08 Mai 2024
"As últimas palavras de Cristo crucificado segundo o Evangelho de Lucas são: “Pai, nas tuas mãos entrego o meu Espírito” (23,46). O calor das mãos de quem te ama é o refúgio sereno da alma", escreve o cardeal italiano Gianfranco Ravasi, em artigo publicado em Il Sole 24 Ore, 06-05-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eis o artigo.
Me dê suas mãos de preocupação / Me dê as mãos que eu sonhei / Eu sonhei muito sozinho / Dê-me suas mãos para que eu possa ser salvo... / Cale a boca do mundo por um momento / Dê-me suas mãos para que minha alma adormeça lá / Para minha alma adormecer ali por toda a eternidade.
A mão pode esbofetear e acariciar, se fecha e se abre como as asas de um pássaro para voar, seu toque pode curar feridas internas, assim como é o instrumento mais ágil na medicina e no esporte. Claro, se manipula, se adultera, se manobra, mas há também o operário que constrói e o manuscrito que cristaliza pensamentos e emoções pessoais.
As últimas palavras de Cristo crucificado segundo o Evangelho de Lucas são: “Pai, nas tuas mãos entrego o meu Espírito” (23,46). O calor das mãos de quem te ama é o refúgio sereno da alma. Isso é exatamente o que expressa o escritor francês Louis Aragon, falecido em 1982, com os versos que tiramos de uma de suas obras de título emblemático, Le mani di Elsa, assim como havia composto um texto dedicado aos olhos de Elsa, outro sinal físico capital.
Elsa Triolet, uma escritora russa, era a esposa amada desse autor surrealista que não hesitou, no entanto, em seguir o caminho da resistência e da política contra os nazistas. Agora, no entanto, ele apela para uma virtude que está desaparecendo nos nossos dias informatizados e apressados, a ternura. Os verdadeiros apaixonados se olham nos olhos em silêncio e seguram as mãos com frêmitos cheios de intimidade e doçura.
Aragão, além disso, evoca intensamente a fronteira última da vida. É muito diferente vivenciar aquele ato extremo e solitário no isolamento total, talvez num hospital, ou ter uma mão amada que segura a tua alma para que “ali adormeça por toda a eternidade”.
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#as mãos. Artigo de Gianfranco Ravasi - Instituto Humanitas Unisinos - IHU