a levá-lo. Mas o padre Christian se opôs com estas palavras: "Estamos nos preparando para celebrar o Natal, para nós é o nascimento do príncipe da paz". O emir não insistiu e foi embora com seus homens. Naquele momento, a oração brotou no coração de Christian. Não só, ele decidiu enviar uma carta a Attiyah, falando com ele "de homem para homem, de crente para crente".
Sem saber se sua carta havia chegado até ele, pois pouco depois o emir foi morto. Aquela de Chergé é a aceitação completa de seu destino, tanto que ele poderá se dirigir, em seu testamento, àquele que lhe tirou a vida como "o amigo de última hora". O que realmente aconteceu: sete monges de Tibhirine foram sequestrados pelo Grupo Islâmico armado em 1996 e massacrados dois meses depois. Eram anos dramáticos na Argélia, com uma guerra civil que eclodiu em 1989 entre o regime dos generais e os fundamentalistas islâmicos. Anos em que muitos cristãos foram vítimas indefesas do conflito: entre eles, quatro padres brancos de Tizi Ouzoue em 1994, várias freiras e até mesmo o bispo de Oran, Pierre Claverie, que morreu com seu motorista, Mohammed Bouchikhi, na explosão de um carro-bomba em 1996. Dezenove deles foram beatificados em 2018. Um belo filme de Xavier Beauvois, Homens de Deus, lançado na França em 2010 e celebrado em todo o mundo, foi dedicado à história dos monges trapistas de Tibhirine.
Agora, a editora Queriniana está lançando o livro Christian de Chergé. Uma teologia da esperança, de Christian Salenson (páginas 286, 32,00 euros), com prefácio do arcebispo de Marselha, Jean-Marc Aveline, que entra imediatamente no mérito, perguntando-se: as intuições espirituais do padre Christian, "amadurecidas em sua experiência de vida monástica em um contexto muçulmano, podem ter uma fecundidade propriamente teológica?". A resposta do cardeal é claramente positiva, em vista de um diálogo entre as religiões que muitas vezes parece entrar em um impasse. Depois das aberturas extraordinárias do Concílio e do pontificado de João Paulo II, com seus numerosos encontros com judeus, muçulmanos e outros, cujo exemplo mais famoso foi o Encontro Inter-religioso para a Paz de Assis de 1986, realizado em um clima de "choque de civilizações" após a Guerra do Golfo de 1991, também agora a situação política mundial não parece favorecer o confronto entre as religiões. "Os tempos mudaram? – pergunta-se Salenson- hoje se assiste a uma preocupante retomada do antissemitismo, e uma dose um tanto cínica de islamofobia pode garantir um bom sucesso nas livrarias.
Alguns defensores de uma laicidade antirreligiosa constroem seu sucesso no anticristianismo e no anti-Islã". A referência, já que a edição francesa do livro é anterior a 7 de outubro, era aos livros de Onfray e Houellebecq.
Mas o autor admite que, com relação ao diálogo inter-religioso, também "na igreja, o risco mais difundido é o da prudência eclesiástica". É por isso que ele convida a se aproximar do olhar perspicaz de Christian de Chergé, alicerçado na teologia da oração, do encontro e da esperança e fundamentado na escatologia. O prior de Tibhirine pergunta se há um lugar para o Islã no plano de Deus e como fazer com que convivam cristãos e muçulmanos, destacando os aspectos em comum e, ao mesmo tempo, respeitando as diferenças. Salenson conclui apresentando sua hipótese "de que apenas uma teologia do encontro das religiões que aceita que seu centro de gravidade se encontra em um pensamento escatológico pode ter a pretensão de honrar tanto o pluralismo religioso quanto a fidelidade ao mistério de Cristo". E, a esse respeito, não pode deixar de citar outra passagem do testamento do prior de Tibhirine: "Se Deus quiser, poderei mergulhar meu olhar naquele do Pai para contemplar com ele seus filhos do Islã como ele os vê, totalmente iluminados pela glória de Cristo".